Publicado em 12/10/2021, às 06h22 - Atualizado às 06h24 por Claudia Werneck
O mundo girou mais rápido ou mais lento na Covid-19? Quase dois anos depois do início da pandemia e do isolamento social no Brasil esgotamos a reserva de respostas convictas. Sobre a relação com o tempo, restam apenas incertezas em nosso psiquismo reformulado. Ou quem sabe danificado, e para sempre?
Milhões de crianças nasceram sob um novo conceito e uma inusitada prática de se relacionar com os minutos. Antes havia uma lógica na mensuração do tempo físico aceita e utilizada internacionalmente. Pessoas usavam relógios no pulso. Relógios eram um presente importante que as crianças ganhavam como símbolo de que estavam crescendo e já sabiam contar as horas. Não sei se as crianças continuarão gostando de ganhar e usar relógios. Parece que a confiança e uma certa magia de se crescer acreditando que havia um tempo só, contado e irrefutável, se foram na Covid-19: se esvaíram, se perderam.
Essa sensação combina com o artigo publicado na revista Gama: Como as redes sociais alteram a nossa noção de tempo, que cita a socióloga britânica Rebecca Coleman, da Goldsmiths Universidade de Londres. Segundo a pesquisadora, as redes sociais e o mundo digital passaram a produzir “agoras” diferentes e não um único “agora” uniforme e coeso. E, com isso, temos que lidar, ao menos, com três tipos de “agora” — um real, um alongado e um eliminado.
Coleman explica que o agora em tempo real, exemplificado pelas notificações de mensagens, é uma atividade digital imediata e costuma exigir resposta, independentemente do horário. Já o agora alongado acontece quando navegamos pelas redes sociais, uma ação constante, embora nunca finalizada. E, por fim, há o agora eliminado, que se dá quando buscamos o digital para matar o tempo geralmente enquanto esperamos algo acontecer no mundo presencial. Os três agoras por vezes se entrelaçam, fortalecendo os limites elásticos das percepções do tempo, que ora se alongam e ora se contraem, ora se expandem e ora se condensam – sem dúvida, uma mudança abrupta para quem já estava no planeta.
Há crianças cuja relação de afeto com avós, bisavós e tios têm sido estruturada por meio de telas. Será que irão crescer acreditando que existem dois tipos de pessoas igualmente amorosas e presentes, com a diferença de que umas moram dentro das telas e outras fora das telas? E o afeto emanado viria das telas ou das pessoas, na percepção infantil? Se algumas das principais referências de amor têm sido a voz e as imagens transmitidas por celulares, qual realidade irá se impor no psiquismo infantil no mundo pós-Covid?
As relações com o tempo foram definitivamente sucateadas. De tal modo que hoje estamos entre o futuro e o passado, construindo um presente volátil e, ao mesmo tempo, permanente.
Muito possivelmente, a percepção de tempo será um agravante nas dificuldades intergeracionais a serem enfrentadas daqui a alguns anos entre familiares e adolescentes que nasceram a partir do ano de 2020; e, mais pra frente, no ambiente de trabalho, principalmente entre profissionais experientes e a juventude que acaba de chegar. Um tema para o idadismo contemplar.
Enquanto isso, eu lhes recomendo relembrar com detalhes o quanto ficaram felizes e se sentiram importantes ao ganhar o primeiro relógio de pulso. O meu foi presente da minha avó, Marina, e do meu avô, José, quando fiz sete anos. Era redondo e pequenino, tinha corrente de couro azul claro. Me deu saudade.
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