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Mães e trabalhadoras: a pandemia expôs a necessidade de mudanças efetivas nessa relação

Conciliar carreira e maternidade foi ainda mais desafiador na pandemia - Shutterstock
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Publicado em 04/05/2021, às 07h17 - Atualizado às 07h20 por Redação Pais&Filhos


Se você está sentindo que o mundo está de ponta cabeça, tem razão. Esteve realmente, por um período. Se a pandemia, recessão, quarentena, questões sociais já não fossem suficientes, várias pessoas ficaram desempregadas. Nós perdemos tanto no último ano. Entes queridos. Tempo. Sanidade. Com tudo isso, um sentimento predominou: “Sofrimento pela perda do seu presente, do seu futuro almejado”, pontua Rebecca Soffer, cofundadora da comunidade Modern Loss. Mulheres trabalhadoras foram gravemente impactadas. De acordo com dados do IBGE, 8,5 milhões delas haviam deixado a força de trabalho no terceiro trimestre de 2020, representando uma queda de 14% em comparação a 2019. Dessa forma, mais da metade da população feminina acima de 14 anos ficou fora do mercado de trabalho no Brasil.

Conciliar carreira e maternidade foi ainda mais desafiador na pandemia (Foto: Shutterstock)

Em outubro, o relatório 2020 Women in the Workplace (Mulheres nos ambientes de trabalho em 2020) publicado pelo LeanIn.org e McKinsey & Co., sobre a situação das mulheres no universo empresarial americano mostrou que uma em cada quatro entrevistadas estavam considerando reduções ou demissões por conta da pressão do combo família e trabalho. Esse número reflete apenas uma fração de nós, que nos questionamos se as contas e ambições próprias compensam os “custos” para nossos filhos, nossa saúde mental. Nós somos privilegiadas se temos essa escolha. Muitas mulheres que foram despedidas precisaram lutar para encontrar um emprego, sem saber se as escolas estariam abertas ou as babás estariam disponíveis.

Chega mais

É sombrio. Mas esses momentos complicados abrem caminho não apenas para consertar o sistema, mas também construir um melhor. “A crise expõe o que está quebrado e o que acontece quando você não tem uma infraestrutura de cuidado instalada”, aponta Marianne Cooper, sociologista na VMware Women’s Leadership Innovation Lab na Universidade de Stanford. Geralmente, o reflexo dessa mãe é pensar que falhou. Vamos ser claros: você fez tudo certo. Construiu estruturas de suporte para evoluir no trabalho enquanto construía a própria família; dividiu as tarefas com o parceiro (ou ao menos tentou); recrutou amigos e familiares para colaborar; se apressou no trabalho para provar que é possível. Que você é possível. Mas esses parceiros externos foram embora agora. As creches fecharam. Os familiares não podem estar por perto. Não há mais horas que você poderia trabalhar ou compromissos que poderia realizar que iriam consertar isso.

“A pandemia tornou visível a rotina de trabalho invisível da parentalidade”, afirma Courtney Leimkuhler, fundadora do Springbank Collective, uma firma que investe em serviços que apoiam famílias trabalhadoras. Ela entende que empresas lutaram para incluir agendas com horário flexível e benefícios para o cuidado de crianças e isso dificilmente irá regredir. É um bom começo, mas nós precisamos dar um salto. Vários especialistas estão otimistas de que faremos isso. “Eu acredito que há apetite suficiente sobre quão desrespeitoso nosso trabalho é – o trabalho que nós fazemos de graça para manter nossa família e comunidade funcionando”, opina Katie Bethell, diretora-executiva de PL+US, uma campanha para conquistar licença-familiar remunerada nos Estados Unidos até 2022.

Ela vê a crise como trampolim. “Nós iremos ver uma nova classe de líderes mulheres poderosas, e elas estarão correndo para o escritório e se esforçando para almejar posições maiores em empresas maiores. Elas irão parar de pedir aos outros que resolvam esses problemas; pois vão conquistar posições de poder então poderão resolvê-los”.

Os prós e os contras

Muitas mulheres foram forçadas a questionar: “É assim que eu quero viver a minha vida?”. E decidiram que não. Blessing Adesiyan, do Texas, foi uma delas. No início da pandemia, ela era engenheira química em uma grande empresa, enquanto cuidava dos três filhos, além de ser a fundadora do Mother Honestly, uma comunidade digital de apoio para mães trabalhadoras. A ideia de deixar o trabalho, em que ela ganhava um pouco a mais que seu marido, era aterrorizante. Ela não sabia o que fazer. “Não há cartilha para tomar essa decisão”, conta, então escreveu uma.

Blessing criou um roteiro para ajudar as famílias a passarem por decisões complicadas de mudança de carreira, orientando mulheres através de exercícios de valores e estabelecendo o KPI (uma ferramenta que as empresas usam para avaliar o sucesso) para medir quão bem a família funciona, e listar critérios para ajudar a decidir se é o momento de seguir em frente. O objetivo, para ela e outras mulheres usando o roteiro, não é parar de trabalhar, mas encontrar um trabalho que funcione melhor.  Blessing decidiu se dedicar em tempo integral para o Mother Honestly, apesar de um salário menor, por oferecer maior flexibilidade que a família precisa.

É preciso agir

De acordo com o relatório da Women in the Workplace, as mães são três vezes mais propensas que os pais a executar o trabalho de casa e o cuidado com os filhos – e mais de duas vezes mais propensas a se preocupar que a performance no trabalho está sendo julgada de forma negativa, por conta dessas responsabilidades. “As mães não querem parecer descomprometidas com o trabalho, assim abdicam de benefícios que precisam, então os chefes pensam que elas estão bem”, aponta Christine Michel Carter, fundadora da comunidade online Mompreneur and Me.

É preciso repensar o mercado de trabalho no século XXI, em que a mulher é tão ativa quanto o homem (Foto: Shutterstock)

Ela aconselha ser honesta sobre as pressões que está sofrendo. É a única forma de sinalizar que você precisa de ajuda. Para realmente mudar a cultura da empresa, os superiores precisam estar dispostos a abraçar a mudança. E aí que precisamos de líderes mulheres para abrir o caminho. Susan Chapman Hughes, vice-presidente executiva e chefe digital global da American Express, constata: “Ser bondosa com a equipe agora é crítico. Os integrantes respondem com o sentimento de ‘ah, eu posso ser humano’”, afirma.

Toda a resiliência do mundo não terá efeito até que políticas efetivas sejam implementadas para apoiar famílias trabalhadoras. As mães precisam de licença-maternidade, horários flexíveis, e benefícios para o cuidado familiar que englobam a realidade de vida atual. Nós gradualmente formamos um sistema que foi construído quando o homem era o único provedor da família e a mulher era responsável pelos cuidados em casa. Hoje, a crise acelerou ainda mais a necessidade de adoção de medidas reais. “Quando as pessoas realmente enxergam como os pontos se conectam, nós podemos fazer algo grande. Será um mundo diferente para as mulheres”, garante Marianne.


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