Publicado em 11/08/2017, às 12h51 por Nanna Pretto
Eu acordei, peguei um pra fazer xixi. Devolvi na cama. Peguei o outro e repeti a mesma coisa. Me arrumei, organizei as agendas, as malas da escola, separei o café das crianças e deixei o almoço no jeito. Saí de casa, passei na lavanderia, depois na feira.
Cheguei no trabalho, parei, liguei, resolvi o transporte da escola, o inglês, marquei terapia de um filho e a natação do outro. Terminei uma apresentação e liguei para o dentista. Vixe, na sexta tem pediatra. Liguei em casa, conferi o almoço, o dente escovado, o uniforme do judô e o da natação e o material do inglês. “meninos na perua” foi a mensagem que recebi às 12h45. Então eu saí para almoçar.
Não, não sou uma supermãe. Isso é apenas mais um dia na vida de uma mulher que tem dois filhos e trabalha fora de casa. Não é nada especial. Aliás, é. Hoje tudo deu certo, até o trânsito.
Aí você olha um “especial pais” de um jornal com a seguinte chamada: Pais que conciliam os filhos e hobbies como escalar o Himalaia, shows de heavy metal e jardinagem.
Parem, apenas parem.
Primeiro porque não é uma disputa. Não é uma competição de quem faz mais e melhor. O cara não é mais ou menos pai porque consegue “conciliar” trocentas coisas (e hobbies) com a função de educar um filho. Cada um é o pai (ou a mãe) que consegue ser.
Segundo porque, na boa, equilibrar pratinhos não é novidade nenhuma na vida de quem tem filho.
E a gente que fica aqui falando sobre a paternidade ativa e sobre o dever do pai e da mãe em educar seus filhos se sente uma besta.
Porque, olha só: conciliar a coisa toda pra fazer dar certo é obrigação da mãe, enquanto conseguir ser pai, plantar, escalar e curtir um show é mérito (uau!!!) do superpai.
É isso mesmo? Até quando?
Recentes comentários que chegaram para mim nas últimas duas semanas, quando comecei a trabalhar em horário integral e longe de casa:
“Você chega em casa depois do seu marido?”
“E como ele faz com os dois?”
“Ele dá banho NOS DOIS, jantar e os arruma para dormir? Que sorte a sua!”
Sorte a minha nada. É apenas o pai cumprindo o papel de pai (e conciliando tudo para conseguir assistir ao futebol).
Mas enquanto isso for um troféu para o “homão-da-p%#$” que é esse pai, nós seremos apenas aquela que equilibra trocentos pratinhos para tudo funcionar bem. Afinal, esse ainda é o papel da mãe na configuração arcaica dessa nossa sociedade.
Mudemos, por favor!
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