Criança

Você já ouviu falar em mutismo seletivo?

Kim O’Connell  - Kim O’Connell
Kim O’Connell

Publicado em 25/04/2018, às 13h35 - Atualizado às 13h37 por Redação Pais&Filhos


Com apenas três anos de idade, o filho da escritora americana Kim O’Connell, parou de falar e ela não sabia se um dia ele voltaria a se comunicar. Após muito esforço, Kim descobriu que o menino sofria com um distúrbio pouco conhecido, chamado de mutismo seletivo, que inibe a criança de conversar com pessoas estranhas, aquelas que não costumam fazer parte de seu círculo social mais íntimo, ou até com os próprios pais. O distúrbio acomete de 7 a cada mil pessoas e é normalmente confundido com uma simples timidez de criança ou medo de falar na frente dos outros.

Confira o emocionante relato da mãe, publicado no Huffpost:

Meu filho parou de falar de repente e eu não tinha certeza se um dia ele voltaria a falar

Com três anos, meu filho parou de falar de repente — primeiro por horas, depois dias e semanas seguidas. Era inverno de 2010 e as nevascas cobriam toda Washington, D.C., silenciando as ruas da cidade, normalmente movimentadas. Dentro do nosso pequeno duplex no subúrbio da cidade, as coisas também eram silenciosas. Meu filho, cuja fala se desenvolveu normalmente e havia encantado eu e meu marido desde o momento que a ouvimos pela primeira vez, tinha ficado repentinamente e estranhamente silencioso.

Ele sempre foi uma criança tímida, mas também era um garoto feliz e entusiasmado que sorria com facilidade e adorava brincar, então eu não fiquei muito preocupada. Eu o matriculei na pré-escola em 2009 — sua primeira grande experiência de contato com grupos maiores de pessoas.

Eu mal notei as primeiras vezes que meu filho ficou calado naquele inverno. Mas os períodos de silêncio rapidamente começaram a crescer e os períodos de fala encolheram. Passei horas tentando brincar com meu filho para ele dizer algo. Eu perguntei a ele um milhão de coisas. Cantei suas músicas favoritas. Nada funcionou. E com isso surgiu a percepção de que era algo a mais do que apenas uma fase.

Dentro de algumas semanas, ele parou de falar completamente — em casa, na escola, com os avós, em todos os lugares. Além de nosso medo pela saúde dele, eu e meu marido vivenciamos uma sensação profunda e inesperada de perda, imaginando se ouviríamos a voz do nosso filho novamente.

Reprodução/Kim O'Connell
Reprodução/Kim O’Connell

Pesquisando na internet, descobri o termo para a provável condição do meu filho: mutismo seletivo (ou SM). Marquei uma consulta com a nossa pediatra, que confirmou o diagnóstico. Lembro que ela tentou entreter o meu filho durante a visita, apontando para as cores em um cartaz e pedindo para nomeá-las. Ele apenas balançou a cabeça e franziu os lábios com força, como se trancasse as palavras no fundo da boca. Eu me lembrei de outros exames em que ele apontou alegremente para fotos nos livros em salas de espera. Mas desta vez, seu silêncio era assustador.

Logo aprendi que meu filho integrava a parcela de menos de 1% das crianças do mundo que têm mutismo seletivo. A condição está relacionada à fobia social e à ansiedade social, o que significa que meu filho sentiu um medo real de falar. O medo de falar em público é comum para aqueles que ficam nervosos quando ficam em frente a grupos grandes. Mas imagine sentir-se assim mesmo quando estiver conversando com uma única pessoa. Agora imagine esse nível de medo crescendo exponencialmente com cada nova pessoa adicionada à situação. O silêncio de meu filho era um retiro, um lugar seguro para sua alma ansiosa.

Quase ninguém com quem conversamos tinha ouvido falar de mutismo seletivo, o que só aumentava nossa preocupação e sensação de isolamento. Como o SM é tão pouco conhecido, muitas vezes é descartado como mera timidez, até pelos médicos, quando na verdade é mais complicado e potencialmente debilitante do que isso. Eu li histórias sobre como adolescentes com SM podem desenvolver outros problemas como depressão e transtornos de personalidade, e fiquei assustada. Meu filho estava apenas na pré-escola, mas era fácil demais imaginar os anos à frente dele sendo escondido pela escuridão. 

Eu sabia que a minha própria ansiedade não estava ajudando a dele, e amigos e familiares trabalharam para acalmar meus medos. A diretora da pré-escola do meu filho me contou algo que eu nunca esqueci. “Algum dia”, ela disse, “você vai olhar para trás e se surpreender com o quão longe ele está.” Eu não conseguia imaginar, a princípio. Em um mês após o diagnóstico do meu filho, começamos a trabalhar com um psicólogo infantil, que passava uma hora por semana brincando com ele, ajudando-o a ser mais confiante.

Depois de alguns meses de terapia, meu filho venceu seu mutismo em casa – primeiro falando algumas palavras, depois com algumas horas de conversa, até falar em tempo integral. Todas as suas pequenas palavras pareciam tão grandes e preciosas para mim. Vê-lo superar seu mutismo em casa me deu esperança de que isso aconteceria no mundo em geral também. Levaria quase mais dois anos, mas, no fim, acabou.

Reprodução/Kim O'Connell
Reprodução/Kim O’Connell

Embora ele ainda seja mais introvertido do que alguns de seus colegas, meu filho agora é um garoto de 11 anos feliz, confiante e sincero. É tão fácil esquecer, no dia a dia, até onde meu filho chegou. Mas então algo vai acontecer e eu vou lembrar.

Há alguns meses atrás, meu filho, por sua própria vontade, fez um teste para a companhia de turismo nacional de um musical da Broadway. Ele teve que entrar sozinho em uma grande sala de audição, tocar uma música de dois minutos na bateria sem acompanhamento, cantar uma música à capela na frente de três juízes e se submeter a uma curta entrevista.

Eu imaginei a voz do meu filho amadurecendo a cada dia. Imaginei seu sorriso tímido enquanto os juízes elogiavam seu tom e agradeciam por ter vindo. Eu imaginei sua vida se desenrolando diante dele desse jeito – todo dia uma nova experiência e aventura. Acontece que ele não recebeu um retorno positivo. Mas quem liga? Ele já havia conquistado mais uma vitória, a mais recente de sua notável e corajosa vida jovem, apenas entrando naquela sala.”

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