Colunas / Mãe de Mochila

Anil e turquesa

arquivo pessoal
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Publicado em 05/07/2018, às 16h59 por Rebecca Barreto


Tem dias que a gente acorda e não acredita na sequência de acontecimentos da vida que te leva a estar ali, naquele momento, onde estamos. Acordei, vendo um mar azul anil se mesclar em bordas turquesa do Oceano índico. E eu, com meus parceirinhos de viagem, sentamos no restaurante do hotel para um café da manhã ocidentalizado, cheio de café com leite, melancias e torradas.

Vendo pela janela de vidros largos, e transpirados da maresia noturna, avistamos e começamos a conversar sobre um casal jovem, sentado ali na mesa externa, abraçados, numa vibração lua de mel. Ele, com shorts largo de linho cru e camisa branca, com boné bege e sandálias largas, parecia saído de um filme onde Itália-encontra-Marrocos. Ela, toda de preto, com uma burka de véus finos sobrepostos que balançavam ao vendo. Seus pés, escapavam de sapatilhas douradas para raspar seus dedos na beirada do mar cintilante e na areia farinha branca do Atoll que estamos aqui nas Maldivas.

Parecia que cada um dos seus dedinhos do pé transbordavam felicidade de ver o sol. Ela encostava sua cabeça no ombro do marido e eles se olhavam, estupefatos com o cenário assim como nós, em meio aos nossos potes de Sucrilhos, também estávamos estarrecidos. Ali, eu via amor, e via muito respeito, dele puxando a cadeira, mostrando tudo para ela e ela, somente com seus olhos através da fenda da burka, assinalava felicidade no olhar.

Meu filho menor, queria apontar e perguntar, então tentei explicar as diferenças entre burka preta e hijabs e túnicas coloridas que tanto vemos em Singapura, e os porquês destes, no meu raso conhecimento sobre a cultura islâmica. Depois da breve explicação, fiz a minha tradicional enquete de mãe, e perguntei `a minha filha mais velha:

– Filha, a gente pode ir lá naquele canto da praia, com nossos biquinis e maiôs, ficar ali brincando na areia do lado deles?

– Não sei mamãe

– Talvez poder a gente pode, mas a gente deve? pq na nossa cultura, biquíni na praia faz todo sentido, não?

– Sim, faz mamãe, mas acho que a gente não deve.

–  Por que filha?

– Por respeito a eles, mamãe.

Tava ali, o diploma de cidadão do mundo que ela tinha acabado de me provar que já possuía, nas férias em que todos comemoramos dois anos de vida na Ásia.

Maldivas é um dos menores países independentes do mundo. Um conjunto de 3 mil ilhas dentro de cerca de 26 atóis, onde grande parte parece um anel turquesa e branco, no meio da imensidão azul do mar. De totalidade Muçulmana, desde 1163, quando o Budismo deixou de ser seguido, este país de 400 mil pessoas somente, já pertenceu ao Commonwealth britânico sem nunca ter abdicado de sua soberania. Foi por 15 anos dominada pelos portugueses, período visto como muito violento e brutal no século 16 na sua história de mais de 90 sultões.

Ainda no grupo de países mais pobre do mundo, e com mais de 90% da população sendo alfabetizada, todos falam a língua oficial Dhivehi, sabem escrever e compreender sua maluca caligrafia que mistura riscos árabes `as bolinhas das escritas indianas, e muitos falam inglês devido a 2/3 da população ter, em algum momento, estudado nas escolas de currículo inglês em meio `a tradicional escola islâmica.

Hoje o novato governo democrático de poucas décadas de existência prioriza seu trabalho em crescimento do turismo, expansão das ilhas de vilarejos para população e prevenção dos efeitos do aquecimento global, que aterroriza com a idéia destas ilhas desaparecerem, a todos que, como eu experimentaram ver essa gama de cores azuis, diferente de tudo que já vi pelo mundo.

Visitamos vilarejos dos locais, entramos em fábricas de barcos de madeira que levam anos para ficar prontos e serem vendidos para os grandes hotéis, conhecemos famílias cujas mulheres encapuzadas lideravam seus bandos de filhos pelos caminhos da cidadela e eu como sempre amo fazer entrei em mercadinhos para ver os alimentos, os sabonetes, os brinquedos chineses.

Passamos por duas mesquitas novas, uma quadra de futebol e uma escola. Visitamos a escola, que já se encontrava vazia de alunos. Volta e meia, cantorias por radios em postes mostravam que era hora dos habitantes irem orar virados para Meca. E o mais louco foi notar que nas ilhotas-vilarejos locais, as praias sonhadas de Maldivas foram aterradas para mais espaço, e que banhar-se ao sol na areia farinhenta e esbranquiçada nem é uma opção para os maldivianos. Ou seja, o nosso azul turquesa tem outro valor para eles.

(Foto: arquivo pessoal)
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