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Dislexia: o que é, quais os sinais e como lidar se seu filho tem a condição

Definida de forma simples, dislexia é a dificuldade de anexar letras aos sons da linguagem falada - Freepik
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Publicado em 13/04/2022, às 07h53 - Atualizado em 14/07/2022, às 12h43 por Redação Pais&Filhos


Percy, um menino de 14 anos que cresceu na Inglaterra, se destacava em quase todas as matérias da escola, menos leitura. Ele não conseguia fazer as palavras de uma página fazerem sentido. Da mesma forma, Fiona, de 7 anos, que mora em Tulsa, tinha problemas para reconhecer palavras simples como ‘gato’ e ‘isso’, chorava sempre que tentava estudar listas de ortografia e reclamava de dores de estômago para poder ir para casa mais cedo da aula.

Essas duas crianças estavam separadas por um oceano e 123 anos, mas ambas lutavam com a mesma condição: dislexia. Em 1896, Percy foi um dos primeiros pacientes descritos na literatura médica que lutou contra a “cegueira para palavras”, e Fiona foi avaliada em 2019. Felizmente para ela e para as milhões de outras crianças nos Estados Unidos com essa deficiência de aprendizagem, sabemos muito mais agora do que na época de Percy sobre como reconhecer a dislexia e ensinar às crianças a se tornarem leitores confiantes.

“Nossa compreensão da dislexia deu um salto quântico à frente”, diz Sally Shaywitz, médica doutora, codiretora do Yale Center for Dyslexia & Creativity (Centro de Dislexia e Criatividade de Yale) e autora de ‘Overcoming Dyslexia’, em português, ‘Superando a Dislexia’. “Os avanços científicos acrescentaram profundamente ao nosso conhecimento de uma maneira que era inimaginável apenas alguns anos atrás”. Pesquisas comprovam que identificar o problema precocemente é crucial. Oferecer apoio especial para crianças que começam no jardim de infância é duas vezes mais eficaz do que começar na primeira série. Mesmo que seu filho ainda esteja a anos de aprender a ler, é importante saber o que procurar – e como você pode ajudar.

Muitos de nós temos mal-entendidos sobre a dislexia, assumindo que seja causada por problemas de visão ou que escrever palavras ao contrário é a marca registrada da condição. A condição não pode ser atribuída à preguiça, e as crianças não vão simplesmente superá-la.

O que é dislexia

Dislexia é a dificuldade de anexar letras aos sons da linguagem falada. É por isso que as maneiras típicas de ensinar crianças a ler – os livros para iniciantes que se concentram em sons de letras e planilhas fonéticas que ajudam crianças mais velhas a juntar palavras – são obstáculos para pessoas com dislexia. Eles têm dificuldade em separar uma palavra em suas partes sonoras (fonemas) e compreender, por exemplo, que ‘ch’ soa como ‘x’.

A dislexia, que é responsável por 80% a 90% de todas as deficiências de aprendizagem, também tem um componente genético, portanto, filhos de pais disléxicos têm maior probabilidade de desenvolver a deficiência do que outras crianças.

Definida de forma simples, dislexia é a dificuldade de anexar letras aos sons da linguagem falada
Definida de forma simples, dislexia é a dificuldade de anexar letras aos sons da linguagem falada (Foto: Freepik)

A neuroimagem mostrou que os sistemas cerebrais de crianças disléxicas são ineficientes em vincular a aparência de uma palavra ao som. As crianças também contam com diferentes partes do cérebro para processar a impressão em uma página do que as crianças neurotípicas. Essas rotas alternativas ainda podem funcionar, mas como um desvio por uma vizinhança desconhecida, requer muito mais energia, atenção e tempo.

Sintomas de dislexia

Você é a melhor pessoa para perceber os primeiros sinais, mesmo antes do seu filho aprender o ABC e entrar na escola. “Crianças mais novas podem separar as palavras e entender as rimas por causa do som parecido”, explica o Dr. Shaywitz. Crianças com dislexia não percebem essa conexão, então procure ajuda se seu filho em idade pré-escolar tiver problemas para rimar ou lembrar as letras. No início do ensino fundamental, as crianças podem reclamar de ir à escola, de fazer as tarefas de maneira remota ou fazer lição de casa e, à medida que envelhecem, resistem a ler em voz alta e têm dificuldade em pronunciar palavras desconhecidas.

O professor do seu filho também deve estar atento a sinais de que algo não está certo. Além de monitorar o progresso da leitura das crianças, as escolas devem avaliar os sinais de dislexia já no jardim de infância. Se a escola do seu filho não fizer isso, ou se o teste for mais difícil de acontecer devido à pandemia, a dica é conversar com o diretor. Pode ser uma boa ideia fazer isso por e-mail, copiando o professor do seu filho, para que você tenha um registro no caso se a escola não oferecer o apoio de que seu filho precisa. Normalmente, os exames levam apenas alguns minutos e testam coisas como a capacidade de uma criança de pronunciar uma palavra sem sentido.

“Quando você avalia e diagnostica as crianças cedo, você as ajuda a gostar da escola e a se manterem confiantes”, diz Sharon Vaughn, Ph.D., professora de educação especial na Universidade do Texas, em Austin, e diretora executiva do The Meadows Center for Preventing Educational Risk, uma comunidade de pesquisadores colaborativa.

Infelizmente, crianças com dislexia geralmente não são identificadas pelas escolas até que estejam na terceira série ou mais tarde. Como um problema tão comum pode ser esquecido com tanta frequência? “Os professores muitas vezes não estão atualizados com as pesquisas mais recentes”, diz Dr. Shaywitz, e apenas cerca de um em cada seis professores de educação geral se sente muito preparado para ensinar alunos com dificuldades de aprendizagem leves a moderadas, de acordo com uma pesquisa com 1.350 professores de escolas públicas nos Estados Unidos. Agora, adicione as restrições atuais por conta do ensino remoto e a condição se torna fácil ignorar.

Tratamento para dislexia e como a escola é fundamental nesse processo

Se a dislexia interferir no progresso de aprendizagem do seu filho, ele terá direito a apoio extra na escola. Não existe “cura” e os tratamentos que prometem uma solução rápida raramente dão resultado, diz o Dr. Vaughn. No entanto, uma variedade de métodos e programas demonstraram melhorar a capacidade de leitura das crianças e todos enfatizam o ensino de como pronunciar palavras pequenas e simples e, em seguida, como separar palavras maiores, junto com a memorização de palavras visuais para o sucesso do aprendizado de crianças disléxicas. Pais e escolas que trabalham juntos – tanto com a prática de leitura quanto para garantir que as crianças não estejam se esgotando por gastar muito tempo lutando com o dever de casa – fornecem a elas o apoio necessário.

No entanto, com as leis que variam por estado nos Estados Unidos, existem mal-entendidos e confusões sobre o que a dislexia é e o que não é (mesmo entre educadores), além de outras preocupações, como pessoal e orçamentos. Aqui no Brasil, por exemplo, não existe uma escola específica para crianças com dislexia, mas a maioria está preparada para receber esses alunos. Como não tem uma lei específica para regulamentar as exigências, cada um lida de uma forma.

A dislexia, que é responsável por 80% a 90% de todas as deficiências de aprendizagem, também tem um componente genético, portanto, filhos de pais disléxicos têm maior probabilidade de desenvolver a deficiência
A dislexia, que é responsável por 80% a 90% de todas as deficiências de aprendizagem, também tem um componente genético, portanto, filhos de pais disléxicos têm maior probabilidade de desenvolver a deficiência (Foto: Getty Images)

Ainda falando sobre os Estados Unidos, por lá, pode ser definido um programa de educação individualizado, que pode incluir coisas como receber tempo adicional durante as provas, receber instruções verbais em vez de escritas e ter reuniões individuais ou em grupo com um especialista. Esses ajustes permitem que os alunos mostrem sua capacidade, não sua deficiência, diz Dr. Shaywitz.

Muitas vezes, os pais de crianças com necessidades especiais não percebem quantos recursos estão disponíveis para eles. E a pandemia fez com que muitas crianças percam ainda mais as oportunidades. Uma pesquisa recente descobriu que, desde o início da pandemia, 40% das crianças com necessidades especiais não receberam nenhum apoio extra e apenas 20% receberam todos os serviços a que tinham direito. Se você discordar dos planos dos educadores ou, se suas preocupações não estiverem sendo tratadas, é seu direito falar, respeitosamente. Você pode começar uma conversa enfatizando que todos querem tomar as melhores decisões para a educação do seu filho, e a partir daí construir um consenso.

Se seu filho for diagnosticado, lembre-se de que as pessoas com dislexia têm outras qualidades. A pesquisa mostra que muitas delas são especialmente boas em encontrar coisas que estão fora do lugar (elas mostram mais atividade na parte do cérebro relacionada a pesquisas rápidas de um grande espaço – uma habilidade que é útil para um detetive que localiza pistas ou um astrofísico localizar um buraco negro, por exemplo). Algumas organizações até recrutam especificamente pessoas com dislexia, como uma agência de inteligência britânica, que valoriza os talentos dos disléxicos em seu trabalho antiterror. Não importa o que seu filho quer ser quando crescer, a dislexia não precisa limitá-lo. Diz Dr. Shaywitz: “Você é a referência dele. Compartilhe sua confiança no sucesso dele, e ele terá sucesso”.

Lutando contra o estigma

Alguns pais e escolas hesitam em avaliar e diagnosticar crianças por medo de que o rótulo seja um estigma permanente que os impede de realizar coisas. No entanto, as crianças percebem que não podem fazer o que seus colegas podem, o que fez com que nove entre as pessoas com dislexia se sentissem ansiosas, estressadas ou envergonhadas, segundo pesquisas da organização sem fins lucrativos de defesa e educação Made By Dyslexia.

Quatro em cada cinco disléxicos dizem que finalmente compreender sua deficiência os ajudou a perseverar na escola e em outras áreas da vida.  “A ansiedade vem de não saber”, diz Dra. Sally Shaywitz. “O mais importante é dizer às crianças:‘ Essa condição que você tem, tem um nome, e muitas pessoas muito inteligentes têm isso. Você pode ler devagar, mas não pensa devagar’”.

Sinais de dislexia em cada idade

PRÉ-ESCOLA: 

  • Falta de entendimento das rimas
  • Palavras mal pronunciadas

PRIMÁRIO

  • Queixas sobre dificuldade de leitura
  • Dificuldade para entender palavras que se separam
  • Incapacidade de relacionar letras a sons
  • Dificuldade para leitura de palavras comuns monossílabas
  • Se distrai com facilidade enquanto lê

ENSINO FUNDAMENTAL

  • Não consegue pronunciar palavras novas e desconhecidas
  • Evita ler em voz alta
  • Tem problemas para finalizar as provas
  • Frequentemente usa linguagem imprecisa (“coisa” e “negócio”)
  • Não consegue pensar ou lembrar a palavra certa (está na ponta da língua, mas não consegue)
  • Tem dificuldade em aprender uma segunda língua

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