Criança

Criança tem que ser criança: entenda os perigos de acelerar a infância do seu filho

Não acelere a infância, ela tem data para começar e acabar. Criança tem o direito de ser criança, algo que está garantido por lei pelo ECA - Thinkstock
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Publicado em 23/08/2023, às 11h00 - Atualizado às 12h12 por Jennifer Detlinger, Editora de digital | Filha de Lucila e Paulo


Antes de qualquer coisa, a criança tem o direito de ser criança. E isso significa poder brincar, estudar, fazer amigos e ter o amor e proteção da família. Em alguns lares, é comum vê-las assumindo papéis que não cabem à idade e ao preparo psicológico delas. Seu filho não deveria precisar se preocupar com os problemas do casamento ou financeiros, por exemplo. Por mais maduro que seja, ele não pode assumir alguns pesos e responsabilidades que cabem apenas aos adultos.

Não acelere a infância, ela tem data para começar e acabar. Criança tem o direito de ser criança, algo que está garantido por lei pelo ECA
Não acelere a infância, ela tem data para começar e acabar. Criança tem o direito de ser criança, algo que está garantido por lei pelo ECA (Foto: Thinkstock)

Criança ocupada demais deixa de ser criança

Nas últimas décadas, é cada vez mais frequente a preocupação excessiva (mas legítima) dos pais com o futuro dos filhos. O problema não é a preocupação em si – afinal, você deseja sempre o melhor do mundo para o seu filho – mas sim as soluções buscadas. Uma pesquisa feita em 2018 pelo portal médico WebMD, nos Estados Unidos, mostrou que 72% das crianças entre 5 e 13 anos demonstram sinais de estresse e que 60% dos pais não notam. Em meio à correria do dia a dia, temos visto crianças pequenas superatarefadas e estressadas com tantas atividades. Na tentativa de preparar seu filho para o futuro e investir em uma educação de qualidade, você pode acabar esquecendo da verdadeira obrigação dele: ser criança, e não um miniadulto.

Criança precisa se vestir como criança

A infância é aquele momento gostoso da vida em que somos livres para nos divertirmos e sermos quem quisermos. E as crianças têm que se vestir adequadamente para poder explorar o mundo que estão descobrindo. Afinal, o que queremos dizer é: criança deve se vestir como criança. Nada de adultizaçãoe vulgaridade, ok? Tudo tem a idade certa para acontecer. Ensinar seu filho a se vestir e a escolher sua própria roupa é uma tarefa que exige a educação e ajuda dos pais.

Não é tudo que pode e que você deve deixar seu filho usar. É normal para os pequenos o desejo de copiar a roupa e a maquiagem da mãe ou a fantasia daquele personagem de filme, por exemplo. Elas querem imitar quem admiram e brincar de ser gente grande. Mas é exatamente nesta fase que os filhos devem começar a entender que precisam crescer para poder usar ou fazer algumas coisas, como passar um batom forte, pintar as unhas da cor que quiser, usar salto ou gravata. Quando o assunto é roupa das crianças, tudo pode se resumir em conforto e diversão.

Seja menino ou menina, seu filho pode usar camisetas e outras peças da cor que preferir. Criança precisa se sentir bem e confortável com a roupa que estiver vestindo, sempre de acordo com a idade que tem.

Brincadeira é coisa séria!

A ciência já comprovou que a criança, nos seus primeiros anos de vida, precisa de um bom tempo para brincar livremente. Pular, correr, imaginar, criar e estar em constante movimento, tanto mental quanto corporal, contribui para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo. “Toda e qualquer brincadeira é benéfica para o desenvolvimento da criança. É um equívoco pensar que as brincadeiras possam ter condições para melhorar um ou outro domínio do desenvolvimento humano”, explica Mônica Caldas Ehrenberg, professora doutora da Faculdade de Educação da USP, especialista em Cultura Corporal, mãe de Theo e Melissa. Pular corda, por exemplo, não é responsável somente pelo desenvolvimento motor. Essa brincadeira também desenvolve as noções de espaço e tempo – afinal, a criança precisa calcular o momento exato de pular – e a capacidade de respeitar regras, já que se ela tirar os pés do chão fora de hora, vai errar o movimento.

A ciência já comprovou que a criança, nos seus primeiros anos de vida, precisa de um bom tempo para brincar livremente
A ciência já comprovou que a criança, nos seus primeiros anos de vida, precisa de um bom tempo para brincar livremente (Foto: Shutterstock)

A brincadeira também desenvolve habilidades como integração, parceria, noção do corpo e do espaço, o raciocínio lógico e a criatividade. Sabe aquela velha história de que as crianças absorvem tudo o que está à volta delas o tempo todo? Pois é, isso também se aplica ao brincar. “O desenvolvimento acontece através do lúdico, ela precisa brincar para crescer. É brincando que ela se satisfaz, realiza seus desejos e explora o mundo à sua volta”, afirma Deborah Moss, neuropsicóloga, mestre em desenvolvimento infantil pela USP, mãe de Ariel e Patrick. Por isso, nada melhor do que incentivar esse tipo de atividade longe do tablet e do celular. “Para que as crianças entendam que é preciso saber brincar sem os eletrônicos, os pais devem ser o exemplo, principalmente na primeira infância – que é até os 6 anos. Os pais também devem lembrar de reservar todos os dias, pelo menos meia hora para brincar somente com os filhos. Quando a família direciona esse tempo, o momento fica com cara de férias, a criança vai sentir esse período valorizado e criar uma estrutura emocional”, explica a pedagoga Maibí Mascarenhas, mãe de Valentina.

Esteja presente (de verdade) na vida do seu filho

Criar filhos é, sem dúvida, a tarefa mais difícil da vida. A família atual mudou muito de configuração e uma nova sociedade foi criada. Mas em meio aos novos papéis, uma coisa nunca muda: seu filho continua precisando do convívio com você. E a importância desse convívio não está na quantidade de tempo dedicado a ele, e sim na qualidade. Os responsáveis devem ser capazes de enxergar nos filhos as suas reais necessidades, e não encher a criança de mimos ou presentes para suprir algum tipo de culpa. “Os pais são a primeira referência das crianças. Sem eles, o filho cresce tentando se adaptar ao mundo sem essas referências. Os pais são o apoio, que ensinam a importância do limite”, explica Renata Bento, psicóloga e psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, mãe de João Pedro e Eduardo Luiz.

“Se a criança não tem os pais como exemplo, ela vai procurar outros modelos identificatórios fora de casa. Elas sabem reconhecer quando o trabalho tem um valor de sustentar a família e quando ele é a desculpa para dispensar a família, por exemplo”, reforça Vera Iaconelli, psicanalista e doutora em psicologia, mãe de Gabriela e Mariana. A criança precisa se sentir amada e assistida, perceber a importância que tem para os pais. Aquela conversa clássica, mas que precisa ser resgatada e mantida, — Como foi o seu dia? O que fez na escola? — faz seu filho perceber que é muito importante para você, independentemente da quantidade de horas que passam juntos por dia.

Criança tem personalidade (e responsabilidade), sim!

Muito mais do que uma faixa etária, a infância é uma etapa de grandes aprendizados. Ser criança também é ter o direito da autenticidade. Apesar de estar sob a responsabilidade dos pais, cada criança é única, com o direito de se descobrir individualmente e desenvolver sua personalidade. Seu filho precisa se sentir guiado, protegido e acompanhado, e não apenas comandado. “Os pais devem cuidar, educar, dar autonomia e limite. Tudo isso é proteger. Ao mesmo tempo em que essas crianças vão viver dentro de casa, elas também vão viver no mundo. Ser aberto não significa ser permissivo. Existe um equilíbrio”, aconselha Renata. A linha que separa a autonomia e o limite é bem tênue. A geração de hoje é uma das mais inteligentes, mas também uma das mais frágeis. Por isso, um bom caminho é ser aberto ao diálogo, oferecer apoio e carinho, mas também deixar que seu filho tenha contato com erros e frustrações sozinho. “O papel dos pais não é somente formar um filho feliz, mas sim preparado também para as perdas e angústias”, explica Camila Cury, psicóloga e especialista na Teoria da Inteligência Multifocal, filha de Augusto Cury e mãe de Alice e Augusto.

A criança ao longo da história

Toda criança é sempre criança em qualquer lugar do mundo ou período histórico. O que mudou foram as atitudes dos adultos em relação a ela. Segundo o historiador francês Philippe Ariès, pesquisador da família e da infância, na Antiguidade, do século 12 ao 18, a criança era considerada um adulto em miniatura: não existiam diferenças entre o mundo adulto e o infantil. Além disso, os filhos pequenos deveriam ajudar nas tarefas de casa tanto quanto os mais velhos. As crianças poderiam enfrentar longas jornadas de trabalho e muitas vezes não frequentavam a escola. Mais tarde, a sociedade começou a enxergá-la como um ser inocente que deveria ser vigiado o tempo todo, por professores ou responsáveis.

Respeite a infância das crianças em todos os sentidos (Foto: Thinkstock)

Foi só a partir do século 18 que o conceito de infância começou a ser consolidado e a criança ocupou o lugar central da família: os primeiros Estatutos da Criança foram criados entre os séculos 19 e 20, a infância passou a ser dividida por fases e foi criado o conceito de adolescência. Depois de muitas mudanças, ser criança nos dias de hoje significa ter direitos básicos como educação, saúde e nutrição. Mas a gente acredita que a infância vai muito além: é o momento da vida em que se aprende a amar e ser amado. É a fase para as brincadeiras, sonhos, sorrisos, curiosidades, fantasias e muita felicidade. Por isso, não pule as etapas. Deixe o seu filho brincar, curta todas as descobertas ao lado dele e permita que ele viva (de verdade) a infância. Esse será o maior presente que você pode dar a uma criança.

Manifesto da infância

A Pais&Filhos acredita que a criança deve ser tratada como criança, com o direito de viver a infância plenamente. Isso faz parte do manifesto que é a bandeira principal da marca, nossa identidade e o que realmente acreditamos e lutamos para que aconteça.

  • Criança não trabalha, criança dá trabalho!
  • Criança não namora. Tem amigos. Não dá para comparar o que eles chamam de namoro com o relacionamento dos adultos
  • Criança tem a obrigação de brincar (e muito!)
  • Cada criança é única, com suas particularidades e preferências: não as compare ou obrigue a serem algo que não são
  • Criança tem que se vestir como criança, sempre de acordo com a idade
  • Criança também deve ter deveres e limites bem estabelecidos pelos pais
  • Criança precisa ter liberdade e autonomia para se aventurar e se frustrar sozinha, mas receber ajuda quando pedir
  • Criança precisa conviver com diversidade cultural e social
  • Criança não pode ser tratada como um miniadulto
  • Criança precisa de pais presentes, com qualidade de tempo, e não apenas quantidade

Linha do tempo 

  • História Antiga (4.000 a.C. até o ano 476): A criança era submetida à autoridade do pai. A família era responsável por educar os filhos, considerados incapazes de ter qualquer autonomia
  • Idade Média(476 d.C. – 1492): A criança era vista como um miniadulto que servia de mão de obra para os trabalhos, com a educação pautada pela religião, e não pela ciência
  • Século XVI: A forma de encarar a infância muda: a criança passou a ir à escola, onde era educada com muita
    disciplina e rigor
  • Século XVII: Surge a primeira concepção de infância: o adulto começa a dar atenção e a tratar a criança com mais cuidado
  • Século XVIII: O modo de vestir das crianças começa a se diferenciar dos adultos: as roupas ficam mais leves,
    dando maior liberdade de movimento e permitindo que as crianças brincassem
  • Século XIX: Foram criados os primeiros Estatutos da Criança, com direitos e metas para o desenvolvimento na primeira infância
  • Século XX: Em 1959, a ONU aprova a primeira “Declaração Universal dos Direitos da Criança”, com direitos como igualdade, escolaridade gratuita e alimentação
  • Século XXI: A criança deve ser tratada como criança, com direitos básicos, cuidado e amor, tendo a chance de desenvolver seu potencial máximo desde os primeiros dias de vida

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