Publicado em 17/04/2022, às 10h52 por Ana Cardoso e Marcos Piangers
Quando criança, tive dois amigos que apanhavam muito, a Kátia e o Mateus. Eles não se conheceram, estudavam em colégios diferentes, moravam em bairros diferentes, tinham classes sociais diferentes. O único ponto em comum que eu percebia nos dois era a violência dos pais. A mãe do Mateus dava socos nele e nos irmãos, na frente das outras crianças. A Kátia sofria castigosimensos, a mãe a obrigava a comer pimenta caso ela questionasse uma ordem.
A rigidez só gera mais rigidez. A violência só gera mais violência. É impossível ensinar respeito à alguém desrespeitando-o. É impossível ensinar bondade sendo malvado.
Hoje, sabemos que palmadas e castigos não funcionam. Revoltam os filhos, pioram a relação familiar, evoluem para violências maiores e mais perversas. Sabemos também que é possível educar filhos sem violência e nem castigos. Quando ouvi isso pela primeira vez, pensei: “Será?!”. A palmada, os gritos, o castigo e a privação pareciam funcionar para educar crianças.
Até que percebi que, realmente, os gritos e os castigos só me distanciavam das minhas filhas. Elas não me respeitavam mais, ao contrário. Se revoltavam. A mais velha chorava de raiva, a mais nova me pedia pra nunca mais gritar. Elas não estavam cultivando respeito por mim. Elas estavam com medo. Cheio de remorso, mas ainda desconfiado, comecei a experimentar educar com respeito. Passei a evitar gritos. Repensar ordens. Abolir castigos. Me desapeguei da obrigação de ter a última palavra sempre. Me tornei amável. Elas passaram a ter mais prazer na minha presença. Deixei de ser temido, passei a ser amado. Ao ser amado, passei a ser profundamente respeitado.
Mateus e Kátia, meus amigos de infância, cresceram revoltados e quebrados por dentro. Lembro do Mateus crescendo um adolescente retraído. A Kátia, muito carente, engravidou cedo. Os dois tiveram problemas com drogas. Existe um provérbio africano que diz: “Quando uma criança não recebe amor da sua tribo, colocará fogo na aldeia apenas para sentir algum tipo de calor”. Acho que é isso que está acontecendo no mundo. As pessoas continuam buscando o amor do pai e da mãe no dinheiro, nas drogas, nos remédios, no Instagram.
Os pais são a fortaleza afetiva dos filhos e cada vez que esse acordo é quebrado, se quebra a alma de uma criança. Recolher os cacos dá muito mais trabalho do que preservar sua alma intacta. A alma de uma criança, tão boa e tão inocente, não tem culpa se nossa própria alma está cheia de rachaduras. Sempre é tempo de recomeçar.
A violência é uma tatuagem que fica na gente. Quem é criado com tapa, entende “bater” como parte do jogo da vida. Quem é criado com beliscões, um dia vai marcar alguém, a não ser que se policie muito. Certa vez fui chamada na escola quando minha filha mais velha tinha 8 anos. O motivo? Várias meninas haviam feito uma colega de saco de pancada. Eu fiquei em choque. Minha filha nunca tinha empurrado ninguém, nem mordido amigos na creche. O que estava acontecendo naquele segundo ano? Seria o nascimento da irmã? Estava vendo programas violentos na tevê? Ouvindo as discussões dos pais?
Felizmente meus pais nunca me bateram e sequer gritaram comigo. Quando eu aprontava – e não foram poucas vezes – eles pediam licença para meus irmãos e conversavam comigo, a sós. Era muito constrangedor. Lembro de me sentir muito mal e arrependida depois dessas conversas. Eu passava dias pensando e mudava de atitude em geral. Foi assim que eu aprendi a educar quando as coisas saem dos eixos. É essa cartilha que seguimos em nossa casa.
Naquela tarde, na sala da diretora, me senti como se eu tivesse aprontado, não a minha filha. A história era essa mesma: oito meliantezinhas haviam se juntado pra bater em uma garotinha, que – por acaso – frequentava a minha casa. A menina não se machucara na tal brincadeira mas a escola achou um ato de vandalismo e por isso estava conversando com pais e mães. A pergunta que ficou martelando na minha cabeça foi: como minha filha, que nunca apanhou, participou de uma brincadeira tão boba e não percebeu a injustiça?
Era uma escola muito cara e que estimulava a competição entre as crianças. No primeiro ano eles já faziam provas e os mais inteligentes eram incensados. Convivendo com outras famílias, percebi que havia quem achasse bonito as filhas e os filhos serem violentos, empurrarem colegas da escada, puxarem os cabelos. “Eu era bem assim, até pior que a minha filha”, me confidenciou uma mãe na saída um dia, após presenciarmos umas brincadeiras meio perigosas das crianças.
Quem acha que a violência só ocorre em lares pobres e desestruturados está enganado. Temos um problema estrutural muito antigo que permeia todas as classes sociais. No final daquele ano optamos por mudá-la de escola, para que tivesse uma vida escolar mais amorosa e com menos disputas. Como pais, não podemos proteger nossos filhos de toda violência do mundo, mas quando dá, por que não tentar viver num mundo com mais respeito e menos dor?
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