Publicado em 18/03/2021, às 08h53 por Mayra Gaiato
Além de todos os desafios que a pandemia está trazendo, também precisamos nos atentar ao aumento do uso de eletrônicos das nossas crianças. A falta de possibilidade de sair de casa para brincar, ir à escola e ver amigos fez o uso das telas como um recurso de entretenimento (e até recurso acadêmico) crescer muito! Mas, esse uso tem um custo super elevado! O preço que pagamos, muitas vezes sem perceber, é a alta excitabilidade dos pequenos.
Imagine a estimulação gerada por algo que tem cores, brilho, sons e movimentos. Agora, compare com blocos de madeira, jogos de tabuleiro e lições de casa. Mesmo que exista o nosso próprio esforço em participar e brincar junto com a criança, dar o máximo para tornar aquele momento prazeroso, dificilmente conseguiremos competir com as telas. Os eletrônicos são altamente estimulantes para os nossos cérebros, o que gera uma liberação gigantesca de dopamina, neurotransmissor diretamente ligado com sensações prazerosas.
A extrema excitabilidade das crianças pode trazer problemas atencionais, de irritabilidade, atrapalhar o sono, e até a dificuldade em ver “graça” em outras atividades, como brincar com brinquedos comuns ou educativos. Com um contexto desses, não é difícil concluir que cada vez menos as crianças terão interesse por atividades ‘offline’, e isso pode ser prejudicial para o desenvolvimento delas a curto, médio e longo prazo!
Nosso cérebro tem uma capacidade de se remodelar estrutural, física e quimicamente a partir dos estímulos ambientais que temos acesso. Esse é o processo que conhecemos como “aprendizagem”. Quando as crianças são pequenas essa capacidade, chamada neuroplasticidade, é muito mais potente.
O que constrói as melhores redes neurais na infância são as atividades sensório sociais, o olho no olho, o bate bola. Os eletrônicos vão poupando isso pouco a pouco, todos os dias. Quando realizamos a “somatória” disso ao longo de 2 ou 3 anos no início da infância, se colocarmos na ponta do lápis serão muitas horas a menos. Esse efeito cumulativo, no final faz diferença muito grande. É muito importante para todos os pequenos, mas mais ainda para os que estão com atrasos no desenvolvimento.
E, como se isso já não fosse motivo o suficiente para repensarmos a utilização dos eletrônicos, também é muito importante apontar que esse uso diminui, e muito, a tolerância à frustrações. Nos tablets, por exemplo, a criança consegue controlar o que assistir. Pode voltar e ver os seus episódios prediletos ou mudar de vídeo quando o que está assistindo começa a ficar entediante, buscando mais e mais estímulos excitatórios. Assim, não precisa esperar por intervalos, por seu desenho favorito, e nem assistir algo que não queira tanto, situações comuns a nós pais quando éramos crianças. Vamos tentar diminuir o uso das telas e colocar outras atividades no lugar?
– Utilize os eletrônicos somente para questões educativas, sempre que possível;
– Faça a refeição dos pequenos em família e traga conversas para a mesa, ao invés de celulares;
– Se precisar deixar a criança algum tempo no eletrônico, opte por televisão e deixe uma programação que você controla, passando. Evite deixar o controle remoto com a criança.
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