Colunas / Mãe de Mochila

O mágico carimbo da rotina

arquivo pessoal
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Publicado em 16/05/2019, às 08h19 por Rebecca Barreto


Trabalhando com famílias expatriadas aqui em Singapura, como psicanalista ora das crianças e adolescentes ora das suas mães, madrastas, pais e até por vezes de casais, uma coisa é sempre clara: mudar de país vira a nossa família do avesso e depois para colocar as coisas de volta no lugar, demora muito e leva muito gingado! Haja brasilidade para garantir isso.

Uma das coisas mais claras para mim, neste quase dois anos de reconstrução da minha própria profissão enquanto também imigrante lidando com famílias de diferentes culturas e suas questões mais diversas, é que as rotinas familiares viram uma espécie de carimbo embaixador de identidade num emaranhado de Babel como Singapura é. Mas, mesmo na exagerada miscelânea cultural que é este país ou em qualquer outro, algumas verdades familiares se tornam sempre importantes sempre que imigramos.

Rotina significa algo que se repete numa certa e esperada frequência. Seja bom ou ruim, todos precisamos de alguma rotina para nos constituir. Seja esta proveniente de amor, de exigência, de dor, de susto, ela é o que nos garante um caminho mais tranquilo para atravessar períodos. No desenvolvimento infantil, ela é o balanço mínimo e essencial do barco para sentir que ele está atravessando a maré. As vezes tempestades vêm e vão, mas o balanço mantém o barco em movimento.

A rotina é jogar o jogo em time. Os pais que conseguem defender a mesma rotina, criam filhos estáveis e prontos para bancar o tal balanço do mar; do agito da tempestade até a calmaria.

Se a rotina de exercícios ajuda na dieta, ou a rotina de conversas evita um divórcio, porque a rotina da família não ajudaria no mesmo grau de importância, não é?

Na hora que mudamos de país, a tarefa multifacetada de se adaptar faz com que tudo fique solto e perdido. Um dos pais precisa trabalhar e o outro precisa estruturar. Os filhos precisam aprender uma nova lingua, lidar com diferenças, entender um novo funcionamento de uma escola.

As memórias estão amassadas e embrulhadas em plástico bolha que chegam um ou dois meses depois em caixas em navio. Isso se vierem. As amizades ficam. Os cachorros, os avós, os primos, a festa junina, a turma da Mônica, e o desenho preferido também. A rotina faz o papel dessa cola, da família fragmentada que imigra em outro país.

Então repetir momentos antigos, recriados nos moldes do agora, ou até criar tradições novas, como o dia do brigadeiro, o dia de falar com a galera da ex- escola por Facetime, ou até o dia sem celular na família para  juntos explorar a nova cidade, é urgente e necessário. A nova família recriada se acha nesses novos códigos ressignificados.

A estrutura que a rotina dá é sempre boa, mas sempre vale reparar quando temos excesso de relaxamento que compensa alguma outra coisa, ou o excesso de rigidez. A idéia é não pesar em nenhuma pessoa da família mais do que nas outras:

– As mães, não podem sentir que a única maneira dela se sentir satisfeita é ao ver os filhos já dominando a escola nova e fazendo amizades em segundas e terceiras línguas, quando ela mesmo não fala ainda a língua do local.
– Os pais, que trabalham num novo cenário por vezes mais exigentes, não podem relaxar a rotina dos filhos nas noites de lição só para garantir um mínimo de curtição com os pequenos depois de um dia exaustivo no trabalho, que só prejudicará a vida escolar.

O equilíbrio sempre é o segredo, e a desordem e intermitência sempre os principais obstáculos. Por isso sempre que auxilio os pais nessas novas vidas, vale investirmos somente naquilo que estes conseguem de fato sustentar. Ao longo da nova família que ali se forma.

Se a intenção é que todos andem na mesma direção, é preciso priorizar a necessidade de ter hábitos constantes para todos, e é somente para isso que a rotina serve. Inclusive para desligar os pais dos seus celulares em prol dos momentos certos de todos. A timeline nos liga com o passado perdido com os assuntos do país antigo, mas as vezes nos desliga do futuro na nossa frente, com crianças tentando entender um seriado da TV local. E qual vai ser sua escolha? E o que a família vai fazer junto?

O que mais vejo, sao famílias que esquecem dessas pequenas observações da rotina familiar quando expatriam e ficam com casamentos frágeis pela a super atarefação do pai que trabalha e da sobrecarga do outro que fica com filhos. E filhos criados na brecha entre a ultra exigência de um e da ultra flexibilidade do outro. Se isso tudo é comum dentro da cultura que nascemos, observe-se o crescimento exponencial em situações onde a família se fecha no isolamento do reinício de uma vida num novo país.

E assim, vamos, caminhando e parando para observar essas famílias, que vão se ajeitando, a cada nova etapa ou zip code, e se reinventando.

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