Publicado em 03/10/2017, às 15h58 - Atualizado às 16h35 por Lô Carvalho
Quando minha filha mais velha nasceu, há 17 anos, pouquíssimas livrarias em São Paulo estavam preparadas para receber a criança pequena e um número menor ainda, o bebê e sua família. Havia algumas poucas lojas, mais interessantes pelo acervo de livros infantis que disponibilizavam aos consumidores do que propriamente pelo espaço de leitura que ofereciam à criança pequena e seus familiares.
Pouco a pouco isso foi mudando. Surgiram grandes livrarias, dentre elas a FNAC (com seu padrão internacional); algumas redes como a Livraria da Vila e a Cultura migraram para os shoppings e começaram a reservar um espaço especial para as crianças; a Saraiva virou a megastore que conhecemos hoje; outras livrarias, algumas delas já extintas, procuraram criar uma área só para as crianças, geralmente próxima ao café e às bancadas de lançamentos para adultos.
A moda, naquela ocasião, era colocar nestes espaços infantis muitos brinquedos e computadores – os joguinhos para PC eram o “must” para a criançada. Os livros, porém, continuavam perdidos em estantes geralmente dispostas no fundo dessas áreas especiais… Pareciam até meio envergonhados de estarem ali. Lembro-me de ver meu marido passar horas acompanhando a Bibi, então com um pouco mais de 14 meses, no escorregador! Eu, é claro, me perdia entre os livros. Mas todos saíamos satisfeitos da livraria: meu bebê por ter se movimentado; meu marido pelo cafezinho e pelo jornal; e eu com alguns livros para mim e outros tantos mais para o meu bebê leitor.
A ida às livrarias era um programa em família. E ainda é. Um programa que acredito ser fundamental na formação do leitor. É nas livrarias que temos a oportunidade de encontrar uma grande variedade de livros e nos deliciarmos com ela. É lá que nos deparamos com nossos livros e autores preferidos mas também podemos tropeçar naqueles que não conhecemos e, por que não, nos apaixonarmos por algo novo.
É na livraria que encontramos outros leitores, com experiências e opiniões semelhantes ou diferentes das nossas. É na livraria que podemos saltar entre um título e outro; entre um gênero e outro; pegar um livro e abandoná-lo por uma revista, encontrar outro livro e levar todos eles para casa. Tudo isso sem culpa. Sem ninguém olhando feio. Sem ninguém julgando. Nas livrarias, somos consumidores e isso nos dá um poder incrível. Podemos correr o risco de acertar (ou errar). Eu amo as bibliotecas. Minha família frequenta bibliotecas. Mas é justamente nas livrarias que nos realizamos como leitores plenos: somos seduzidos pelos livros, desejamos tê-los e queremos lê-los.
Esse desejo – em minha opinião como mãe, autora, editora e educadora – é o primeiro passo rumo à leitura. Uma leitura que necessariamente terá sucesso, por que simplesmente a gente quis aquele livro. Na livraria acontece a formação do olhar para os livros; a relação táctil com eles; as cores, os cheiros dos diferentes tipos de papel, as texturas da impressão, os formatos dos livros. Lá, podemos começar a desenvolver o sentimento de pertencer a uma comunidade de leitores. Não somos os únicos, não estamos sozinhos. Por isso faço uma defesa das livrarias e as recomendo como um passeio obrigatório para toda a família, não importa nem mesmo se alguns de casa nem goste de ler tanto assim…
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