Publicado em 08/04/2020, às 14h03 - Atualizado em 20/09/2022, às 06h24 por Jennifer Detlinger, Editora de digital | Filha de Lucila e Paulo
Um vídeo gravado em novembro de 2019 de dois jovens comediantes começou a circular e viralizar em grupos de pais e mães de crianças com autismo nesta terça-feira (7). Intitulado “Piadas para família – 1ª temporada”, o vídeo mostra os humoristas Dihh Lopes e Abner Henrique durante um show feito em Campo Grande (MS).
“Em Brasília, estava ganhando destaque uma banda de rock que era formada apenas por integrantes autistas. Pensei: ‘Vou ver né, é uma novidade não tem muita banda paralímpica. Tinha um videozinho com a música deles. Antes de clicar no vídeo, eu pensei: será que eu consigo assistir sem dar risada?”, diz Abner em meio às risadas da plateia.
“E a resposta é não. Eu tentei, mas não deu. Era cada um tocando uma música diferente, o guitarrista com a guitarra ao contrário, tocando um teclado imaginário. É muito difícil não rir de uma banda que o baterista está de fralda”, encerra o comediante, causando ainda mais risos do público que assistia ao show.
O trecho do vídeo acima causou revolta de pais, mães, médicos e associações de autistas, que fizeram denúncias nas redes sociais. Na manhã desta quarta-feira, o show completo, que estava publicado no canal do YouTube de Dihh Lopes, não estava mais disponível.
A Pais&Filhos recebeu diversas denúncias repudiando o vídeo e a fala dos humoristas, que também fizeram piada com pessoas com outros tipos de deficiências físicas e intelectuais. “O vídeo chegou para mim em um grupo de mães de autistas com a instrução de irmos lá denunciar. Eles não falaram só sobre autismo. Eram duas horas de show, eles fizeram piadas com vários tipos de deficiência. Ontem à noite, o vídeo já não estava mais no YouTube e todos os comentários nas redes sociais deles que falavam sobre isso foram bloqueados e apagados”, explica Amanda Ribeiro, empresária e diretora da Incluir Treinamentos, mãe de Arthur, de 4 anos, que tem autismo.
“Depois da primeira vez, eu não consegui mais assistir o vídeo. Me deu um aperto no peito e um nó na garganta. Eles fizeram piada sobre o autista precisa usar fralda às vezes, por exemplo. Eu estou no processo de desfralde do meu filho, sei o quão difícil é essa fase para uma mãe. Não senti raiva ao assistir o vídeo, mas fiquei muito triste”, desabafa Amanda, que acredita que casos como esse podem servir para conscientizar a sociedade sobre os direitos dos autistas e outras pessoas com deficiência.
“Não é o momento de transformar isso em ódio. É uma questão de retratação, mas podemos tirar de bom dessa situação uma conscientização. As pessoas não sabem o que é capacitismo, por exemplo. O maior preconceito cometido contra as pessoas com deficiência é quando alguém acha que elas não são capazes de fazer a mesma coisa que você, como tocar uma guitarra”, explica ela.
Segundo Amanda, os humoristas dispararam uma série de estereótipos, mitos e preconceitos em relação aos autistas. “Além de triste e pesada, esse tipo de fala confunde ainda mais a cabeça das pessoas que não sabem nada sobre crianças com deficiência. Existem mitos de que a criança com autismo não gosta de toque, de que só vivem no mundo deles. Falta informação para as pessoas e a sociedade”, defende.
A Pais&Filhos entrou em contato com a assessoria e equipe dos humoristas na manhã desta quarta-feira (8), mas até o fechamento desta matéria, não tivemos resposta.
O estilo de humor politicamente incorreto, que faz piadas com minorias, é muito comum no Brasil. Mas o limite do humor deve ser o respeito às diferenças. Rir das minorias ou qualquer grupo social é moralmente errado, além de poder ser considerado crime. É como aquele velho ditado: a liberdade de um termina onde começa a do outro.
Apesar de ser garantida por lei, a liberdade de expressão pode ser questionada a partir do momento em que passa a prejudicar os outros. “Discriminar uma pessoa com deficiência, incluindo-se o autista, é crime previsto na Lei 13.146/2015 em seu artigo 88. A pena pode ser reclusão de 1 a 3 anos ou multa. A liberdade de expressão não é absoluta, mas sim limitada ao limite do outro. Se você abusa do seu ato lícito, ele se equipara ao ato ilícito”, explica o advogado Marcelo Válio, atuante em direito empresarial humano e direito das pessoas com deficiência, pai de Pietro e Beatriz.
Sancionada em 2015, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência é destinada para assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando a sua inclusão social e cidadania. “A maioria das pessoas não tem informação que essas leis existem. Temos maneiras de fazer piadas de outras formas e respeitar a diversidade, sem ridicularizar o outro. Quando um humorista se utiliza da pessoa com deficiência ou das minorias como objeto de piada, está afetando uma coletividade”, defende o especialista.
“Já fizemos um ofício para o Ministério Público Federal e outro para o Ministério Público de São Paulo para denunciar esse caso”, conta Marcelo, que também é membro da Comissão de Defesa dos Direitos dos Autistas da OAB de São Paulo.
Apesar de tristes, casos como esse servem para colocar o assunto em pauta e fazer com que os modelos e padrões da sociedade sejam repensados. “Eu imagino que eles não saibam que estão cometendo um crime e precisam aprender com isso. Vamos aproveitar esse caso para conscientizar mais as pessoas”, diz Amanda.
É preciso que tenhamos atitudes mais respeitosas com o outro. Como primeiro passo, é essencial ensinar que as diferenças não são defeitos, mas que podem significar complementariedade. Passar a ideia de que a melhor maneira de derrubar nossos preconceitos é a convivência e vivência.
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