Publicado em 22/04/2019, às 15h07 - Atualizado em 30/01/2020, às 19h23 por Rhaisa Trombini, Edileyne e Geraldo
Assim como a cor do cocô ou a frequência do xixi, os gases são daqueles assuntos que você nunca imaginou ter que mencionar numa conversa – até que um dia você se tornou mãe ou pai. E depois que seu bebê chega, esse é um tema lembrado o tempo todo.
“Será que é pum?” é o que você vive se perguntando quando o bebê fica com as pernas flexionadas, pressionando a barriga. “Com certeza são gases!”, você insiste quando ele tenta (e falha) na hora de fazer cocô. “Ele precisa arrotar”, você diz logo depois da mamada.
Desde então, o pum tem sido a explicação para todos os sintomas do seu bebê – seja quando seu filho fica pressionando a barriga, lutando contra o sono, acordando com frequência, chorando muito, inexplicavelmente irritado, ou todos os itens acima e de uma vez só.
“Eles são parte normal do processo digestivo, mas também estão envolvidos na maioria das queixas intestinais. Gases em excesso geralmente é sintoma de que alguma outra coisa pode estar acontecendo.”, explica Jeremiah Levine, diretor de gastroenterologia pediátrica da NYU Langone Health.
Para saber lidar melhor (e de maneira mais fácil) com o pum do seu filho, falamos com especialistas que deram dicas para você tirar de letra qualquer situação fedida.
Faz parte!
À medida que a comida passa pelo trato gastrointestinal, o intestino delgado absorve os alimentos ingeridos e as bactérias no intestino grosso quebram as sobras liberando hidrogênio e dióxido de carbono, o que acaba produzindo bolhas de gás durante esse processo.
Arrotar permite que algum gás escape do estômago logo de cara, e o resto viaja dentro do corpo – do cólon para o reto – onde vira pum. Mas quando isso não acontece facilmente, ele pode acumular no trato digestivo e causar inchaço e desconforto. E os bebês são especialmente propensos a isso.
“Sistemas digestivos de recém-nascidos são imaturos, então eles produzem muito gás, e isso é normal. Os bebês também absorvem muito ar enquanto se alimentam e choram, o que pode produzir ainda mais”, esclarece Samira Armin, pediatra da Texas Children’s Pediatrics, em Houston.
Sem medida
Como não é possível medir a quantidade de gases produzidos, os médicos não conseguem dizer exatamente o que é excessivo. Na verdade, a definição de “excesso de gás” é a maneira como a gente se sente e não uma quantidade em si. O desconforto leve que desaparece após o pum é normal, mas aquilo que limita a alimentação ou as atividades do seu filho, não. E vale ficar de olho, já que para algumas crianças mais sensíveis, o que é considerado normal pode causar desconforto incomum.
O cheiro não prova nada
Cientificamente falando, o odor depende da concentração dos gases, dos alimentos consumidos recentemente, e da concentração e tipos de bactérias no cólon. Você só precisa se preocupar com o cheiro se ele for particularmente muito fedido, se incomodar constantemente, provocar bullying ou se estiver associado a outros sintomas como febre, incontinência, diarreia, dor abdominal intensa, sangue nas fezes ou outros sintomas súbitos. Nestes casos, consulte o seu médico.
No caso dos bebês…
Arrotar é a primeira linha de defesa para os bebês porque fornece uma liberação imediata de gás. Além disso, o doutor Armin recomenda manter seu bebê na vertical durante as mamadas, para que a gravidade possa ajudar na digestão.
Fazer movimentos como se estivesse andando de bicicleta com as pernas do seu bebê e massagear sua barriga também pode ajudar, assim como eliminar alimentos que produzem gases, caso você esteja amamentando. E fique tranquila, a maioria dos bebês supera a fase dos gases, no mais tardar, aos 6 meses de idade.
Não, eles não causam cólica
É fácil deduzir que essa seja a causa quando os sintomas da cólica aparecem – choro inconsolável, barriga rígida, rosto corado, pernas flexionadas e punhos fechados –, mas os gases são apenas uma parte da cólica, não a sua causa principal.
O incômodo tem origem provavelmente no sistema nervoso, segundo Barry Lester, fundador e diretor do Centro de Crianças e Famílias do Hospital Infantil e Feminino, em Providence, lugar com a única clínica de cólicas nos EUA.
O grande culpado
A dor que pum pode causar anda de mãos dadas com a obstipação – que é uma constipação severa, uma grande prisão de ventre. Mas nem sempre é fácil para os pais perceberem a conexão entre os sintomas e a possível causa.
Fazer cocô com menor frequência, mais sólido do que o comum e que parece ser difícil de sair, são as principais características. Mas algumas crianças, mesmo indo ao banheiro diariamente, não evacuam o suficiente. “Muita vezes elas querem voltar logo para a brincadeira e fazem a quantidade suficiente de cocô para se sentirem confortáveis”, explica John.
Se você notar esse tipo de comportamento no seu filho, incentive-o a ficar por mais 2 ou 3 minutos no vaso sanitário para ter certeza de que não há mais nada de cocô ou gases para fazer. Uma dica do médico é falar para a criança que o cocô é um vagão de trem e, mesmo que o motor tenha saído do túnel, pode haver mais alguns carros logo atrás que devem sair também.
Vale ficar de olho
O excesso de gases pode ser sinal de alergia alimentar – mas, calma, é raro e esse não será o único sintoma. A grande sacada é que, se seu filho estiver mesmo com alergia, terá outros problemas de saúde significativos.
“Um bebê ou criança com alergia alimentar provavelmente também terá erupções cutâneas, vômitos, diarreia ou sangue nas fezes, e pode estar abaixo do peso”, explica Jean Molleston, gastroenterologista pediátrico do Riley Hospital da Indiana University Health, em Indianápolis.
Esse tipo de dor também é um sintoma da doença celíaca – que é a intolerância ao glúten. As crianças não nascem com esse distúrbio autoimune, ele pode se desenvolver a qualquer momento quando algo em seu ambiente “ativa” os genes que o causam.
O histórico também conta
Se o seu filho teve recentemente alguma virose que tenha causado náuseas, vômitos ou diarreia, essa pode ter sido a razão do aumento de dores abdominais, flatulências e inchaço, segundo Armin. Infecções estomacais podem acabar com as enzimas que ajudam a digerir o açúcar do leite (lactose) e alimentos que contenham o ingrediente. E isso pode causar intolerância à lactose temporária.
Converse com seu pediatra sobre tentar dieta sem lactose por duas ou três semanas, tempo que geralmente é suficiente para que a digestão volte ao normal e para que o excesso de gases melhore. Caso o histórico seja de infecção gastrointestinal grave, que tenha causado desidratação, a recuperação pode levar mais tempo e, em casos raros, a criança pode permanecer intolerante à lactose para sempre.
E SE FOR PUM…
Veja dicas espertas e fáceis de incluir na rotina para eliminar de vez os gases
Mais fibras na dieta
Ofereça mais nozes, grãos integrais, frutas e legumes. A fibra é um probiótico usado pelas bactérias intestinais e pode melhorar os gases.
Nada de chiclete e refrigerante
Goma de mascar e bebidas carbonatadas possibilitam que as crianças tomem ar em excesso e o acumule.
Horário marcado
Aposte na opção de levar seu filho para fazer cocô logo depois de comer. Em cinco minutos ele resolve tudo o que precisa.
Diminuindo o incômodo
Ensine seu filho a respirar fundo e faça massagem nos ombros ou barriga dele. Qualquer tipo de relaxamento pode diminuir sua dor abdominal.
Tente probióticos
Ofereça alimentos fermentados, como iogurte e kefir ou dê ao seu filho um suplemento.
Bora gastar energia
Quando as crianças ficam sentadas, paradas durante muito tempo, o intestino segue o mesmo ritmo. O trato gastrointestinal funciona bem melhor quando a atividade física faz parte da rotina.
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