É isso aí!
A escritora e embaixadora Pais&Filhos Vanessa Zago escreveu um lindo conto inspirado na matéria de crianças transgênero da edição de abril da revista.
Pensa numa caixa cheia de lápis de cor, canetinha, giz de cera, giz pastel…
Pois bem, sempre depois do recreio a professora coloca esta caixa no meio da roda de crianças. A atividade é fazer um desenho e dar nome a ele.
Todos dentro da caixa amavam aquela hora. Quando sentiam o movimento da professora os levando do armário para o chão, já começavam a brigar disputando os lugares de cima, para serem os primeiro a sair para pintar.
Mas tinha uma giz de cera rosa que era diferente, nesta hora sempre rolava para baixo dos outros lápis e se escondia em um cantinho amassado da caixa.
Ela adorara ver como o lápis azul ficava todo alegre ao pintar o céu e nuvens.
Se emocionava com a felicidade do giz de cera marrom correndo a folha fazendo chão de terra e galhos de árvores.
Invejava o prazer da canetinha vermelha ao desenhar delicadamente maças e boquinhas sorridentes.
Ela achava lindo seus amigos contentes colorindo o que deviam colorir: céu é azul, terra é marrom, maça é vermelha… Só que não entendia porque ela não aguentava pintar o que uma giz de cera rosa tinha nascido para colorir: vestidos de princesas, campos floridos, leite com morango… Será que tinha algo errado?
Ela queria diferente! Queria ser o asfalto, a casa, a TV. Até topava ser galho. Mas não venha com florzinha que ela preferia se esconder, se quebrar!
Um dia um menino achou aquela giz de cera rosa no seu cantinho. Pegou-a.
Triste, ela pensou: “Lá vou eu pintar flor!”
Só que ele era um cara original. Foi logo deitando-a e fazendo uma ponte de ponta a ponta da folha.
Aí pegou o lápis verde e desenhou uma gosma escorrendo da ponte.
Então escolheu o giz pastel roxo e pintou bem forte o céu.
Admirou a obra e começou a fazer pintinhas com canetinha laranja na gosma!
Ainda não satisfeito pegou a giz de cera rosa e fez uma carro em baixo da ponte!
A giz de cera rosa vibrava: “Nossa!!!! Eu sou um carro!!! Sou ponte!!! Sou tudo menos flor: uauauauuau!!!!!! Como isso é legal!!!!!!!!!!!!”
A professora perguntou para o menino o nome do desenho e ele muito artístico respondeu: “É isso aí!”
Então a giz de cera rosa entendeu tudo: “É isso aí! Para uns lápis é natural a regra, colorir o que sua cor representa. Já outros não combinam com seu corpo e cor, então devem encontrar o que lhes faz bem pintar”
Daí pra frente na hora do desenho a giz de cera rosa fazia parte da briga para ficar em cima, fez até um grupinho de amigos. Ela entendia que certas crianças iam a tratar como uma pintora de flores. Já outras iam a ver como ela realmente era: tinha nascido em um corpo giz de cera rosa, mas na realidade seu eu era de um lápis grafite.
É isso aí!