Publicado em 11/04/2024, às 14h16 por Beto Bigatti
Já pensou o quanto estamos aprendendo com nossos filhos? Arrisco um palpite: nossa geração de pais é a que mais aprende com seus rebentos. Basta se permitir para aprender. Desde pitocos, já recebemos lições. Seja com o olhar nos indicando o que esperam de nós, seja com o choro ou a gargalhada em resposta a algum estímulo nosso.
Quando crescem, a coisa muda de figura. Você já reparou nas conversas que crianças de hoje em dia têm com seus pais? É de cair o queixo. Que lindo ver os padrões se alargarem. As verdades de uma bolha deixarem de ser absolutas.
Que fique claro: o que é certo é certo, e o que é errado é errado para todas as gerações. Porém, a fronteira do desconhecido não os assusta mais como uma vez. Hoje é até estranho não ser “diferente”. Afinal quem é igual, pai? Este é o olhar que me faz ter tanta fé na gurizada.
Dia desses, fui convidado pelos colegas do meu caçula para ir à Escola e conversarmos sobre as diferenças. Sabia que seria potente, mas, confesso, não imaginava tamanha sabedoria e, principalmente, generosidade daquelas crianças de 10 anos. A pauta era as infinitas formas que um corpo poderia ter. As tais diferenças que, depois, classifiquei para eles como um mundo de multicorpos.
Com ou sem deficiência, mas iguais justamente na diferença. Eu estava ali por ser uma pessoa com deficiência e ouvi deles falas que acarinharam meu coração com suavidade e leveza. Senti-me um privilegiado. Meu filho me indicou para ser escutado por sua turma justamente por algo que já julguei ser uma falha. Hoje, vi naqueles olhos curiosos, era motivo de orgulho. Um filho só chama seu pai para falar aos colegas se o admira.
Mas falemos deles. Fui para “ensinar” sobre anti-capacitismo. Saí letrado em generosidade. Basta abrir os olhos e escutar com verdade para aprendermos. Não sei explicar de onde brota a sabedoria da criançada, mas desconfio que seja do coração. O que estraga o adulto é o preconceito. O padrão engessa, emburrece. Passamos a julgar porque, ignorantes, o diferente assusta.
Criança é bom porque não se paralisa por tão pouco. O medo da criança brilha na forma de curiosidade. Nossa, quantas perguntas! Uma melhor do que a outra. Todas feitas com o coração. Zero preconceito.
Sortudos os pais destas crianças. E de todos os pais que se permitem aprender sem criticar. Escutam seus filhos e trocam experiências. O que é receio para nós, é naturalidade para eles. O colega com autismo, a ascensorista com nanismo, o pai sem a mão, o branco, o preto, o gordo e o magro. Para eles: pessoas. Os rótulos ficam do lado de fora. Se é verdade que educamos pelo exemplo, posso afirmar que os filhos nos educam pelo coração.
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