Colunas / Corpo pequeno, jamais inferior

Afeto ou falta de empatia?

De um lado, a naturalidade (ou falta de educação) com que tocamos um bebê. Do outro, a sensação infantil de impotência por ser tocada a qualquer momento por alguém que não conhece - Getty Images
Getty Images

Publicado em 15/03/2021, às 14h41 por Claudia Werneck


Quero refletir sobre toques amorosos. Será que corpos infantis gostam de receber carinho de corpos grandes com os quais não têm qualquer intimidade ou simpatia? Nós, seres adultos, não. Por que então acreditar que crianças se sentem confortáveis na mesma situação?

Diante de um corpo pequeno infantil temos o ímpeto de expressarafeto. No Brasil, não importa muito se o bebê é ou não da nossa família, ou se temos ou não proximidade. O ímpeto amoroso se materializa comumente por afagos no cabelo e na face, com destaque para as bochechas.

De um lado, a naturalidade (ou falta de educação) com que tocamos um bebê. Do outro, a sensação infantil de impotência por ser tocada a qualquer momento por alguém que não conhece (Foto: Getty Images)

Controle? Curiosidade? Nostalgia atávica? Posse? O fato é que  essas “provas de amor” públicas em shoppings, ruas ou festas de aniversário são vistas como louváveis. Seria até indelicado não se comover e aplaudir estas genuínas e espontâneas ofertas de afeto. Pequeninos seres são tão lindos, divertidos e espertos. Emocionam. São pureza, humanidade e esperança. Como resistir?

Mas a sociedade vai além dessa subjugação, em nome da meiguice, de corpos pequenos aos impulsos do mundo adulto exigimos mais das crianças e de suas famílias. Espera-se que a infância reaja com alegria aos carinhos de pessoas de corpos grandes. Quando isso não ocorre, dá-se o nome de “estranhar”. E quando “estranham”, frustram seus pais e suas mães – que justificam: ela “acabou de acordar”, ou ele está “enjoadinho hoje”. Com isso, o mundo adulto incentiva as novas gerações a expressarem gratidão por algo que provavelmente as incomoda muito. Mensagem nada edificante para quem está em desenvolvimento.

De um lado, a naturalidade (ou falta de educação) com que tocamos nos cabelos, no rosto, nos pés, braços e pernas roliças de um bebê, muitas vezes até emocionados com nosso próprio gesto. Do outro, a sensação infantil de impotência e sobressalto diante da possibilidade de ser tocada a qualquer momento por alguém que não conhece. Como saber se é assim mesmo que se sentem? Nunca saberemos ao certo. Mas podemos imaginar, por exemplo, quão desagradáveis seriam nossas vidas se não tivéssemos controle sobre quem poderia ou não nos beijar, segurar no colo e abraçar.

As razões que nos levam a fazer carinho em crianças (Foto: Shutterstock)

Nós não nos recordamos da sensação de viver em um corpo pequeno  dependente de pessoas adultas para sobreviver. Como num ciclo autofágico geracional, acreditamos ter poder sobre qualquer corpo pequeno que se aproxime de nós, assim como já nos sentimos “possuídos”, sem nossa permissão, em nossos primeiros anos de vida.

Quem hoje desfruta de autonomia e independência para se alimentar, movimentar-se e tomar decisões parece não ter mais qualquer consciência de sua própria infância. Esta lacuna na memória fortalece a arrogância de corpos humanos grandes sobre corpos humanos pequenos. Este pode ser o gatilho inconsciente que nos leva ao impulso do toque. Não se trataria, portanto, de afeto. Talvez, ao contrário, um termômetro de total falta de empatia.


Leia também

Imagem Nomes femininos raros: veja opções chiques e únicas para meninas

Bebês

Nomes femininos raros: veja opções chiques e únicas para meninas

Pai de Davi - (Foto: Reprodução/Instagram)

Família

Pai de Davi não concorda com posição do filho e decide ir morar com Mani

Imagem Pai de Henry Borel comemora nascimento de filha três anos após tragédia

Família

Pai de Henry Borel comemora nascimento de filha três anos após tragédia

Se você procura um nome de menina, aqui estão 180 ideias diferentes - Pexels/Moose Photos

Bebês

180 nomes femininos diferentes: ideias de A a Z para você chamar a sua filha

Virginia Fonseca - (Foto: Reprodução/Instagram)

Família

Virginia Fonseca toma atitude após Maria Alice empurrar Maria Flor: “Dói mais na gente”

De A a Z: confira os nomes femininos americanos para te inspirar - Getty Images

Bebês

Nomes americanos femininos: mais de 1000 opções diferentes para você se inspirar

Copo Stanley - Divulgação

Super desconto

App Day Amazon: os famosos copos térmicos da Stanley com até 55% de desconto

Isabella Fiorentino explica o motivo de não mostrar o rosto do filhos - Reprodução/ Instagram

Família

Isabella Fiorentino explica o motivo de não mostrar o rosto dos filhos em fotos nas redes sociais