Publicado em 24/04/2020, às 16h53 por Mariana Rosa
Eu sou mãe. Como a maioria das mulheres que leem agora estas linhas, mãe. Há pouco mais de seis anos, acomodo este fato lá dentro de mim. Fundo, denso. Mesmo enraizada, esta minha condição – mãe – todo dia me traz uma notícia nova, um frescor, uma ventania. Parece que dentro do meu peito está sempre amanhecendo. Movem-se as certezas, as prioridades, as perspectivas. A vida em movimento me comove.
Tudo o que sei sobre isso de ser mãe vem do afeto. Da possibilidade de afetar minha filha, e me deixar ser afetada por ela. Somos pares deste aprendizado. Nessa relação, há um olhar amoroso que nos faz existir, que nos encoraja a nos tornarmos quem somos e nos habilita para o encontro com o outro. Aprender a ser esse olhar para ela é o gesto mais amplo e bonito que posso imaginar. É nele que reside a minha principal investida.
É um trabalho difícil, sim. Preciso me haver comigo de tantas maneiras que não sei e, invariavelmente, me lasco. Mas afeto também é escolha persistente, consciente. Sigo. Até o ponto em que outro olhar, estranho, me encara e diz: mãe, não. Mãe especial. Mãe atípica. Mãe escolhida por Deus. Mãe guerreira. Mãe exemplo. Mãe coitada. Mãe qualquer-coisa-diferente-daquilo-que-penso-ser-ideal-de-mãe. Há uma necessidade de demarcar que sou um tipo bem específico de mãe. Aquela a quem coube um filho com deficiência, o imperfeito, o inacabado, o incompleto. Aquela que falhou e que, agora, cumpre seu destino, seja de maneira heroica, exemplar, seja de maneira recolhida, resignada.
A sensação é que, nessas situações, não recebem a mãe que chega, mas a que se perdeu, a que não queriam. Preciso dizer: isso dói. Sobretudo porque não se encerra em nós, ao contrário, se estende aos nossos filhos. Que tipo de conforto esses marcadores propiciam e a quem? Reconhecem as diferenças entre nós, mas mantém-se a distância segura: você não é uma de nós. Não é.
Essa distância é o que faz com que as diferenças se tornem disparidades, que se transmutam em estigma, que recaem no preconceito e na discriminação e desembocam na desigualdade. É assim, elegendo um suposto padrão de normalidade e fixando-o como natural, que nos apartamos umas das outras. Que ética estreita essa que aprendemos e que nos resguarda do encontro? Será que podemos ser capazes de mais do que tolerar?
E se pudermos encarar a vulnerabilidade como cenário da sensibilidade, do pensamento, da existência? Se pudermos admitir a precariedade da nossa condição (são tempos de pandemia, afinal) e compreender que é isso o que nos faz humanos? Se pudermos entender que a deficiência mora nas condições e estruturas que não estão a serviço de cada um e de todos? Se pudermos assumir que, talvez, o nosso repertório é que esteja deficiente, estreito para compreender as infinitas maneiras de estar vivo?
Se a diversidade é o motor da vida, a maternidade é sua alavanca. Será igualmente diversa, plural, surpreendente. Ser mãe é muito e são muitas. Experiências particulares, únicas, singulares: todas elas atendem pelo mesmo nome. Cabemos todas nesta insígnia. Ser mãe é grandioso, afinal. Se há um adjetivo que nos distingue, ele brota é na intimidade do afeto com os filhos. No coletivo, que possamos ser comunidade de um nome só, um ensaio de pertencimento sob aquele olhar amoroso que encoraja a ser quem se é, sem projeções, nem ilusões.
É só esse o meu pedido, de mãe para mãe.
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