Publicado em 02/10/2020, às 08h06 por Toda Família Preta Importa
**Texto por David Junior, ator, fundador do projeto Hora do Blec, pai de Amora
Quando fui chamado para escrever sobre paternidade para essa coluna eu travei. Afinal, o que eu, marinheiro de primeira viagem nesse universo teria a dizer?! Relutei e quase desisti, por que além de minhas inseguranças, também penso no julgamento do outro. Eu como homem, aprendi que tenho a “obrigação” de ser onisciente e como futuro pai, aprendi que terei que me acostumar com as frustrações de não saber, então sigamos.
O processo de produção do Hora do Blec começou com a Yasmin em 2016 e tomou forma depois que começamos a namorar. Ela me apresentou a ideia e discutimos sobre a importância da representatividade na infância para todos e todas, incluindo os negros, que não se veem representados em quase nada na nossa dramaturgia.
Resolvemos então, além de criar um conceito representativo, trazer pluralidade e sustentabilidade. Temas que vamos ouvir muito durante toda a temporada do Hora do Blec e que constroem histórias musicadas de forma equitativa. Tomamos posse do discurso da ONU, que por meio dos ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável) traçaram até 2030 formas dos países lutarem por um mundo mais sustentável e mais justo. Com isso criamos nosso primeiro álbum.
Li recentemente na biografia do Martin Luther King, uma tese em que ele definia a plenitude da vida de acordo com três pilares: O impulso da vida através de suas realizações pessoais, a amplitude da vida através da preocupação com o bem-estar do outro e o peso da vida através da expansão em direção ao divino, a fé em algo. Minha fé está para o divino, crendo que o divino está no próximo. Está em mim. O Blec é um projeto onde essas três dimensões ditas por King dialogam de maneira horizontal.
Creio que esse projeto será fundamental para minha realização pessoal, por que apresentarei para minha filha através da arte, a representatividade negra a partir de sua primeira infância. Creio em sua amplitude, por que não estamos falando com um público específico, o discurso é para todos, a narrativa é que é contada através do ponto de vista do negro, o que por muito tempo não foi permitido.
E discordo de King ao usar a palavra “peso” para o divino, por que acho que na troca com o próximo, estamos em contato com Deus. “Amai ao próximo como a ti mesmo…”. Estamos usando esse protagonismo sem se sobrepor a ninguém e é essa mensagem, que nosso projeto quer enviar.
Tive uma criação privilegiada, com uma família estruturada por pai e mãe presentes, um bom estudo e muito amor. Mas, para além do que os meus pais podiam me dar, a sociedade me apresentava uma faceta cruel. Estudei numa escola particular, onde ser negro era exceção. Na TV, quando aparecia era na maioria das vezes tido como motivo de chacota. Nas propagandas não me via representado, nem nos cargos de poder. Quando se é criança aprendemos sobre o lugar que ocupamos no mundo, da maneira como nos é apresentado, o que no meu caso como eu não me via em lugar nenhum, eu me sentia menor do que qualquer um.
Na adolescência, fase em que você descobre o desejo pelo outro, a mente já está condicionada a gostar do que se vê, e eu, além de não me admirar, não me sentia capaz de conquistar ninguém, uma vez que, as referências de beleza para as meninas da minha geração eram todas as ‘boybands’: Backstreetboys, Nsync, westlife, Five… Como competir sendo praticamente o único garoto negro da turma e sem nenhuma referência positiva em que eu pudesse me espelhar?
E como admirar as meninas que, assim como eu, eram negras e não tinham nenhuma referência além do carnaval, onde seus corpos se tornavam objetos de desejo para consumo momentâneo e não para um relacionamento real? A falta de representatividade traz consequências vitais a nossa autoestima. Nossa forma de nos apresentar ao mundo está diretamente ligada em como apresentaram o mundo a nós.
Estamos trazendo em 2020 uma animação infantil que coloca uma família negra como objeto de admiração, sem estereótipos de submissão ou dor, compartilhando amor e o mais legal é ver que essa mensagem toca tanto a juventude negra como todas as outras, por que criança não faz acepção de pessoas, ela nasce sem preconceitos. Crescendo com referências positivas e equitativas entre negros e não negros, dificilmente essa opressão fará parte do cotidiano dessa nova sociedade que está nascendo.
Espero que outros “Blec’s” surjam pelo caminho, no Brasil só conheço os “Grandes pequeninos” e desejo que não sejamos exceção e sim mais uma opção. Criança vem mais para ensinar do que aprender, quero como pai estar disposto a aprender mais com a minha filha e com essa molecada que agora está acompanhando a gente no canal.
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