Publicado em 19/09/2018, às 08h59 por Ana Guedes
Dos poderes secretos empoeirados.
Homens caçavam.
Mulheres alimentavam a prole.
O ato de estar perto do fogo provendo o valor afetivo que nutre o alimento é do sagrado feminino.
Mulheres que aprenderam a cozinhar com suas mães, com suas avós.
Mulheres que aprenderam sozinhas a primeira papinha do bebê.
O primeiro jantar romântico do namorado.
A última lentilha da mãe que já não pode ir ao fogão.
O caldeirão de velhas
alquimias, o valor do fogo, o tempero da alegria ou da salgada lagrima.
Hoje, o esforço do terceiro turno, às vezes do quarto.
Um ato banal?!
Caçarolas surgem a mesa como um milagre!
Mas só uma mulher sabe o que chorou por uma cebola!
Ou, sorriu ao fatiar a carne,
Ou sentiu ao perceber o aroma do feijão ficar finalmente parecido com o de sua casa de origem.
Seja ela que prepare o alimento ou não, é ela que pensa na fome, no conforto, no consolo de sua prole.
A chama do velho caldeirão
existe.
E insiste.
Enquanto há amor por qualquer coração faminto.
Mesmo que este não saiba ouvir o silêncio que uma cozinha traz, ela não se importa.
Uma mulher sempre pode ter um talher guardado no bolso.
E tem 🙂
Ana Guedes
Psicologia Clínica e Hospitalar
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