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Entrevista: Elizabeth Monteiro

Imagem Entrevista: Elizabeth Monteiro

Publicado em 04/11/2012, às 22h00 - Atualizado em 13/12/2021, às 07h55 por Redação Pais&Filhos


A gente está há meses falando de culpa e, de repente, caiu em nossas mãos o livro A Culpa é da Mãe. Opa! interessante! Não deu outra: logo nos apaixonamos pelo livro e pela autora, fera em todos os assuntos relacionados à educação de filhos, na teoria e na prática. A obra autobiográfica mostra que ninguém, nem ela, acertao tempo inteiro. Veja a entrevista completa com Betty Monteiro.

Você diz, no livro, que tem que ter um pouco de culpa sim, porque senão a gente perde a medida da responsabilidade. Como é isso?

A pessoa que não sente culpa tem um perfil psicótico. A culpa é inerente ao ser humano, assim como a inveja. Mas essa coisa das mulheres se encherem de culpa por tudo é
um exagero. Ninguém tem culpa daquilo que não sabe. Mas passa a ter a partir do momento que sabe e não muda. Aí complica.

A culpa exagerada também não é um pouco de arrogância – a mãe quer ser mais do que ela precisa ser?

É a onipotência materna, a mãe acha que só ela é responsável pela felicidade do filho. É se achar muito poderosa pensar que a culpa de tudo o que está errado no filho é sua.

As mães têm essa sensação, não é?

Têm. E tem mãe que se sente culpada e se faz de vítima, mas é porque ela não dá espaço para o pai. Ela acaba se responsabilizando por tudo.

Acaba cobrando mais do filho?

Sim, porque ela se cobra demais. Mães que se cobram muito são mães que não toleram críticas. Elas querem ser perfeitas e mostrar para o mundo que têm filhos perfeitos.

Sabemos, isso não existe.

Não. Elas não estão preocupadas com o filho, e sim, com o que elas vão mostrar para os outros. Ela quer competir com outras mães.

Tenho sentido que estamos formando uma geração muito mimada e despreparada.

Sim, muito mimada porque as mães se sentem culpadas. Aliás, pais e mães perderam os seus papéis. Aquele modelo que eles herdaram dos próprios pais não serve mais e eles não encontraram um novo papel. As famílias estão passando por muitas transformações.

Quais são as maiores?

O aumento do número de divórcios. Tem uma patologia nova, que me fez escrever um livro. Antigamente, as crianças tinham medo de escuro, chuva, trovão. Hoje, a maioria das crianças tem medo do dia em que o pai e a mãe vão se separar.

Não se criaram novos papéis, é isso?

Isso. As mães da minha época não tinham culpa, elas acreditavam que era assim que tinha que ser. Os modelos eram bem definidos. Elas achavam que isto era o certo: crianças precisam apanhar, bastava um olhar que a criança ficava quieta.

Hoje, com esse monte de certo, como faz?

Nós, mães, devemos nos guiar pelo bom senso, por aquilo em que acreditamos, pelos nossos valores, nossa consciência. Um pai uma vez me perguntou: “meu filho de 15 anos quer dirigir e a minha mulher disse pra eu deixar, porque todos os amigos dirigem.” Aí eu devolvi a pergunta: “o que você acha?” Ele disse: “eu acho que não, porque além de ser perigoso, menor de idade não pode dirigir.” Então estava tudo resolvido.

Você tem que aceitar a mãe que você é.

Você vai fazer bobagem, sim, mas não significa falta de amor. Falta de amor é não aceitar o filho com as dificuldades que ele tem. Muitas pessoas me perguntam como educar os filhos.
O importante é ser um bom modelo, ser você.

E um bom modelo não é ser perfeito.

A mãe perfeita vai ficar louca e enlouquecer o filho. Um bom modelo é ser o que você é: a bruxa nas horas que você está enlouquecida, por exemplo. A mãe tem que deixar claro que
o que ele fez a incomodou e a deixou com raiva, mas não porque ela não gosta dele.

Essa separação é muito importante.

Muito. Tem mãe que fala para o filho “eu te odeio, você é assim ou assado”. O jovem não sabe quem ele é, e quando você diz que ele é insuportável, está dizendo o papel que ele vai desempenhar na vida. Toda família tem o filho ovelha negra, a boazinha, o inteligente. Eu me preocupo com as crianças boazinhas, porque são crianças que desistiram de lutar pra ser elas mesmas. As crianças boazinhas querem agradar todo mundo, têm uma carência enorme e querem corresponder àquilo que as pessoas esperam delas. Acho sinal de saúde quando falam “meu filho teima, argumenta”. Acho isso muito bom.

A maternidade traz para a gente muito claramente a aceitação do diferente.

Você já deve ter ouvido a seguinte frase: “eu criei todos da mesma forma, como eles são assim?” O erro que as mães cometem é querer criar os filhos da mesma forma, porque cada filho é diferente. Eu tenho quatro filhos e eles são diferentes. Temos que ser uma mãe pra cada um. De repente, você tem que dar mais atenção pra um deles. Sem culpa!

Às vezes, o mesmo filho precisa que você pegue leve uma hora, e na outra, que você dê uns trancos.

Isso mesmo. E esse mesmo filho exige que nós, como mães, nos atualizemos sempre.

O que isso quer dizer?

É uma mãe que consegue se colocar no lugar do outro, que sabe ouvir, procura se informar, reciclar os seus valores quando achar que é necessário. A gente precisa se atualizar. Uma coisa que a gente vê hoje é que as festas começam à meia noite, então não dá pra pedir que seu filho chegue em casa às 22h. Então você precisa acompanhar esse filho, levá-lo, buscá-lo, ver como ele sai da festa.

Acho que uma das coisas que o filho dá pra gente é essa atualização.

Escrevi um livro em favor dos adolescentes, porque muitos os chamam de “aborrescentes”. Isso já dá o papel para eles de baderneiros, atrapalhados. Quando a mãe se atualiza, ela
vai saber ouvir esse filho e ler a bula dele. As crianças e os jovens não querem pais que concordem com tudo, mas pais que saibam ouvir e entender o argumento deles. Só que as pessoas aprendem a falar, mas não aprendem a ouvir. É isso que gera tantos atritos entre pais e filhos. Quando o filho vem com uma advertência da escola, a mãe fala “já sei que você aprontou”. Não tenta entender o comportamento, ouvir a versão dele e tomar uma atitude.

O que a gente quer dizer para os pais, o tempo inteiro, é “calma, vai devagar”.

É. Calma, pense antes de responder. Às vezes os pais já falam “não” de cara. Tem os vícios relacionais.

Hoje tem um outro tipo de mãe, que tem que dar de mamar até os 4 anos, não têm mais que trabalhar, são patrulheiras. Sempre teve isso?

Sempre. Não podemos ser radicais com nada na vida, porque isso pode virar patológico.

Fico preocupada com essas mães dando de mamar até os 4 anos.

Isso é segurar o filho, não deixar a criança crescer. Isso pode virar uma relação erotizada. A mesma coisa é com a mamadeira, porque erotiza também. Com 3 anos, tem que ir cortando a mamadeira. Isso estimula a boca, uma zona erógena. Existem mulheres que têm uma dificuldade enorme para amamentar, física ou psíquica, e não deixam de ser boas mães.
É muito pior amamentar sentindo dor ou alguma forma de incômodo, do que dar mamadeira. A criança está se alimentando da angústia.

Você tem contato indireto com as escolas. E aí, como elas estão?

Eu fui professora por muitos anos. Percebi que, na maioria das vezes, o problema não está na criança, está na escola. Ela só aprende aquilo que passa primeiro pelo coração. Os professores não se preocupam em formar, primeiro, um vínculo com a classe. Tudo acontece a partir de um forte vínculo afetivo. A criança só tem a compreensão da moral a partir dos 7 anos. Muitos colocam crianças de 2 anos para pensar.

Será que terceirizamos a educação para a escola e desaprendemos a educar?

A função de educar vem da família e a de ensinar, da escola. A melhor aprendizagem é aquela que acontece dentro de casa, antes de a criança ir para a escola, colocando a mesa, fazendo um bolo. Só que hoje está difícil, os pais estão cansados, não têm paciência. Hoje tem aquela coisa do descartável, se o casamento não está bom, separa. E o filho não é descartável. Aí terceiriza, contrata babá, põe na psicóloga. Os pais não têm paciência nem para brincar com os filhos, imagina educar.

Ser chata faz parte do papel da mãe?

Claro, e quando o filho fala “você é chata”, a mãe precisa nomear, ou seja, dizer “eu sou chata porque eu não deixo você fazer o que você quer”. Quando a criança sente alguma coisa, é importante dar nome: “isso que você está sentindo é medo”. As mães precisam estudar o desenvolvimento infantil. Saber que dos 2 aos 3 anos a criança é curiosa e acha que as pessoas estão ali para servi-la. Até os 5 anos, ela acha que é o centro do universo, por isso desobedece. Em vez de insistir no “vai tomar banho”, seja criativa, vá para o lúdico. Dizem tanto não, que quando a criança entende ela já está cheia. As mães têm que agir mais e falar menos.

A infância passa muito rápido. Como fazer para aproveitar melhor?

Passa mesmo. A infância está cada vez mais curta e a adolescência, mais longa. Queremos que as crianças cresçam rápido. Elas estão muito expostas às informações que vêm
da mídia. Hoje, as crianças de 8 anos brincam de boneca escondidas, porque elas têm vergonha de brincar.

Família é tudo. Você concorda?

A família é tudo. Ela é o maior fator preventivo e curativo para o uso de drogas. Ela é a base da matriz da identidade. É o lugar onde a pessoa experimenta todas as emoções humanas.

Para saber mais

  • A culpa é da mãe – reflexões e confissões acerca da maternidade: a autora conta suas experiências e mostra que todas as mães erram. Ed. Summus (summus.com.br), R$ 69,20
  • Criando adolescentes em tempos difíceis: fala sobre a necessidade de proteger os adolescentes de problemas como as drogas e, ao mesmo tempo, incentivar a autonomia. Ed. Summus, R$ 47,20
  • Criando filhos em tempos difíceis – atitudes e brincadeiras para uma infância feliz: A autora fala da importância do brincar para o desenvolvimento das crianças. Ed. Mercuryo (mercuryo.com.br), R$ 28

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