Criança

“Estamos perto da erradicação, mas o vírus ainda circula pelo mundo”

Associados e voluntários da Rotary na Índia, trabalhando na campanha de imunização - Associados e voluntários da Rotary na Índia, trabalhando na campanha de imunização
Associados e voluntários da Rotary na Índia, trabalhando na campanha de imunização

Publicado em 13/08/2015, às 18h25 por Adriana Cury, Diretora Geral | Mãe de Alice


Associados e voluntários da Rotary na Índia, trabalhando na campanha de imunização
Associados e voluntários da Rotary na Índia, trabalhando na campanha de imunização

A poliomielite, doença causadora da paralisia infantil, já foi um problema gigantesco em vários países do mundo. Com a descoberta da vacina, as famosas gotinhas de Albert Sabin, e o trabalho de associações e instituições, muitas regiões estão, há tempos, livre do vírus. Mas alguns lugares ainda precisam de atenção especial e esforços dobrados para combaterem a doença.

Conversamos com Mário César Martins de Camargo, pai de André e curador da fundação do Rotary International  pelo Brasil para saber mais sobre as ações do Rotary em todo mundo e sobre o cenário atual da doença. A associação é a principal parceira na Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, ao lado da Organização Mundial da Saúde, o UNICEF e o Centro-Norte-Americano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Uma fonte inesgotável de informações sobre o tema da Campanha de Vacinação Nacional contra a Paralisia Infantil, que começa esse sábado, 15 de agosto. Confira a entrevista:

1) Qual a situação da pólio no mundo? Em que países a doença ainda é um problema de saúde pública?

O último caso de pólio na Nigéria ocorreu em 24 de julho de 2014, no sul do estado de Kano, e o continente africano não registra ocorrências da doença desde 11 de agosto de 2014. A Organização Mundial da Saúde (OMS) poderá retirar a Nigéria da lista de países endêmicos em breve. Depois que a Nigéria e todos os países da África ficarem três anos sem nenhum caso de pólio, a OMS certificará a região como livre da doença. Em 2014, isso aconteceu com a Índia e todo o sudeste da Ásia. Além da Nigéria, apenas o Paquistão e o Afeganistão permanecem endêmicos, ou seja, nunca interromperam a circulação do vírus selvagem.

De acordo com especialistas, o Paquistão provará ser o maior desafio para os esforços globais de erradicação, sendo responsável por quase 90% dos casos do mundo em 2014. No entanto, houve progressos recentes, com uma redução de quase 70% no número de casos no primeiro semestre de 2015, em comparação com o mesmo período de 2014. Existe uma vulnerabilidade maior de contaminação em países como Camarão, Etiópia, Iraque, Síria, Israel e Guiné Equatorial. A Somália, por exemplo, foi infectada no ano passado.

Todos estes constituem países do que se chama “cinturão de importação do vírus da pólio selvagem”, um grupo de países que se estende do oeste da África para a África Central e no Corno de África e são recorrentemente contaminados. A prioridade imediata nestas localidades é parar todos os focos ativos usando campanhas imediatas de varredura com a vacina oral contra a poliomielite nas zonas infectadas, combinando a mesma com vacinações e suplementações de vacinas em grande escala para proteger contra novas importações.

Também interessante é que os esforços para acabar com a pólio no continente africano criaram uma estrutura para atingir crianças com vacinas e serviços de saúde que podem ser utilizados para manter o sucesso conquistado e tratar outras doenças.

2) Como foi feita a ação do Rotary pelo mundo?

Desde que a iniciativa de combate à pólio foi lançada, em 1988, a incidência da doença despencou em mais de 99,9%, de cerca de 350 mil casos por ano para menos de 400 confirmados em 2014. O que começou como um projeto piloto de um clube rotariano nas Filipinas em 1979 se transformou numa ação global que está prestes a erradicar uma doença do mundo (a única outra doença exterminada da face da terra até o momento pela humanidade foi a varíola).

As funções do Rotary na Iniciativa são a captação de recursos, promoção e mobilização social de voluntários, conscientização do público e advocacia. Até o momento, a organização contribuiu mais de US$ 1,4 bilhão e incontáveis horas de trabalho voluntário para combater a pólio. Foram mais de 2 bilhões de crianças vacinadas em 122 países. Até 2018, cada dólar doado pelo Rotary para a erradicação da doença será equiparado na proporção de dois para um pela Fundação Bill e Melinda Gates, até 35 milhões de dólares por ano.

3) Como o pessoal que faz parte da organização leva informação e vacinas a todos os países?

Nos países endêmicos a função do Rotary vai desde o trabalho de advocacia com os governantes até a vacinação em si. A ação dos rotarianos, que são voluntários locais, é essencial para identificar a melhor estratégia para lidar de maneira adequada com as dificuldades locais. Rotarianos também buscam parcerias para promover as ações de vacinação, como foi feita com a Coca-Cola no Paquistão.

Em termos de estrutura, a Fundação do Rotary International se responsabiliza pelos acordos formais e respostas a pedidos de ajuda de outras organizações. Voluntários com cargos de representação nacional fazem o mesmo em seus países e todos os clubes associados desenvolvem suas ações de arrecadação de fundo, conscientização e promoção da vacinação independentemente em suas comunidades. Associados no mundo todo trabalham para assegurar que governos, setor privado e público em geral estejam conscientes desta oportunidade histórica para erradicar a pólio e encorajam a todos a fazer o necessário investimento financeiro e político para garantir que isto aconteça.

4) Como foi feito no Brasil esse trabalho? Quais foram os desafios?

A organização doou R$18,9 milhões (US$6 milhões) para acabar com a pólio no Brasil, bem como R$119,8 milhões (US$38,5 milhões) para os países da Organização Pan-Americana da Saúde. O maior desafio para o Brasil foi a necessidade de uma articulação politica ampla das instituições de saúde para permitir a criação e viabilização de um plano de vacinação consistente que fosse repetido de maneira eficaz em todo o território nacional. E o sucesso na erradicação comprova que esta articulação foi um sucesso.

4) Na sua opinião, o que é mais difícil: conscientizar os governantes do quanto a vacinação contra a poliomielite é importante ou chegar até as pessoas?

Esta resposta será diferente em cada país, mas o sucesso da erradicação depende dos dois componentes. Ambos têm muita importância. No geral, o governo está atento ao clamor popular e a conscientização das pessoas indica a participação do governo.

Em países divididos por guerras e conflitos e serviço de saúde precário, o governo necessita suporte financeiro e técnico mais do que convencimento de que a vacinação é necessária. A população nestes casos pode necessitar ser educada sobre a importância da vacinação. Em locais nos quais preconceitos impedem a vacinação, é necessário trabalhar com líderes comunitários e religiosos primeiramente, para depois envolver a população e finalmente haver espaço para o governo conseguir colocar em ação livremente os planos em relação à saúde.

Outra questão diferente existe em países em que a vacina está disponível, mas como a doença não está presente para relembrar os riscos existe uma predisposição contra a vacinação, muitas vezes criada por movimentos contra vacinação na internet. Para isto é necessária a educação de todos e discussão como sociedade já que os níveis de imunização são essenciais para manter todo o país seguro. E, no caso da paralisia infantil, uma doença sem cura, que pode ser fatal ou deixar sequelas terríveis, mesmo uma criança contaminada é um numero acima do que eu considero adequado.

5)  A poliomielite é uma doença incurável e a vacinação é a única forma de prevenção. No Brasil, nossas campanhas são bastante efetivas. Na sua opinião, porque aqui essa ação dá tão certo?

A conscientização foi eficaz e as campanhas, especialmente o personagem Zé Gotinha, ainda fazem parte da rotina de cuidados dos pais com seus filhos. O serviço de saúde é conta com mecanismos diferentes de relembrar as famílias sobre as datas de vacinação e a sequencia das mesmas. O nível técnico dos profissionais de saúde do ministério é avançado num ponto que já estamos migrando para um segundo momento no processo de erradicação global, em que a vacina injetável foi incluída no cronograma de vacinação.

Foi essencial no processo do país a decisão de adotar a vacina Sabin (as gotinhas), que além de menos custosa e fácil de aplicar também gera o que se chama de imunidade de rebanho, protegendo os grupos e não só a pessoa vacinada. Outro passo decisivo foi a decisão de programar uma estratégia nacional com normas técnicas e de procedimento para abastecimento e distribuição de vacinas padronizados.

6) Desde 1990 não se registra mais casos de paralisia infantil no Brasil. Por que, ainda assim, é tão importante vacinar todas as crianças? 

Embora erradicada do Brasil, tivemos 359 casos de pólio no mundo em 2014.  Ou seja, estamos próximos da erradicação, mas o vírus ainda circula no mundo e pode entrar no país. De fato, em 2014, num dos muitos testes de vigilância nos esgotos do país, foi encontrado o vírus nas amostras provenientes do aeroporto de Campinas. A única forma de prevenir esta doença sem cura é com a vacinação. E para garantir a segurança de todos e impedir a circulação do vírus é necessário que haja uma cobertura vacinal de 95% da população alvo.


Palavras-chave
Exames e vacinas

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