Bebês

Larga a chupeta!

Imagem Larga a chupeta!

Publicado em 07/06/2013, às 11h01 - Atualizado em 02/12/2020, às 12h31 por Redação Pais&Filhos


Foi amor à primeira sugada. Minha filha Stella era fissurada na chupeta e, em seus dois primeiros anos, nós nem sequer pensamos que ela pudesse deixar este hábito. Quando ela queria o “bico” e este não estava ao alcance, Stella se descontrolava, chorando tanto que chegava a soluçar.

Pacifier significa pacificador. Esse é o termo usado para definir chupeta em inglês. A psicóloga Maria Lúcia Müller Stein, mãe de Beatriz e Fernanda, explica que a chupeta pode ser um recurso para acalmar tanto o bebê quanto a mãe, e pode ser importante para evitar que a situação de choro, de desconforto, se prolongue. “Porém, espera-se que o bebê possa se desenvolver e encontrar outros recursos para se acalmar e também para substituir a presença materna. Nesse ponto, o brincar e a linguagem são fundamentais”, afirma Maria Lúcia.

Meu marido e eu descobrimos que era melhor sair de casa sem a carteira, sem as chaves e sem o casaco, do que esquecer a chupeta. Se por acaso esquecíamos, largávamos tudo para resolver o problema imediatamente.

Não fui sempre uma defensora de chupetas. Quando meu filho mais velho, Giovanni, nasceu, eu as rejeitava – e olhava com desprezo e um certo ar de superioridade os pais que acreditavam nelas. Meu filho nunca desenvolveu o hábito. No entanto, ele “chupetava” o meu peito. Eu tinha me transfomado em um “bico” ambulante no seu primeiro aniversário. Por isso, quando Stella nasceu, decidi jogar no time das mães que defendem a chupeta.

A separação necessária

A psicanalista Michela Kamers, mãe de Joaquim e Maria Clara, confirma que a dependência da chupeta muitas vezes é mesmo da mãe. “A pergunta que se coloca é: que outros recursos uma mãe pode utilizar para acalmar a criança que não apenas e exclusivamente a chupeta?  Por definição, a chupeta é um objeto transicional (de transição), que representa a mãe e sua ausência, implicando num objeto extremamente importante para a separação mãe-bebê. A mãe separa o bebê de seu corpo, mas garante a ele um representante de si mesma, no caso, a chupeta”, explica.

Sugar é prazeroso e calmante. Uma atividade tão natural que os bebês cultivam mesmo antes de nascer. A fonoaudióloga Ana Paula Córdova, filha de Maria Aparecida e Clovis, explica que a sucção já está presente entre a 17ª e a 24ª semanas de vida intrauterina. Michele Kamers acrescenta que a função calmante da chupeta se dá porque “a criança, quando nasce, apresenta o reflexo de sucção como forma de se relacionar com o meio. Nesse sentido, sugar cumpre não apenas uma função de alimentação, mas de satisfazer e dar prazer para a criança”.

Por meio da amamentação, o bebê é ‘alimentado’ com conforto, carinho e amor, iniciando, assim, sua relação com a mãe. A chupeta pode vir a ser uma forma de prolongar o prazer e o conforto da presença materna. Ela funciona como um substituto da mãe. “A chupeta em si é apenas um objeto que media a relação da mãe e do bebê. Se a mãe utilizar a chupeta para evitar seu contato com o bebê, isso é muito problemático, se utilizá-la para calar sua fala, também, podendo inclusive ter consequências patológicas bastante sérias. Porém, se ela for utilizada como um dispositivo de conforto, de cuidado, seu uso é justificado”, afirma a psicóloga Maria Lúcia.

Prós e contras

A Academia Norte-Americana de Pediatria aprova o uso da chupeta na hora de dormir, pois ela ajuda a diminuir o risco da Síndrome da Morte Súbita Infantil. “Uma das explicações é de que a chupeta manteria a permeabilidade das vias aéreas superiores, impedindo a obstrução devido à queda da língua durante o sono”, explica a professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro Miriam Perez de Figueiredo, mãe de Felipe e Carla. Por outro lado, o uso do artifício pode atrapalhar a amamentação. E é aí que a coisa pega. Você se lembra de ter visto em algum lugar propaganda de chupeta? Não, né? E por uma razão simples: é proibido. O objetivo da restrição é tentar evitar o desmame precoce, já que o uso de bicos artificiais muitas vezes faz com que a criança deixe de mamar no peito. Mesmo assim toda mãe sabe onde comprar e como usar a chupeta.

Pois é. Mas, antes de ceder à tentação de aplacar o choro com ela, lembre-se de que é mais fácil sugar a chupeta do que mamar, então os bebês podem não se alimentar o suficiente. A posição da língua na amamentação é diferente da posição usada quando o bebê suga a chupeta. Como sugar a chupeta é mais fácil, na hora da amamentação o bebê tende a colocar a língua na posição errada e poderá ter dificuldades em retirar o leite. “O bebê sugará menos, o que resultará em menor saída do leite e a mãe tende a produzir menos leite”, explica Jenny Rosen no livro Larga a Chupeta – Um Guia para Mães Aflitas (Ed. Panda Books). Por isso, é indicado que os pais esperem para introduzir a chupeta até que seu bebê esteja ganhando peso. “O bico não prejudica o aleitamento desde que seja oferecido quando a amamentação já está bem estabelecida, entre 15 dias e um mês de vida”, explica o pediatra Rodrigo Aguiar da Silva, filho de Alcindo e Maria. Eu pretendia seguir esse conselho e esperar até Stella ganhar mais peso, mas o meu marido, menos by the book do que eu, não aguentou. Quando Stella tinha cerca de duas semanas de idade, ele colocou uma chupeta em sua boca quando ela acordou às 3 da manhã. Voilà! Ela voltou a dormir. Dormiu por cinco, seis, sete horas, de uma vez. Era como se a chupeta tivesse caido do céu.

O fim da paixão

Depois que Stella e sua chupeta foram unidas, nada poderia separá-las. Mas nem pensei em tentar. No início, os pais podem se apaixonar pela chupeta tanto quanto seus filhos, mas a fase da lua de mel não dura para sempre. Por volta do final do primeiro ano, o lado negativo das chupetas aparece. Quando vi minha filha de 2 anos de idade com sua chupeta falar frases completas, me senti numa saia-justa.

O dia em que ela usou a palavra “ridícula” entre sugadas eu perguntei ao meu marido se ela já não estava ficando grandinha para usar chupeta. “Eu não sei”, respondeu ele. “Qual é a regra?”A maioria dos pediatras acredita que a idade correta para “desmamar” é com 2 anos, quando a chupeta passa a ser um obstáculo para o desenvolvimento da fala.“O mais importante é os pais controlarem a ansiedade e oferecerem menos a chupeta. Devem reduzir o uso ou até limitar para a hora de dormir. Há casos em que os pais se acomodam com o ‘conforto’ que a chupeta dá e não percebem o crescimento dos filhos” explica Solange Wertman, mãe de Raphaela e idealizadora do projeto Babá e Bebê.

Comecei a me perguntar: existe alguma coisa prejudicial sobre o uso a longo prazo? Sim. Além de poder comprometer o desenvolvimento da fala, “o ato de chupar a chupeta pode fazer a criança engolir mais ar, causando gases e cólicas, ou infecções devido a germes presentes na superfície da chupeta”, afirma o pediatra Rodrigo Aguiar da Silva.

O dentista Luke Matranga explica que existem dois tipos de danos que podem ocorrer a longo prazo com o uso constante da chupeta. O mais comum são as crianças apresentarem a chamada mordida aberta: sobra espaço entre os dentes frontais de cima e de baixo, mesmo quando os dentes de trás estão fechados. Isso corrige-se normalmente seis meses após parar de usar a chupeta, mas algumas crianças também podem acabar adquirindo a mordida cruzada, que é quando a arcada superior fica mais estreita que a inferior. E tome aparelho.

A odontopediatra da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Branca Heloísa, mãe de Fernanda e Alice, explica que a chupeta não é recomendada. Ela alerta que a única circunstância em que um odontopediatra sugeriria o uso de chupeta seria no caso de  crianças que chupam o dedo. “Nesse caso, a chupeta seria introduzida para substituir o dedo porque, geralmente, é mais difícil remover o hábito de chupar dedo do que remover o hábito de chupar chupeta”, afirma.

Para a fonoaudióloga Ana Paula Córdova, o maior problema da chupeta está no seu uso indiscriminado, principalmente a partir dos 2 anos. Elas são induzidas a respirar pela boca, quando o correto é a respiração pelo nariz. “A sucção da chupeta por tempo prolongado tende a provocar alterações na musculatura dos lábios e da língua, levando a diminuição do tônus nessa região. Como consequência, a criança tenderá a manter a boca entreaberta, favorecendo a instalação da respiração oral”, explica Ana Paula.

A fada do dente

Com as consequências em mente, eu sabia que era hora de Stella parar de usar a chupeta – mas estava claro que ela não ia fazê-lo por conta própria tão cedo. Na verdade, seu apego parecia estar cada vez mais forte. Então, começamos um processo gradual de desmame, deixando-a usar a chupeta só para dormir. Isso foi fácil. O que realmente a assustou foi a possibilidade de dormir sem a chupeta. Cada criança é única e você sabe melhor do que ninguém. Especialistas concordam que quanto mais cedo você iniciar o processo, mais fácil será o adeus à chupeta. “Quanto mais velhas as crianças ficam, mais elas estão dependentes da chupeta, mais conscientes de quem são, e mais capazes de nos torturar”, diz a terapeuta familiar Bette Alkazian.

Há milhares de formas de aposentar a chupeta. A mais popular é a fada, que vem à noite para tomar as chupetas, deixando um grande presente. Existe também a possibilidade de levar o seu dependente para uma loja de brinquedos para “negociar” seu vício por um brinquedo de criança grande. O mais recomendado é explicar que agora ela cresceu. Como canta Arnaldo Antunes na música Tchau Chupeta, do CD e DVD Pequeno Cidadão: “Já pensou uma mãe chupando chupeta?/Já pensou um pai chupando chupeta?/E uma vó de bobs e chupeta?/E um vovô de bengala e chupeta? Todo mundo uma hora tem que se libertar…”

“O importante é ter paciência e aguentar o choro, afirma a psicóloga Solange Wertman, o que é a parte mais difícil, sem dúvida. No final, minha própria filha recebeu uma visita especial da Fada da Chupeta, quando tinha cerca de 2 anos e meio. Nós começamos a falar sobre o dia maravilhoso em que a Fada chegaria. Depois de algumas semanas, ela recebeu uma carta das fadas, anunciando que ela apareceria naquela noite e instruindo Stella a juntar seus bicos e deixá-los na porta do quarto. Na manhã seguinte, lá estava à espera em seu lugar um presente carinhoso e uma nota de parabéns.

Bem, tivemos noites duras – mas nada como eu temia. A sua brincadeira favorita é dizer: “Mamãe, eu quero uma chupeta!” (Então eu dou um tapa na coxa e rio como se fosse piada: ela adora isso). A vida sem chupeta é possível. Mas quando passo por uma criança chupando seu bico, sinto uma pontada de saudade – como se eu fosse a viciada.

Consultoria:

Ana Paula Córdova, filha de Maria Aparecida e Clovis, é fonoaudióloga do ambulatório de pediatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Branca Heloísa, mãe de Fernanda e Alice, é odontopediatra da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Maria Lúcia Müller Stein, mãe de Beatriz e Fernanda, é psicóloga. Michela Kamers, mãe de Joaquim e Maria Clara, é psicanalista e professora do Departamento de Psicologia da Universidade Regional de Blumenau. Miriam Perez de Figueiredo, mãe de Felipe e Carla, é professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rodrigo Aguiar da Silva, filho de Alcindo e Maria, é pediatra. Solange Wertman, mãe de Raphaela, é psicóloga e idealizadora do projeto Babá e bebê.


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