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O que aprendemos com a pandemia da covid-19?

A pandemia nos trouxe uma nova forma de enxergar o mundo e as relações - iStock
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Publicado em 20/04/2022, às 09h54 por Dado Schneider, Valesca Karsten, Marisa Eizirik e Bia Borja


Continuamos nossa travessia de explorar questões importantes acerca do momento que vivemos. O PAISdemia, que se dedica a observar os fenômenos causados pela pandemia nos pais e seus efeitos nos diversos segmentos da sociedade, foi agora buscar as respostas para a pergunta “O que aprendemos com a pandemia?”.

A pandemia nos trouxe uma nova forma de enxergar o mundo e as relações
A pandemia nos trouxe uma nova forma de enxergar o mundo e as relações (Foto: iStock)

Os efeitos da covid-19 mudaram a vida como a conhecemos, tanto no aspecto individual — no qual habitam as rotinas e prioridades — até na vida coletiva, no amplo aspecto planetário. Talvez tenha mudado para sempre. Ainda não podemos anunciar certezas. Mas podemos discutir e refletir sobre fatos reais provenientes de aprendizagens oriundos das experiências vividas nos 2 últimos anos.

Fefa Alfano, publicitária, atriz e pedadoga. Mãe do Rafael, 11 anos e do Felipe, 9 anos. Casada com o Eduardo. Mora em São Paulo, respondeu após um longo suspiro: “Nossa… O que eu não aprendi…. Com certeza a ser mais resiliente, a ser menos ansiosa, colocar mais os pés no chão, a fazer menos coisas. A pandemia me trouxe mais para o agora. Viver o hoje e mais intensamente com a minha família. Meu marido trabalha muito, pouco fica em casa, já eu trabalho mais em casa, sou criadora de conteúdo digital no @promovidaamae, no Instagram, além de fazer vídeos para o TikTok. Vivi na pandemia uma mistura de sentimentos, teve momentos que me senti invadida na minha própria casa, pois quando os meninos iam para a escola e o meu marido ia trabalhar, eu tinha o meu tempo, a minha privacidade. No confinamento, não tinha mais o meu espaço, fui mãe, professora, assumi multitarefas. Tiveram momentos nos quais precisei parar, respirar, me acalmar e me agarrar na esperança. Nessas situações, eu pensava: calma, vai passar! Meus filhos me diziam que não era justo não saírem, não irem para o colégio. Aproveitava esses momentos para conversar com eles, retomando valores como estarmos juntos, com saúde, e mostrava para eles que isso era o mais importante. Eu sinto que evolui como ser humano, aprendi a valorizar a saúde, tive e tivemos, em família, momentos de crescimento e aprendizagem. Ficou para nós marcado e estamos seguindo conversando mais entre a gente, procurando o entendimento, a prática da escuta e da fala”.

Desenvolvemos a capacidade de resiliência, de suportar frustrações e limitações, de viver com menos (em todos os níveis), ser mais tolerantes com as frustrações, como podemos ver no depoimento a seguir, de Henri Zylberstajn, 42 anos, empresário. Casado com a Marina, pais da Nina, 9 anos, Lipe, 6 anos, e do Pepo, 4 anos.

“Foram muitos os aprendizados, mas vou me ater aqui a dois: a gente faz planos, projeta, mas Deus olha e nem sempre concorda com eles. Isso pessoalmente já tinha acontecido comigo, quando eu tive o meu terceiro filho e um dia depois do nascimento, descobri que ele tinha Síndrome de Down, então, meu plano não era esse. Deus mandou um plano diferente. No começo, eu não entendi bem, não recebi bem e hoje eu brigo com Deus e pergunto porque ele levou tanto tempo para me apresentar um plano tão incrível, que é o da diversidade e da pluralidade humana. A outra história da pandemia foi mostrar que o que importa na vida mesmo é você tentar ser feliz, com saúde, e ao lado de quem importa para você, isso é o que interessa. A pandemia nos trancafiou em casa, em uma situação super delicada e aí o que realmente importava é você ter saúde e estar perto de quem você ama. A gente nunca mais quer uma pandemia no mundo, mas que fique a lição: em relação ao plano, a vida é hoje, quem fica vivendo só do futuro acaba não conseguindo viver o presente. Aproveitar o presente é o que realmente importa, estar perto da família, dos amigos, preservando a saúde física e emocional”.

Rômulo, 60 anos, publicitário catarinense, pai de duas adolescentes traz uma reflexão sobre marcas da pandemia, a resistência e, ao mesmo tempo, escancara as nossas vulnerabilidades sociais: “Aprendi que sou muito mais forte e resistente do que imaginava ser e, infelizmente percebi, em minhas viagens a trabalho e lazer, que o comportamento das pessoas está menos amigável. Acho que quem era agressivo e fazia pouco caso das pessoas, piorou com a pandemia”.

A dor e a dificuldade resgatam forças e capacidades inimagináveis.

Claudia, 55 anos, empresária gaucha aprendeu na dor e na coragem a lidar com o seu desespero. Diante de tantos desafios, com seu negócio ameaçado, recém-separada de um longo relacionamento, precisou encarar os seus demônios e medos: “Teve momentos que pensei em tomar medicação, em meio a tantas noites insones, tive medo de adoecer, mas, aos poucos, com ajuda da minha filha e do terapeuta fui ressignificando, coloquei mais atividades físicas na rotina, durante o confinamento, cursos online e consegui terminar uma formação acadêmica em EAD e, aos poucos e com muito trabalho e dedicação, retomei o meu negócio”.

Saberemos lançar mão da memória, função fundamental do ser humano? Ou seja, não esquecer aspectos fundamentais como a higiene: lavar as mãos, usar máscaras, usar álcool gel, ficar em casa em caso de doença ou mal-estar, cuidar de si e preocupar-se com os outros, com sua saúde e bem estar. Aprendemos a conhecer e conviver melhor com nossa família, nossos mais íntimos – pais, maridos/esposas, filhos, irmãos.

Nicácio Belfort, 39 anos. Professor de história , coordenador de biblioteca da Rede Estadual de Pernambuco e também escritor. Trabalha e mora na cidade de Belém de São Francisco. Casado com a Eveline e pai do Benjamin, 6 anos, e do Lucas, 3 anos, comentou: “Eu aprendi com a pandemia a ficar mais em casa, a aproveitar a família. Mesmo com o medo e o susto, principalmente no início, no período mais difícil, aprendi a ressignificar as coisas, a dar mais valor para estar com os filhos e a brincar com eles. Acho que fiquei mais humano, me tornei mais sensível em relação aos outros, mais ligado a casa, à família, ao lar. A sensibilidade veio mais à tona para mim. Ficará como aprendizado da pandemia a dar continuidade a alguns protocolos, como prevenção. Pretendo seguir usando álcool em gel, lavar as mãos, seguidamente, com água e sabão, tirar os calçados ao entrar em casa.”

Sempre falamos dos pais, mas hoje trouxemos a visão de um filho. Lucas Lobraico Libermann, 23 anos, estudante de medicina, mora em Porto Alegre-RS, pontua: “Eu aprendi com a pandemia a selecionar melhor as pessoas que me cercam e também a priorizar estar perto das pessoas que me jogam para frente, além de ter mais foco em mim e rever o que realmente importa. Acho que eu amadureci nesse período, sinto que passei de uma fase de adolescente para uma de adulto jovem. Me vejo mais disciplinado, menos desorganizado, gerencio melhor meu tempo e as coisas que tenho para fazer. A pandemia me ensinou a valorizar o convívio com as pessoas que são importantes para mim. Uma coisa que virou rotina – e que pretendo seguir fazendo – é o hábito de lavar as mãos com água e sabão com frequência”.

Agora os aprendizados de uma filha. Catarina, 22 anos, gaúcha, estudante de psicologia, conta que amadureceu e aprendeu muito na pandemia: “Ajudei minha mãe na empresa da família, do qual vem nosso sustento. Aprendi o valor do dinheiro e a importância de ter reservas para os imprevistos. Fiz coisas que nunca imaginei fazer, como edição de vídeos, tabelas complicadas na área de finanças. Também aprendi a buscar recursos em mim mesma para conseguir ter momentos de descanso e curtir o que podia, mesmo com tantas preocupações com a faculdade e o negócio da família”.

Aprendemos a valorizar as pequenas coisas, as mais simples da vida, aquelas que sempre foram invisíveis ao nosso olhar e ao nosso sentir. Aprendemos a importância de nos conectarmos com outros, através da tecnologia e de seus muitos canais, para superar a solidão e a tristeza, trazidas pelo confinamento, pela doença e as mortes de entes queridos.

Mariana Felício, influenciadora digital, casada com o Daniel e mãe da Anita, 7 anos, do Antônio, 6 anos, e dos gêmeos José e João, 4 anos, relata: “A pandemia, para nós que moramos no interior, em Passa Quatro-Sul de Minas, teve uma vantagem, pois é uma cidade pequena, moramos em uma casa com quintal, com pomar, então foi muito bom para nós neste aspecto. Quando eu falava com minhas amigas que estavam nas cidades grandes, em apartamentos menores, imagino que deva ter sido muito difícil para essas famílias. Eu tive muito medo da covid, muito tinha a ver com o período que os meus filhos gêmeos nasceram. Eles foram prematuros, nasceram com 29 semanas de gestação e um deles ficou 72 dias entubado. E essa palavra foi muito dita na pandemia, eu não podia imaginar ver meus filhos nessa situação, me dava um pânico só de pensar. Ainda hoje, com a pandemia melhor, quando um deles fica com febre eu fico assustada. Eu tive covid, fiquei isolada em um quarto de casa, minha mãe veio nos ajudar. Eu morria de medo de morrer, pensava como os meus filhos ficariam sem mim, de como o meu marido iria dar conta de criar nossos quatro filhos sozinho e, ainda, o medo de passar o vírus para a minha mãe. Precisei nesse período recuperar a minha fé para poder suportar, teve horas que eu pensava que isso não ia acabar nunca, mas passa, ainda bem! Durante a pandemia decidimos construir uma casa nova, nesse momento ela está em construção. Tanto eu, quanto o meu marido, trabalhamos muito na pandemia, tivemos bastante demanda de trabalhos. Temos em comum o valor que damos para a família, de curtir os filhos, nossos pais e familiares. Nós já éramos assim antes da pandemia e esse período só veio reforçar isso ainda mais para nós. Eu perdi o meu pai há 10 anos, ele morreu jovem, com 53 anos. Ali me dei conta da brevidade da vida”.

Aprendemos a amar, a escutar, a cuidar, a respeitar e a querer ajudar, sempre que possível e necessário. Aprendemos a humildade de não saber e não controlar.

Geovanna Tominaga, 42 anos, paulista e mora no Rio de Janeiro. É jornalista, apresentadora e criadora de conteúdo digital. É mãe do Gabriel, que tem 2 anos e 10 meses, e casada com o Eduardo, reflete: “Aprendi com a pandemia muitas coisas, a que me ocorre falar é que me dei conta que sou muito mais forte do que eu imaginava ser. Tive momentos de muita angústia e sofrimento e, ao mesmo tempo, fui tomada por uma força, um desejo de produzir e ajudar as pessoas, fazer pelo outro. Sabe, parece clichê, mas a maternidade mudou a minha vida, a minha visão de mundo. Pensando nisso, criei o projeto @conversas maternas, que é um lugar com conteúdo elaborado e temas que ajudam as mães. São assuntos elaborados por especialistas de diversas áreas, com informações confiáveis, fundamentadas e com acesso gratuito, os conteúdos são abertos. Na pandemia, fomos obrigados a nos confinar. Mesmo com a casa cheia, nos isolamos e isso nos deu a oportunidade de refletir sobre nós mesmos, deu para perceber quais os vínculos eram fortes, porque com esses, mesmo de longe, ficamos perto. Hoje me percebo dando menos importância para bobagens, percebo melhor meus limites, parei para me ouvir e sentir.

Nem todos, porém, relatam um aprendizado com a pandemia. Vanessa Abdo Benaderet, psicóloga, professora universitária e CEO do @Mamis Na Madrugada. Paulista, 41 anos, mãe da Laura, 10 anos e do Rafael, 8 anos. Casada com o Guilherme, comenta: “Eu fico constrangida em não ter uma resposta bonita sobre o que eu aprendi na pandemia, mas eu acho que não aprendi nesse período… Senti muita frustração e medo. Perdi a minha mãe e trabalhei tanto… Fui muito demandada profissionalmente, as pessoas precisaram de atendimento além do que eu estava habituada e eu entendia que precisavam, por isso trabalhei muito. Ouvia que as pessoas diziam que acreditavam que após a pandemia os sujeitos ficariam melhor, o que eu não acredito, infelizmente. Teve coisas boas também nesse período, como momentos de qualidade com os filhos, tivemos oportunidade de viajar, de estarmos mais juntos. Fiz uma horta, me dei conta que é uma coisa que curti muito fazer, tirar os trevos que insistiam em nascer perto da minha mudinha de alecrim, pretendo seguir fazendo isso, é para mim muito relaxante. Ah também adotamos uma cachorrinha vira-lata, a Aurora, é a nossa paixão”.

Alegria, tristeza, tédio e entusiasmo, desespero e esperança. Como pesquisadores, não sabemos quais serão os reflexos reais de tantos sentimentos e os frutos dos aprendizados, ao longo dos anos, nas vidas dessas pessoas que entrevistamos. Se são questões internalizadas para sempre no comportamento deles; ou se novas formas de viver e experimentar serão consolidadas, desde já, ou ao longo dos próximos anos.

Não sabemos. É aí que está a riqueza da nossa coleta de diálogos e das análises que desenvolvemos para traçar as rotas do PAISdemia. Da mesma forma que a maioria aprendeu a conviver com a imprevisibilidade e a incerteza, nós estamos reaprendendo a aprender. A cada coluna, apuramos o nosso olhar e enxergamos novos caminhos. Seguimos aprendendo, pois a vida é processo e escola contínuos, sempre abrindo brechas para seguir experimentando a grande aventura e a complexidade do viver. “Se não formos capazes de capturar e apreender a vida, ela escapará entre nossos dedos.” (Montaigne)


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