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O que os pais querem neste Natal: trocar presentes ou estar presente?

O Natal ganhou um novo significado para as famílias com a pandemia - Shutterstock
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Publicado em 17/12/2021, às 11h58 por Dado Schneider, Valesca Karsten, Marisa Eizirik e Bia Borja


No ano passado, a pandemia nos obrigou ao isolamento. Muitas famílias celebraram a data via aplicativos e foram absorvidas pela planura das telas e a ilusão do compartilhamento. A separação física de avós e netos; pais de seus pais, irmãos, amigos e parentes foi sentida de diferentes formas. Obrigados a viver a vida on-line, crianças e adultos, a maioria distantes, inalcançáveis ao cheiro, ao perfume, ao suor e às lágrimas.

O Natal ganhou um novo significado para as famílias com a pandemia
O Natal ganhou um novo significado para as famílias com a pandemia (Foto: Shutterstock)

Corpos afastados. Mas, conversando com as pessoas nas nossas andanças mais recentes percebemos que elas, de alguma forma, estão esperando ou já celebrando reencontros. A saudade ainda persiste, mas a presença grita mais alto.

“Nesse Natal me sinto presenteada pela vida e também  através dessa pesquisa que faço parte, construindo pontes por meio da escuta e escrita, ajudando, assim, essa geração de pais e filhos na travessia desse momento que estamos vivendo”. – Valesca Karsten

Vamos falar de presença e o que desejamos para o agora?

Victória, 5 anos, pergunta: Mamãe, no ano que vem. vou poder comemorar o meu aniversário com os meus amigos e colegas? Eu troco os presentes de Natal pela festa do meu aniversário, negocia a menina.

Roberta, 40 anos, médica, é a mãe da Victória e, também, madrasta do Bruno, 19 anos: “A Victória me pergunta coisas incríveis. Me impressiona pela forma como ela percebe o que está acontecendo. Perguntou também se o Corona já vai ter ido embora, em abril do ano que vem (aniversário dela), porque as crianças ainda não estarão vacinadas.

Henrique, 6 anos, também questiona: Papai, por que você, a mamãe, a vovó e o vovô se vacinaram e eu não? Quando esse Corona vai terminar?

A cada pergunta, um desafio para os pais. O desejo da presença está claro entre as crianças e o sentido de pertencimento também.

Ana Paula, psicanalista, mãe de um menino de 2 anos, conta como foi o Natal do ano passado.

– Em 2020, nós alugamos uma casa grande na Serra. Preocupei-me em higienizá-la, meticulosamente, para convencer meus pais, que já tem idade avançada, a irem passar o Natal conosco. Foi a primeira vez que eles saíram de casa para uma pequena viagem durante a pandemia. De Porto Alegre para Canela, viagem usualmente curta, naquele ano foi longa, eles viajaram devagar e com medo. Acomodei meu pai e minha mãe num quarto longe do meu e nos cruzávamos pela casa com distância e sempre usando máscaras. Na véspera de Natal, jantamos numa mesa imensa, nos olhávamos à distância. Perto, mas longe, essa era a sensação. Eu não podia imaginar o meu filho pequeno sem os avós nessa data, meus irmãos moram longe, foi o que deu para fazer. Para esse ano temos a perspectiva de estarmos juntos com mais pessoas.

Nem todos conseguem usufruir do espírito do Natal, porque para muitos representa o  impacto da ausência de pessoas queridas, como a cabeleireira Laura, paulista, 41 anos, para quem, desde a morte do seu irmão, o Natal perdeu a graça e o encanto. “Nós comemoramos porque a vida segue, tenho os meus pais e as minhas filhas, mas, independentemente da pandemia, é uma data muito difícil para nós. Foi no ano passado e continuará sendo neste ano”.

Maria Luísa, jornalista, 44 anos, mãe de dois filhos

– No ano passado, eu estava de corpo presente em casa, mas a alma estava fora, gritando de dor e raiva.

– Por que raiva?

– Raiva de estar presa. Mesmo com os meus filhos, as paredes da casa estavam me sufocando. Eu queria sair. Estar em casa me forçava a ter que fazer algo “família feliz”, que naquele ano não tinha sentido algum para mim. Eu estava cansada, exausta daquele ano massacrante. E foi o primeiro Natal depois da minha separação. Nada me deixava feliz, nem mesmo a presença dos meus filhos. Pelo contrário. Eu, ali sozinha com eles, era o atestado de fracasso. E me cobrei muito por isso, me senti uma péssima mãe. Chorei a noite toda. Dormimos cedo. Meu filho perguntou: “Por que ninguém da nossa família nos chamou para a Ceia?”. Eu respondi que naquele Natal, cada grupo do nosso núcleo familiar iria ficar em casa e fazer a sua própria celebração”. Aí ele disse: “Mas, nós não temos Natal, mãe. O nosso Natal sempre foi com a família”. Ele tinha razão. Não tínhamos o nosso Natal. Isso caiu como uma bomba dentro de mim. Eu prometi para mim mesma que esse ano seria diferente e está sendo. A chave virou quando percebi que só posso oferecer o que tenho e não preciso me cobrar tanto. Aquela analogia da máscara do avião – o oxigênio primeiro para mim e depois para os meus filhos. Mudei, me reinventei, ressignifiquei o formato de família e o Natal será a consagração desse novo momento.

João, desempregado, pedindo dinheiro no semáforo, com uma placa pedindo ajuda e o número do PIX da esposa dele. Fomos conversar com ele.

– O Natal no ano passado foi bom. Eu ainda tinha emprego. Nesse ano, meus filhos estão passando fome. A minha mulher está deprimida e não consegue trabalhar mais. O que eu recebo de dinheiro aqui ajuda no mínimo. Ninguém quer me dar emprego (João é deficiente, não tem o braço direito). Amputei por conta da diabetes. A nossa vida está muito difícil e os meus filhos, tenho medo deles ficarem órfãos. Estamos pensando seriamente em voltar para o Norte. Se tiver que passar fome, que seja perto da nossa família.

João está todos os dias até às 14h, circulando entre os carros com o papelão na mão pedindo ajuda. “Vejo no rosto das pessoas, a vergonha. A maioria não me encara. Sei que a minha presença incomoda elas. Um ou outro me olho nos olhos, me ajuda ou pelo menos deseja boa sorte”.

Mário, 55 anos, pai de 3 adolescentes

– A pandemia me salvou. Tenho até vergonha de falar isso, diante de tantas mortes e sofrimento de tantas famílias. Mas foi na pandemia que tive a coragem de me separar e ter forças para enfrentar isso. Foi muito difícil, mas precisava acontecer. Hoje sou um pai totalmente diferente depois de encarar o medo do rompimento. Estou muito mais feliz, mais próximo dos meus filhos, mais leve e conectado a mim. Me olho no espelho e vejo outro cara. Me reinventei em todos os aspectos. Estava morrendo aos poucos e não tinha coragem. O confinamento explodiu a bomba que já estava armada. Parei de me cobrar tanto, aceitei os meus limites e a minha fraqueza. Será o meu primeiro Natal sozinho, depois de 27 anos de casado, e estarei muito bem de corpo presente comigo. Pela primeira vez, estou entendendo o real valor da solitude e como ela não tem nada a ver com solidão. Nunca me senti tão presente no agora e pertencente a minha essência.

Histórias distintas, dores particulares, percepções diferentes e individuais, mas que têm em comum a necessidade de lidar com o incômodo – seja a dor da ausência de algo, da saudade, do distanciamento ou da falta de coragem. Em cada relato, existe um vazio a ser preenchido. Falta comida, amor próprio, abraço ou simplesmente uma explicação. A tristeza, a dúvida, a melancolia e os alívios que enxergamos nas conversas com os entrevistados nos mostram que temos saudades do tempo que corre, escorre, do livre fruir dos dias, da alegria das coisas banais, do cotidiano, da rotina e da vontade de viver o novo.

Saudade dos encontros, dos abraços, dos beijos e das histórias ainda não vividas. Dos rostos (des)mascarados, dos sorrisos, da espontaneidade. Saudades de muitos queridos que partiram. Em tudo isso, temos o poder do corpo presente. A história do corpo é nossa própria história, inserida no universo social, cultural, religioso, econômico, mas também íntimo, a relação conosco mesmos, com os familiares, os amigos.

João carrega no corpo a dor de uma doença. Mário, agora se reconhece diante do espelho. Fabiana foi resgatar a alma e trazê-la de volta para o corpo. Victória quer a brincadeira de criança corpo a corpo com os amiguinhos. Laura sente a falta do contato físico do irmão. Ana Paula esteve com os pais no Natal passado, mas somente agora poderá abraçá-los. Henrique questiona porque ele não pertence ao grupo dos vacinados.

Seja qual for a história, a promessa e o desejo, neste Natal, é que estaremos DE CORPO PRESENTE, com as esperanças e as dores que nos fazem acreditar que a vida segue. Presente, passado e futuro se complementam e se opõem, porque não seremos os mesmos do passado, mas podemos remediar isso com a afirmação da liberdade e da alegria de viver o presente e projetar o futuro.

Que pais estamos sendo e seremos quando (e se) a pandemia passar? Teremos saudades dos supérfluos, que tanta importância tiveram em nossas vidas? Nostalgia pelo tempo e pelas oportunidades perdidos? Como tudo isso afeta nossos filhos? O tempo está, lentamente, respondendo a essas perguntas. E vamos seguir pesquisando e procurando mais histórias. Até a próxima jornada!


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