Colunas / Mãe em suficiente

“Sorona”, a palavra criada a partir da saudade

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Publicado em 22/06/2020, às 10h00 por Ana Guedes


(Foto: Getty Images)

Hoje, depois de 90 dias sem ver meus pais, Pedro finalmente falou. Tudo. Todos os argumentos possíveis e ideias incríveis para me convencer a levá-lo até os avós.

Não foi fácil. Agora com dez anos, e com muita informação as perguntas são complexas:

-E se eu chegar pelos fundos tomar banho no outro banheiro colocar luvas e máscara?

-Pedro, podemos estar assintomáticos eu, tu, qualquer um! Teus tios médicos, todos!

-Mas se a gente inventar uma roupa de astronauta e eu fizer o teste? E por que a Bibi pode ir duas vezes por semana ajudar a vovó com as compras e com a comida e eu não?!

Não foi fácil. Eu, mãe, psicóloga, com treinamento em covid-19 estava em crise de angústia à paisana! Todos meus argumentos foram água abaixo. E eu só pensava em uma coisa: na saudade que sentia de meus avós, que se me ouvissem chorando no telefone, voltavam da serra ou qualquer festa pra me buscar.

E assim são meus pais e muitos avós com seus netos. Pois sim, avós são pais com açúcar. E netos filhos com chantilly! Ou a cereja do bolo.

Ao contrário do que muitos de nós pensamos, existem muitas crianças que não gostam do Zoom, não gostam de ligar e ouvir a voz e também de ir até a janela. A saudade piora, aperta. A vontade de ficar é impossível e a de entrar na tela maior ainda.

Pedro não gosta de Zoom, FaceTime ou qualquer coisa que não seja o colo da avó ou o abraço do avô. O cheiro da casa. O afeto das brincadeiras.

Passamos mais de 40 minutos entre sugestões e negativas, explicações e argumentos que colocariam juristas em pânico! E psicólogos em crise de ansiedade, e uma mãe querendo a própria mãe também.

Foi então que resolvemos falar com o especialista. O médico de família.

-Protesto! O dindo não! Ele não vai deixar!
-Ok! Tua tia? Ela é médica! Se os dois derem ok, vamos!
-Não. Melhor o vô. Ele é médico há mais tempo.
-Pedro! Vô é vô! Ele vai dizer vem! Coitado! E a empatia, lembra?! Poxa! Pensa bem… o vô tem 78, uma doença chatinha…
-Mãe! Eu vejo meu outro avô!
-Golpe baixo! Teu pai mora com ele, querido!!!

Desespero absoluto. Meus irmãos não atendiam o celular. Apelei pro drama de caçula com o do meio pelo WhatsApp: Atende! Emergência. Pedro!

Dez minutos o dindo liga, Pedro encara o tio com o famoso “eu e a mãe queríamos …”. Meu irmão pacientemente explica para o Pedro, chamando-o inclusive de adolescente, o que prontamente corrigi: “Calma, criança. Por favor!”
(embora eu saiba que hoje já tenho um adolescente em casa, mas seria demais pra uma tarde). “E esclarece todas as dúvidas. Quando? Onde? Como? Porque? Acaba? Não acaba? O que que é isso?”, perguntei.

E uma porção de perguntas bacanas respondidas na linguagem dele que terminou com uma sugestão de game pro primo menor. Eu, um pouco menos nervosa e ele tendo o entendimento do tempo, da curva, da necessidade e também de dúvidas que são tanto dele, como dos médicos em geral.

Para o Pedro foi muito boa esta conversa com o especialista que apesar de tio, poderia tranquilamente ser uma call com o pediatra ou o clínico de nossa casa. Para mim foi menos angustiante do que tentar contornar os argumentos e ainda não preservar um possível sentimento de culpa, e claro administrar minha vontade eminente de chorar no banheiro que deixei pra mais tarde.

Então, voltei aqui, meio atrasada nestas colunas sem tempo, para contar nossa aventura do “Sorona”, e deixar esta ideia no ar! “Sorona” foi o nome que o Pedro deu a imensa falta que sente de meus pais em isolamento desde o início do covid-19.

Se seu filho não falar, não force. Se seu filho não quiser o Zoom, não force. Se não der para visitar os avós , aguarde.
Na hora certa vem. Não tente ser suficiente e peça ajuda.

Eu sigo aqui, depois do choro do banheiro, mais insuficiente que nunca. A eterna missão sem pouso.

Um beijo apertado em todos avós e netos que não podem se ver neste momento.

E em todos os pais que com seus pais, e com seus filhos choram trancados no banheiro ou não, pois podemos também chorar abraçados.


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