Publicado em 10/09/2021, às 09h12 - Atualizado às 09h16 por Negra Li
Antes mesmo de pensar em engravidar, a autocobrança e a culpa já começavam a dar indícios em meus pensamentos. Pensava comigo mesma em toda a responsabilidade em decidir trazer ao mundo uma nova vida, um mundo caótico, cheio de diferenças, violência, preconceitos e dificuldades. Por outro lado, já amava essa possibilidade, só de pensar em todo o amor em gerar uma vida dentro de mim.
Em diversos momentos me pegava em um dilema e me questionava: será que eu deveria ter filhos agora? Será que eles vão me culpar pelas tristezas que vão enfrentar? Olha que loucura… Esse sentimento de culpa me ocorria pela expectativa que uma mãe vê nos filhos, uma vontade pessoal, talvez até egoísta. Eu pensava sempre em minha velhice, como seria uma vida sem filhos, sem alguém para cuidar de mim e ser minha companhia.
Eu venho de uma família em que os dias com todos reunidos eram repletos de alegria, a convivência com meus irmãos carregava uma emoção maravilhosa. Eu quis repetir isso e posso dizer que a minha autocobrança começou aí. Quando minhas crianças chegaram, eu já tinha a missão de fazê-las felizes! Enfatizava a responsabilidade e preocupação de voltar para casa bem e viva! Comecei até mesmo a ter medo de participar de atividades nas quais sempre tive muita coragem, como saltar de paraquedas. Em primeiro lugar, sempre penso em meus filhos.
Junto à maternidade, carrego essa carga de gerá-los sabendo o quão difícil é viver, o quanto a vida tem seus altos e baixos. E essa culpa aparece também nas mais diferentes situações, como o simples momento de sair para trabalhar e deixá-los em casa, há sempre a sensação de que eu deveria estar sempre presente. E, nesse momento, nada facilita muito. A autocobrança fica ainda maior com a cobrança externa, de toda uma sociedade que espera muito sobre a relação da mulher com a maternidade.
Existe uma frase que guardo no peito, que os filhos são para o mundo! E nós piramos só de pensar nisso, não é? Uma das certezas em ser mãe é que nossos filhos vão sair debaixo das nossas asas um dia e nos pegamos pensando se somos mães legais, se nossos filhos já estão cogitando ir embora de casa e se vão querer ir embora um dia.
Nossa missão é deixar nossos filhos traçarem os próprios caminhos. Nós somos a fonte, de onde eles vêm, nos doamos enquanto precisam de nós, dos nossos cuidados e nossa atenção, mas, depois, quando criam as próprias pernas, vão tomar as próprias decisões, vão ter as próprias vontades. Precisamos nos preparar para desapegar disso.
Esse é um exercício diário a se fazer, me livrar dessa autocobrança e sentimento de culpa, já que todos os dias me cobro e me sinto culpada de alguma forma. Nada melhor do que o tempo para mostrar que cada situação é diferente da outra! Devemos cada vez mais buscar sermos felizes e livres, independente de tudo. Pessoas felizes deixam a casa feliz, filhos felizes e isso é o mais importante no fim do dia! Estou cada vez mais pronta para os desafios que a maternidade me traz.
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