Publicado em 28/04/2021, às 05h50 por Jennifer Detlinger, Editora de digital | Filha de Lucila e Paulo
Um estudo feito pelo governo de São Paulo indica que os alunos tiveram regressão na aprendizagem durante a pandemia. A pesquisa estima que levará 11 anos para recuperar a aprendizagem perdida em Matemática durante a pandemia nos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo. A avaliação foi aplicada pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora em estudantes do 5º e o 9º anos do Ensino Fundamental e a 3º série do Ensino Médio, no início do ano letivo 2021, da Secretaria Estadual da Educação.
Segundo a pesquisa, os estudantes do 5º ano da rede estadual, que costumam ter entre 10 e 11 anos, perderam habilidades que já haviam adquirido. Hoje, um aluno de 10 anos de idade tem desempenho pior do que ele mesmo tinha quando estava com 8 anos. Os alunos do 5º ano do Ensino Fundamental apresentaram 46 pontos a menos em Matemática do que em 2019, com queda de 19% na aprendizagem, além de 29 pontos a menos em Língua Portuguesa, com queda de 13%. Nas últimas edições da avaliação, os estudantes do Ensino Fundamental subiram apenas 4 pontos por ano, o que levou a Secretaria Estadual da Educação a estimar que seriam necessários cerca de 11 anos para recuperar a aprendizagem perdida nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
“No 5º ano, com esse resultado de Matemática, os alunos sabem resolver problemas muito elementares de adição e subtração, não sabem multiplicação e divisão, não sabem ler um gráfico nem dados apresentados em tabela, que são habilidades básicas e essenciais importantes para prosseguir com os estudos”, diz Lina Kátia, vice-presidente da Associação Brasileira de Avaliação da Educação e coordenadora do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed), ligado à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Já para o 9º ano do Ensino Fundamental e o 3º do Médio, a defasagem foi menor, mas ainda com perdas no aprendizado. O impacto da mudança para o ensino remoto foi maior entre os estudantes mais novos. Uma das hipóteses é que alunos mais velhos têm autonomia maior para estudar em casa. Já entre os mais novos, o fechamento das escolas tem impacto ainda maior na aprendizagem. “Além de não aprender novas coisas, o aluno não consolidou o que tinha aprendido. Trata-se de uma das primeiras e mais importantes pesquisas com o tema na atualidade. Diante desses dados, temos a convicção da importância do retorno às aulas para contribuir no processo de retomada de aprendizagem dos nossos alunos e para reduzir, aos poucos, todos os impactos causados, e já previstos, pelo distanciamento social”, afirma o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares.
As escolas estaduais em São Paulo foram fechadas em março de 2020, para conter a disseminação do coronavírus. Em setembro, começaram a ser reabertas, para atividades de reforço, com baixa participação de alunos. Alguns municípios, como a capital paulista, vetaram a reabertura naquele mês. Neste ano, as aulas presenciais começaram em fevereiro, mas foram suspensas novamente um mês após a reabertura. O novo retorno aconteceu dia 14 de abril.
Para superar as defasagens, o secretário reforçou a necessidade de que as escolas continuem abertas e apresentou um projeto de recuperação de aprendizagem, com a contratação de mais professores para reforço escolar. “As informações obtidas podem, agora, orientar a manutenção e o desenvolvimento de políticas eficazes à retomada da aprendizagem, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Nossos esforços são direcionados para retomar o ciclo positivo alcançado antes da pandemia”, conta. Segundo a pasta, 2.261 professores estão atuando com recuperação e mais 10 mil docentes ainda podem ser contratados.
O cenário de São Paulo pode ser pior em outros Estados que ainda nem mediram o desempenho de alunos. “A Secretaria de São Paulo conseguiu estruturar uma resposta, errando, refazendo, melhorando. Se esses resultados aconteceram em São Paulo, que teve uma das melhores reações do País, o que dá para projetar para o resto do Brasil é uma situação muito mais crítica. Também é muito importante envolver os professores, em uma conversa aberta, desarmada. Colocá-los como parte da solução”, diz Priscila Cruz, presidente executiva do movimento Todos pela Educação, em entrevista ao Estadão.
Para Roberta e Taís Bento, mãe e filha, colunistas e embaixadoras da Pais&Filhos, fundadoras do SOSEducação, especialistas em educação e neurociência, essa defasagem no aprendizado vai sobrecarregar ainda mais os profissionais da educação, mas o caminho é sempre a parceria entre família e escola. “Mais do que em qualquer outro momento que vivemos até agora, será necessário um esforço conjunto entre família e escola. Aos pais, ficará o dilema de manter o foco em lembrar que o filho é parte de um grupo ou pensar que cada aluno merece ter suas necessidades específicas atendidas. O caminho é a empatia, paciência e muita união entre os adultos responsáveis. Só assim vamos garantir que nossos filhos e alunos não sejam prejudicados pelas escolhas que fizemos por eles”, explicam, em texto publicado no portal SOS Educação.
Sobre o dilema, medos e dúvidas que os pais sentem sobre o fato de voltar às aulas presenciais, as especialistas acreditam que ter um ponto de equilíbrio é fundamental. “Não existe uma saída que possa atender a tantas variáveis. E não conseguiremos uma resposta única que satisfaça a todos os envolvidos. A decisão de enviar um filho de volta para as aulas presenciais gera medo e incerteza. Ao mesmo tempo, enche o coração de alegria ver um filho feliz por reencontrar os colegas, professores e funcionários da escola. A decisão de que seu filho não volta até que tenhamos vacina, vai trazer medo e incerteza também. Até que ponto o equilíbrio emocional e o aprendizado será ainda mais afetado e que prejuízos vai gerar ainda são incógnitas. Não existe uma resposta correta. É esse sufoco que vivem as escolas, gestores, professores, dirigentes de ensino e governantes. Dentro da escola, cada decisão tomada gera um impacto gigantesco em muitas pessoas”, defendem.
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