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O brincar na pandemia e os desdobramentos desse período

Pais e filhos relembraram a importância do brincar no tempo em isolamento - Shutterstock
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Publicado em 04/08/2022, às 09h27 por Dado Schneider, Valesca Karsten, Marisa Eizirik e Bia Borja


Em todos os tempos e civilizações, por meio dos séculos, crianças brincaram, construindo mundos mágicos, sempre reinventados, a cada dia, cada jogo, a cada brincadeira. Inerente ao brincar é o prazer. As crianças brincam por meio de suas ações, observando seus ganhos, seus obstáculos e riscos. Tudo isso servirá para desenvolver seus projetos de vida e suas formas de “ser”.

Pais e filhos relembraram a importância do brincar no tempo em isolamento
Pais e filhos relembraram a importância do brincar no tempo em isolamento (Foto: Shutterstock)

Mas, o que é brincar? É uma experiência bastante complexa e variada que, para a criança, se aproxima da própria vida. É brincando que a criança constrói seu espaço e tempo. É uma ação física, emocional e intelectual, constitutiva de sua personalidade. É um processo único e absolutamente necessário, em que fantasia, criatividade e improvisação têm papel fundamental. Em meio a uma pandemia, como transformar esse momento tão especial em possibilidades de aprendizagem?

Nós, do PAISdemia, consideramos extremamente importante conversar com os pais sobre esse tema – o brincar na pandemia -, e fomos a campo, com estas questões: “Como foi o cotidiano de vocês durante a pandemia?”, “como interagiram com as crianças?”, “como as crianças ocupavam o tempo delas na pandemia?” “quais eram as brincadeiras que faziam? Os passatempos? As diversões?”, “as crianças brincavam com quem? Sozinhas? Com você? Com o pai? Com os dois?”, “que tipo de brinquedo ou brincadeira seu(s) filho(as) mais gostavam de fazer ou brincar?”, “o que aconteceu depois que terminou o isolamento?”.

Filhos fora da escola, pais fora do ambiente de trabalho. Confinamento e de repente tudo muda! Muitos pais tiveram que se reinventar e muitas histórias de brincadeiras surgiram em meio ao caos.

A ideia de falar sobre isso veio da nossa própria vivência. “Gio com 1 ano e meio, Gabriel, com 10 anos, e a minha sala virou uma brinquedoteca. Não tinha área verde, nem parquinho ou sol. Tive que improvisar e tudo de lúdico e interessante saiu do armário… E não tinha mais regra de organização. Podia tudo! Máquina de costura na mesa da sala, papeis espalhados, tinta, colchões na sala, travesseiros – tudo junto e misturado – e o dia inteiro de pijama”, relata Bia Borja, dos dois G’s.

Poke, professor de Beachtennis, nos contou algo extraordinário. Em casa com duas crianças, estava sem o sol, sem a areia, preso em um apartamento em Brasília, assim como eu. “Enchi uma piscina de mil litros na varanda da minha casa. Virou a nossa grande diversão. Jamais imaginaria uma piscina daquela na minha varanda. Qualquer arquiteto ou engenheiro me chamaria de louco, assim como o síndico do prédio poderia me matar. Mas, eu nem quis saber, aquela piscina salvou a minha cabeça”.

Outro relato: “Comida foi a nossa diversão. Minhas meninas de 6 e 2 anos meteram a mão na massa. Brincamos de cozinhar o tempo todo, pois antes sempre era eu que cozinhava, na pandemia elas assumiram as panelas. Ficaram mais confiantes e perceberam que eram capazes de fazer coisas que antes só os adultos faziam. A mãe, enfermeira, estava naquela tensão do trabalho em hospital. Chegar em casa e ter uma comida preparada pelas meninas fazia toda a diferença. Isso foi extraordinário e até hoje elas continuam na cozinha”, relata Jesse, pai da Emília e da Olívia.

Nos grupos de pais das escolas “bombavam” os tutoriais do tipo: “Brincadeiras na Pandemia: 17 ideias para brincar em casa”; “15 Ideias de brincadeiras para crianças de todas as idades” – em vídeo, em PDFs, e-books etc… Tudo para ajudar aos pais a brincarem no confinamento.  Mas como assim? Ajudar os pais a brincar com os filhos?

“Vivenciamos a fase das brincadeiras lúdicas, na minha época não tinha Internet, no videogame PACman era o ‘most’ e de repente eu comecei a colecionar tutoriais para enfrentar o confinamento com as crianças e colocar a minha criatividade em estado de ação novamente”, conta Tatiana, mãe do João, 12 anos.

Sim, muitos desaprenderam a brincar. A pandemia forçou muitos adultos a reaprender algo que estava escondido dentro deles. É claro que existem muitos pais que até hoje incentivam as brincadeiras lúdicas, regram o uso de meios digitais, que exercitam o contato com a natureza, mas, definitivamente, vivemos um período de distanciamento que a pandemia colocou em xeque. Tivemos que nos distanciar fisicamente, para nos aproximar das nossas crianças – tanto os filhos, como aquela criança dentro da gente.

O brincar resistiu a tudo, inclusive ao confinamento, o que produziu muitos ensinamentos. Renata Meirellesi lançou um documentário sobre as brincadeiras que aconteceram nos lares de 55 famílias, de 18 países, durante o isolamento social. A pandemia fez com que as pessoas tivessem que recalcular suas rotas e o trabalho da pesquisadora mostrou muitos pontos interessantes.

A vida fora de casa teve que “entrar” na casa. O convívio restrito trouxe conflitos, perdas e ganhos – o brincar deixou tudo mais leve. Tivemos que recorrer ao nosso repertório de brincadeiras que estava enterrado em nossas mentes

Jaqueline Mânica, 55 anos. Psicóloga, professora universitária, consultora de pessoas e carreira. Mãe da Gabriela, 25 anos e do José Otávio, 23 anos. Casada com o Alexandre, engenheiro e consultor na área do trabalho, conta sua experiência: “No início da pandemia foi aquela loucura, um exagero de informações vindas de todos os lados, eu tinha a sensação de que estávamos sendo jogados no caos. Para me proteger e não enlouquecer, procurei fontes de informações mais fundamentadas. Profissionalmente, naquele momento, eu estava mergulhada num projeto muito legal sobre desenvolvimento profissional. Queria levar para além dos muros da universidade um espaço de desenvolvimento de carreiras. Criei um projeto chamado ‘carreiras de rua’. Convidei alunos como voluntários e saímos entrevistando as pessoas, visitando as periferias, fazendo filmes com instruções sobre planejamento profissional. E, de repente, tudo parou. Foi muito frustrante, sofri, porque esse projeto é realmente incrível eu estava adorando fazer, além de eu ser uma pessoa que preza a liberdade”.

“Perder a liberdade, reconfigurar a vida de uma hora para a outra nos colocou de frente com as incertezas”

No início, parecia que estávamos em férias, todos em casa, a Gabriela fazia bolo para o lanche, mas depois… A primeira organização que tivemos de fazer foi organizar como os quatro adultos que moravam juntos trabalhariam em casa, os espaços que cada um ocuparia, o tom de voz. Antes de mim, meus filhos e o meu marido retornaram aos seus trabalhos e eu fiquei trabalhando de casa, como professora e como consultora. Como professora, foi uma experiência de readaptação e um exercício de resiliência, tínhamos que dar aula de uma outra forma, além de acolher o sofrimento dos alunos, eu os via muito assustados. Como consultora, ocorreu um aumento de demanda, pois de uma hora para outra as empresas se deram conta que precisavam das suas pessoas”.

A dor é uma professora implacável

Ao ser perguntada se ela precisou recorrer aos seus repertórios da infância ou experiências vividas durante a pandemia, respondeu prontamente: “Com certeza! O esporte sempre fez parte da minha vida e eu passei isso para os meus filhos. Como moramos em uma casa, praticamos esportes juntos, jogamos vôlei, futevôlei, frescobol e, dentro de casa, jogamos ‘dorminhoco’. Outro recurso muito legal que utilizamos foi a música. Temos um estúdio de música em casa com vários instrumentos e o meu filho e o meu marido tocam violão. Fizemos saraus em casa, cantamos juntos e nos divertimos muito nesses momentos. Perdi meu pai quando era uma jovem adulta e ele me ensinou uma coisa que tenho sempre em mente: independente do degrau que você estiver, nunca esqueça dos seus valores, das suas raízes. Eu acho que a pandemia trouxe um esforço maior das pessoas cuidarem mais dos vínculos e resgatarem os valores”.

“Quando finalmente as coisas abrandaram um pouco e chegaram as vacinas foi tudo de bom. Eu senti muita falta de estar mais perto da minha mãe, de poder abraçá-la de novo, de voltarmos com os nossos almoços de domingo na casa dela. Poder desfrutar disso novamente e de uma forma mais parecida com o que era foi tudo de bom para mim e também poder ir para a rua, trabalhar, ir ao salão de beleza, para a praia, enfim, viver. Vamos lá, precisamos viver e lidar com os riscos de forma responsável”.

Quantos de nós precisamos buscar nos arquivos da memória, brincadeiras, jogos, esportes, saraus, muitas, até então deixadas de lado ou até mesmo esquecidas? E que curtição compartilhar com a família outras formas de conviver

“Eu brinquei de coisas na minha infância, como bolinhas de gude, que me fez lembrar muito meu pai. Eu brincava e chorava ao mesmo tempo de saudades. Meu filho me perguntou: ‘Papai você está chorando por que eu ganhei? Caí na gargalhada e no choro, ao mesmo tempo, e expliquei para ele a emoção daquele momento. Eu nunca tinha brincado com ele igual brincava com o meu pai”, se emociona Rodrigo, pai do Felipe de 10 anos. Vi um filho que não conhecia. Vi um adulto que foi criança um dia e tinha me esquecido disso”.

Pode-se dizer que este foi um dos ganhos da pandemia: a oportunidade inédita de recuperar lembranças e experiências do passado, (re)conhecer-se como a criança que fomos um dia. Flavia Machado, 44 anos, publicitária e criadora de conteúdo digital, 44 anos. Mãe da Luna, 6 anos e da Júlia, 3 anos. Casada com o Carlos, 44 anos, designer e executivo de marketing. Moram em Vinhedos, perto da capital paulista, ressaltou: “Nossa, quando penso sobre isso, nem imagino como passamos por tanta coisa… Quando estourou a pandemia, meu marido estava há pouco tempo com o seu próprio negócio e eu, naquele momento, estava empreendendo como consultora de estilo. A primeira coisa que fizemos foi reorganizar a nossa rotina e então combinamos de fazer um revezamento entre nós, visto que dispensaríamos a nossa rede de apoio que eram as nossas duas funcionárias. Decidimos que elas não viriam mais até que as coisas ficassem mais controladas e que seguiríamos pagando o salário delas”.

“De segunda a sexta as meninas estariam mais comigo, eu me ocuparia delas e tudo mais que envolve uma casa com duas crianças pequenas. A Luna, que é a mais velha, tinha 4 anos e a Júlia, a menor, 1 ano. Assim seria a semana e nos finais de semana o Carlos assumiria a casa e as meninas. Nesses dias, (sábados e domingos), eu ficava trancada boa parte do tempo no meu quarto dando conta do trabalho acumulado da semana. Sabe, durante a pandemia, criamos dinâmicas em casa muito interessantes, aproveitamos os conteúdos que recebíamos de grupos de mães, de amigos e de outras fontes, como: WhatsApp e Instagram. Fizemos muitas atividades! Isso nos ajudou muito, pois a Luna é uma criança que adora desenhar, explorar materiais e novas técnicas, ela se distraiu muito com essas atividades. E foram momentos em que brincávamos e criávamos juntas. Nossa rigidez com a arrumação e limpeza da casa se ressignificou na pandemia”.

“Somos um casal organizado, tínhamos a casa sempre em ordem, com os objetos no lugar e muito criteriosos com a limpeza. A primeira grande transformação foi que passamos a expor pela casa tudo o que produzíamos. Desenhos, pinturas, colagens, objetos que construíamos. A outra coisa é que dividimos o espaço da nossa sala em dois. Um banco deitado delimitava o espaço da Luna e o da Júlia. É claro que uma poderia visitar e estar no espaço da outra, mas a mais velha ficava muito chateada quando a mana destruía algum trabalho, por isso procuramos adequar e respeitar os espaços. Para mim um grande desafio era na hora de cozinhar, pois a Julia precisava estar no carrinho e nem sempre ela queria. Nesses momentos, a mana mais velha também me ajudou, distraindo a pequena”.

“Nos primeiros tempos da pandemia ficamos trancados em casa, não descíamos com as nossas filhas nem para o Playground do prédio. Lembro que a Luna nos pedia muito para andar de bicicleta e nós não saíamos de casa. Foi então que improvisamos um jeito que ela podia andar de bicicleta sem sair do lugar, assim gastava energia e andava de bicicleta. Conseguimos segurar o uso das telas com a nossa filha menor até vir a pandemia, a partir desse período, apresentei para ela alguns desenhos como ajuda para passar o tempo. As telas também foram usadas para vermos programas juntas, praticarmos Yoga, fazermos ginástica. Não usávamos esses recursos todo o tempo, administrávamos entre uma atividade e outra. Meu marido e eu também nos revezávamos para meditarmos, afinal era imprescindível para mantermos nossa saúde mental. Nem que fosse 15 minutos para cada um, mas meditávamos”.

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Andressa Simonini, editora-executiva da Pais&Filhos está concorrendo ao Troféu Mulher Imprensa
Andressa Simonini, editora-executiva da Pais&Filhos está concorrendo ao Troféu Mulher Imprensa (Foto: Divulgação/Pais&Filhos)

Outro momento do dia muito esperado era a hora que as nossas filhas falavam por vídeo chamada com os avós e os primos. Diariamente, o vovô João e a Vovó Maria Theresa, ligavam por vídeo chamada e conversavam com as meninas, era um momento muito esperado por elas, pois além de ver os avós, viam os primos Tom, que tinha dois anos e a prima Ciça, 1 ano. Meus pais contavam histórias, mostravam algum vídeo e elas se iluminavam nesses momentos. No início, foi mais difícil, pois os avós também precisaram aprender a compartilhar a tela, usar alguns recursos que não faziam parte do cotidiano deles”.

“Em relação às brincadeiras, eu brinquei com as meninas de muitas coisas, por exemplo, permiti que usassem as panelas ‘de verdade’, distribuí punhadinhos de feijão e arroz para elas brincarem de fazer comidinhas, também ensinei a Luna a dobrar as roupas e me ajudar a guardar. Nesses momentos, fizemos alguns vídeos para a nossa secretária da casa, a querida Sirleide, que infelizmente veio a falecer por um AVC repentino. O meu marido também brincou. Como ele gosta de cozinhar, propunha jantares temáticos: tivemos a noite dos hambúrgueres, a noite do macarrão dentro das cabaninhas dos quartos. Para esses jantares, contávamos também com a ajuda da Luna. Outra coisa que inventamos e nos ajudou foi a aquisição de uma piscina inflável, que colocamos na nossa varanda. Compramos uma piscina que cabiam as duas, nos ajudou nos períodos mais quentes, nós dois ficávamos do lado de fora olhando elas se divertirem enquanto brincavam e se refrescavam na água”.

Percebi que as nossas filhas ficaram felizes em passar mais tempo conosco

“A pandemia modificou coisas em mim, por exemplo, tornei-me uma pessoa mais caseira, valorizo mais ainda os contatos com a natureza, isso veio tão forte que decidimos nos mudar. Hoje moramos numa cidade pequena, perto de São Paulo”.

Fábio Segal, médico, pai do Felipe, 19 anos e da Valentina, 6 anos. Casado com a Renata, também médica. Moram em Porto Alegre/RS, relatou: No final de fevereiro, início de março de 2020, quando fomos bombardeados com aquela avalanche de informações de todos os lados, as pessoas me perguntavam, como médico, o que eu estava vendo. Nessas horas, dizia que achava que as coisas não seriam bem assim, que estávamos muito alarmados com um excesso de informações e desencontradas. Porém, na metade de março, quando tudo parou, eu percebi a primeira grande mudança – TODOS EM CASA e CONFINADOS. Esse foi o primeiro desafio, ficarmos todos juntos em casa e com a incerteza do amanhã”.

“Antes da pandemia, minha vida se dava, de maneira mais ampla, mais fora de casa. Dividia meus turnos entre atendimentos no hospital e no meu consultório. De repente, tudo fechado e quando flexibilizou um pouquinho, os pacientes tinham medo de sair de casa. Foi um choque, chegar na maturidade profissional e me deparar com a insegurança do meu futuro profissional. Me vi sem perspectivas, foi um período realmente muito difícil. Obviamente que tentei blindar dos filhos as preocupações, mas eles percebiam o meu sofrimento, estava tatuado no meu olhar”.

“Num determinado momento, minha mulher e eu decidimos que filtraríamos as informações, o que nos deu um certo alívio. Passamos a escutar e ler somente os especialistas da área. A partir dessa decisão, tivemos um certo alívio e tentamos aproveitar a parte boa do convívio estreito em família. Tivemos que nos reinventar, para os filhos era muito estranho nos verem todo o tempo em casa e, ao mesmo tempo, tinha essa possibilidade de convivermos mais, o que foi bom. Faltava o tempo e a privacidade de cada um e também do casal, foi uma ginástica! O espaço do casal e os espaços individuais ficaram prejudicados”.

“Em relação ao meu filho mais velho, o Felipe, no início do confinamento ele aproveitou para ficar mais no seu quarto, passava muitas horas do dia jogando no computador. Lembro que um dia ele veio falar comigo e me disse que estava cansado de jogar e que os recursos imaginários estavam se esvaziando, que sentia falta dos amigos, das pessoas. Como ele sabia que não poderia sair, me trouxe a ideia de adotarmos um cachorro. Adotamos a Atena, que tem a idade da pandemia. Com a nossa filha menor, a Valentina, 6 anos, foi mais desafiador. Tivemos que dar conta de sermos, além de pais, professores e amigos, o que não foi tarefa fácil. Fizemos um revezamento, às vezes eu me ocupava das tarefas com a pequena, outras, a mãe. Jogamos todos os tipos de jogos com ela, isso ocupava um tempo do dia, mas o tempo era loooongo… Sempre que possível, fazíamos juntos as refeições”.

“No início, quando as aulas da Escola da Valentina passaram a ser online, ela fez. Mas, passados um tempo, ela se desinteressou, sentia muita falta da rotina de ir para a Escola e conviver com os colegas. Um dia, disse: ‘Não quero mais fazer aula ONLIME, pai’. Percebi aí que ela tinha acusado o golpe e, a partir desse momento, dedicamos mais tempo para ela e também revisamos nossa postura quanto ao rigor do confinamento para a nossa filha. Temíamos que a falta de socialização para a nossa filha pudesse ser pior do que pegar Covid. E, pelas informações dos especialistas que tínhamos, o vírus para as crianças sem comorbidades não era tão perigoso como para os adultos. A partir da nossa decisão, a Valentina passou a frequentar a área comum do nosso prédio, usando máscara e lavando as mãos com mais frequência. Decidimos cuidar, mas não exagerar com os cuidados e assim fizemos. Felizmente, mesmo trabalhando com pacientes com o vírus, não nos contaminamos na pior fase, quando ainda não tínhamos as vacinas”.

“Percebo no meu consultório os efeitos da pandemia nos pacientes. Vejo muitas pessoas tristes, com dificuldade de retomar, queixam-se de mais solidão, como se tivessem com menos esperança.
Quando me lembro e penso naquele período tão difícil e sem perspectiva, procuro passar uma borracha. Ter uma criança em casa foi realmente o que nos ajudou. Vê-la brincando, alegre, sorrindo, se divertindo era transformador, pegávamos carona nessa vibe dela e a esperança se reacendia”.

Territórios de imaginação e faz-de-conta foram se criando, estimulados pela necessidade de movimento e curiosidade. Mundos foram inventados, plenos de emoções – alegria, raiva, competição, frustração, prazer.  Todos aprenderam – pais e filhos e, também, avós, tios -, porque brincar não é prerrogativa apenas das crianças (como muitos pensavam até então). Valeu para todos, pois a alegria de participar trouxe junto o profundo sentimento de fazer parte, de confiança, de intimidade, que só cresceu nesta experiência de confinamento. Novas ordens de sentido e de representação foram criadas. Tivemos necessidade de desaprender um modo de viver para aprender outros, em remanejos proporcionados pelo convívio com os filhos – crianças, adolescentes e adultos.

SABERES E SABORES NOVOS, POIS, COMO DIZIA ROLAND BARTHES, SABER E SABOR TÊM A MESMA ETIMOLOGIA.

Se brincar era coisa de criança, constituindo um mundo completamente apartado dos “adultos”, que fantástica revolução a pandemia produziu, compelindo todos, crianças e adultos, a ficar em casa, compartilhar o mesmo espaço, aprender a conviver, a buscar formas de usar o tempo e a condição de proximidade, se descobrir e recuperar a infância, para muitos. Para outros, desenvolver recursos até então inimaginados, nessa difícil e complexa viagem de lidar com o caos e transformá-lo em experiência inesquecível.

Assista ao POD&tudo com as gêmeas Bia e Branca Feres


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