Família

Bandeira branca! A relação entre escola e famílias precisa ser de parceria em meio à pandemia

Pesquisa afirma que 74% dos alunos estão tendo acesso às aulas remotas - Getty Images
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Publicado em 30/08/2020, às 12h08 por Yulia Serra, Editora de conteúdo especializado | Filha de Suzimar e Leopoldo


Angústia, medo, solidão, preocupação. São muitos os sentimentos que invadiram as casas junto do isolamento social. As relações sofreram bastante e entre pais e escolasnão foi diferente. É novo para todo mundo e mudanças gera conflitos. O caminho não é fechar os olhos e fingir que não existem, mas entender de que forma é possível amenizar ou até acabar com eles. A transição para o virtual está sendo um processo de aprendizagem para todos, pais, alunos e professores, por isso faz parte errar e acertar, o importante é se manterem juntos, mesmo à distância, para enfrentarem os futuros desafios (que vão surgir!).

Pesquisa afirma que 74% dos alunos estão tendo acesso às aulas remotas (Foto: Getty Images)

Foi no excesso de querer ajudar que Otávio Leal, advogado e criador do blog Pai Vem Cá, pai de Maria Flor, passou por um momento de estresse com a escola em que a filha estuda. Com 15 dias de quarentena, durante uma aula de inglês, ele resolveu intervir e interrompeu a professora para questioná-la. “eu falei: ‘olha, a maria não está entendendo nada da atividade e está aqui quase chorando’”. Esse comentário gerou um alvoroço na aula online, com todos os pais falando ao mesmo tempo, perguntando, apontando e criticando a aula.

“Nós, que não somos médicos ou professores, começamos a exigir das pessoas que estão no ‘lugar do saber’ que soubessem o que fazer e nos ajudassem, mas eles também não sabiam e não estávamos preparados para entender isso”, completa Otávio. A adaptação precisou correr de ambos os lados. Taís e Roberta Bento, mãe e filha, embaixadoras da Pais&Filhos e fundadoras do site SOS Educação, reforçam essa questão. “Toda quebra gera um conflito interno, mas conforme essa transformação vai se tornando parte da rotina, os lados vão se ajustando. Os professores encontraram caminhos, a escola a medida possível e a família uma organização de forma que conseguissem lidar com mais essa função”. Otávio concorda e, depois de três meses do episódio, elogia o desenvolvimento da autonomia da filha. “Houve uma evolução muito grande em todos os sentidos na aula online, porque ela passou a ter um protagonismo, autossuficiência e segurança muito grande”.

O fato é que não foi e nem está sendo fácil para ninguém, até porque não há um único jeito certo de fazer, como uma fórmula, mas cada escola e famíliadeve encontrar o que se adapta a sua realidade. Mas uma coisa é certa: para garantir o bem-estar das crianças nesse momento é fundamental haver uma parceria entre escola e pais.

“Um ponto legal desse período foi o assunto educação virar algo para todo mundo, não mais exclusivo dos educadores”, afirma Taís. Para ela, ter essa união e coesão entre todos os envolvidos permite à criança um aprendizado mais efetivo e uma confiança maior no seu potencial, que se reflete além do momento de estudos.

Silmara Casadei, Diretora Geral Pedagógica do Colégio Visconde de Porto Seguro, mãe de Juliana e Carlos usou uma metáfora para destacar esse ponto. “Família e escola são como as boas margens de um rio. O equilíbrio do relacionamento é o melhor percurso. Se as margens forem estreitas, haverá angústia e medo, se forem muito largas, os filhos podem se perder pela falta de condução na caminhada”. Ela reforça que nesse período o colégio manteve atendimentos virtuais e essa troca foi muito rica, tanto para tirar dúvidas sobre as aulas à distância quanto resolver questões familiares. Embora sinta falta do contato físico diário, destaca a “aproximação” em relação aos pensamentos das crianças e familiares.

Esse contato virtual também fez a diferença nos colégios municipais em que Elisângela Gomes, mãe de Enzo e Pedro, é professora. Em ambos, foram criados grupos com os pais no WhatsAppe feitas vídeoaulas e postagem de atividades através do Google Sala de Aula. Para a educadora, o grande desafio no momento tem sido a acessibilidade e vulnerabilidade das famílias que atende. “Muitos não têm acesso à internet, mas pelo menos têm acesso ao WhatsApp”. Por isso, conta que a aula se tornou bastante personalizada e sem o foco exclusivo no conteúdo. “Estamos seguindo com o planejamento, mas não ao pé da letra, e começamos a trabalhar questões de higiene e emocionais, por exemplo. Tudo isso está sendo pensado. É preciso ter sensibilidade e empatia agora”.

Mudando o foco

Esse é o X da questão para a educadora e diretora da Escola Parque, Patrícia Lins e Silva, mãe de Luísa, Manuel e Antônio. “Eu vejo as pessoas preocupadas com conteúdo, mas, hoje em dia, ele está no Google. As crianças precisam, mesmo, é saber resolver problemas, como esse que nos aconteceu, aprender a enfrentar mudanças e saber mudar”. Para a especialista, a pandemia é uma grande oportunidade de aprendizado, que não irá se perder com a volta. “A educação tinha que mudar e nós sabíamos disso, mas quem seria o primeiro a fazer? É difícil, a escola tem uma fórmula introjetada, contudo é curioso ver que um vírus fez ela sacudir e pensar”.

Uma das principais mudanças foi justamente em relação à tecnologia. João Luís Machado, doutor em Educação pela PUC-SP e pesquisador da área, pai de João Vitor e Taís, entende que ela assumiu um protagonismo na educação brasileira e mundial. “Da noite para o dia, a demanda por essas ferramentas passou a ser de todos os alunos, professores, gestores, escolas, sociedade e famílias. O que temos é um cenário novo em que a educação permeia esses aparelhos. Não voltaremos para as escolas sem que as tecnologias tenham um forte papel e presença. O ensino será, certamente, híbrido, mesclando o presencial e o online cada vez mais”.

Isso exclui aquela teoria da tecnologia como vilã. “A escola não estará mais restrita à sala de aula e demais espaços físicos que a compõem. As dimensões foram muito aumentadas, mas para que isso se consolide é preciso que todos atuem em conjunto”. Como a Pais&Filhos defende, juntos é possível chegar muito mais longe e trazer resultados significativos para todos os envolvidos. Muito mais do que transmitir o conteúdo, é o momento de valorizar o desenvolvimento de outras habilidades, que antes nem passavam pela cabeça, como as socioemocionais.

Nesse ponto, Roberta Bento destaca que os pais não precisam e nem devem assumir a função do professor. “O importante é dar o melhor de si, dedicar realmente sua energia para isso, mas sem cobrança do impossível”. Acima de tudo, a sua “missão” é manter a chama da curiosidade acesa e instigar que seu filho descubra novas formas de conhecimento, com atividades que antes passavam despercebidas. O mesmo serve para a escola, é o momento de reforçar as comquistas dos alunos, sejam elas quais forem. “Ao invés de avaliar se ele aprendeu tudo o que foi ensinado, registre o que conseguiu aprender. É uma mudança sutil, mas faz toda a diferença e dá uma injeção de autoestima na criança”.

Lá em casa é assim

Magda Figueiredo, dona do blog @maeatual_, encontrou um jeito interessante de apresentar os números e letras para o filho Matias. “Na hora de lavar a louça, falo para contarmos juntos quantas têm. Às vezes, sento com ele e digo: ‘Vou te falar as coisas que têm em casa com a letra F’, e vamos fazendo com várias”. A ideia surgiu em conversa com a escola, depois da mãe sofrer para “garantir” que o filho se engajasse. Com essa ajuda, ela afirma que a sensação de perda e falta do início da quarentena foi substituída por realização ao ver os resultados. O maior crescimento que enxerga no filho é em relação ao respeito e autonomia. “É muito legal ver ele falando antes da aula começar: ‘Eu quero essa cadeira, preciso arrumar a tela, liga o computador e busca uma água por favor’. É como se ele estivesse se preparando para fazer uma live”.

Assim como Magda, Fernanda Alfano embaixadora da Pais&Filhos e criadora do @promovidaamae, mãe de Rafael e Felipe, também reforça o enorme desenvolvimento dos filhos durante esse período. Sempre tratando desse tema com muito bom humor na rede social, ela admite que foi um período de muitos altos e baixos, mas o saldo é positivo. “as aulas permitiram um aprendizado para todo mundo, tanto na nossa relação de casa, entre mães e filhos quanto nosso com a escola”. Ela elogia a forma gradual que os conteúdos online foram inseridos nas aulas, permitindo um passo de cada vez e encara esse desafio de forma positiva. “Tudo isso está trazendo um grande momento para as famílias se reconectarem. O que estava longe ficou mais perto, os pais puderam ver o que as crianças estão aprendendo, conhecer as facilidades, as dificuldades, e participar muito mais das angústias, através das conversas”.

Lá na escola é assim

Vera Iaconelli, psicanalista e psicóloga, mãe de Gabriela e Mariana, diz que é fundamental manter esse diálogo e ter atenção para as questões psicológicas, com objetivo de preservar a saúde mental, dos pais, educadores e crianças. Por parte da escola, os ajustes também foram feitos para encontrar um caminho que funcionasse para todos. Thais Milson, coordenadora de editorial da Vereda, filha de João e Jucimar, destaca que a escola saiu do formato clássico de interação pontual e programada para uma comunicação mais constante, direta e efetiva.

“Nossa proposta de estudo remoto, além de contemplar atividades das disciplinas regulares, dedica parte das atividades com jogos educativos, envolvendo corpo e movimento”. Thais vê o distanciamento físico como um dos principais prejuízos desse momento, mas que possibilitou explorar novos meios, e, hoje, mesmo longe, faz com que educadores, pais e alunos se sintam próximos.

Ajustes também foram realizados na Maple Bear. A Diretora Acadêmica da escola Cintia Sant’Anna, filha de Marisa e Paulo, contou que o engajamento das famílias na educação já era uma realidade e se aflorou ainda mais. “Os pais, em comunicação aberta com escola, são peças fundamentais para criação das oportunidades de aprendizagem e crescimento”. Ela lembra que as trocas foram muito além das questões práticas, mas, principalmente, para formar uma corrente de apoio entre pais e escola, pensando no melhor para a criança. “A colaboração, engajamento e experimentação são essenciais para o desenvolvimento dentro e fora da sala de aula. Envolver toda a equipe e criar uma cultura que promova o reconhecimento, integração e respeito de todos será essencial para a evolução das práticas em educação”. É assim que a escola pretende continuar, para garantir, independentemente da forma, uma aprendizagem ativa, investigativa e reflexiva, conectando todos os envolvidos.

Mudar é necessário

Humberto Baltar, educador infantil há 20 anos, pai de Apolo, via a escola, antes da pandemia, quase como um “depósito dos filhos” e encara o fortalecimento da conexão como um ponto extremamente positivo. “O fazer pedagógico, agora, tomou uma outra dimensão. Não é só passar trabalho e ensinar conteúdo, nós nos transformamos em uma rede de apoio”. O foco está longe de ser didático, mas é promover atividades lúdicas e interação entre pais e filhos para abordar o que está acontecendo agora. Para tornar a aula mais pessoal e reduzir um pouco a frieza do universo online, uma das saídas foi mudar a abordagem. “Através do WhatsApp, envio vídeos de ‘bom dia’. Nos cumprimentos do trabalho, além de simplesmente escrever ‘ótimo’ ou ‘muito bom’, mando áudio com empolgação no tom de voz. Percebi que isso contagiou as crianças, já que muitas mandaram áudios e vídeos em resposta”. Para ele, a pandemia esclareceu que, nas relações, muito mais importante do que qualquer competência, seja linguística, matemática ou de qualquer outra natureza, é preciso ressaltar e valorizar a nossa humanidade. Andréa Silva, professora, mãe de Maria Fernanda e Guilherme, segue o mesmo pensamento. Ela fez alguns testes na escola em que trabalha e concluiu que precisava desacelerar no conteúdo para focar no acolhimento, mostrando para os alunos que é possível atravessar essa fase. O início foi cheio de dúvidas.

“Me senti extremamente perdida, insegura com as novas tecnologias, tive que trabalhar a minha própria negação para continuar a dar aulas”. Mas hoje, comemora os avanços. “A pandemia veio para sairmos da zona de conforto em que estávamos e está exigindo de nós mais reflexões de como desempenhar melhor nosso papel na sociedade, sobre o que é realmente importante dedicar nossos esforços e como transformaremos o mundo em um lugar mais acolhedor para todos”. É disso que os educadores, pais e crianças precisam nesse momento para Maria Tereza, Secretária Municipal de Educação de Jacareí, mãe de Fábio e Gustavo.

Volta às aulas presenciais

A especialista diz que esse momento afastado permitiu a criação de uma rede colaborativa efetiva e uma nova cultura educacional, que enxerga todas as esferas do conhecimento, como desenvolvimento de habilidades sociais e motoras. Todas as escolas e educadores citados na entrevista acreditam que o ensino daqui para frente contará com a participação do físico e da tecnologia, e as escolas se dizem preparadas e motivadas a seguir assim. Com as incertezas em relação à segurança dos filhos, uma pesquisa realizada no final de junho pelo Datafolha, concluiu que 76% dos pais não querem aulas presenciais.

Para englobar esses pais e também oferecer a possibilidade aos que já se sentem seguros de deixar os filhos na escola quando for decretado o retorno, os educadores garantem que irão oferecer aulas presenciais, mantendo também as online, o que Patrícia Lins e Silva defende. Segundo ela, esse momento de volta também trará um novo processo de aprendizagem, até que todos se adaptem.

Para facilitar a transição, Taís e Roberta Bento afirmam que é necessário começar a preparar as crianças para o retorno, ou seja, um momento de “descompressão”. Não significa verbalizar isso, mas fazer ajustes graduais na rotina, como restabelecer o horário de ir para a cama e das refeições. “Se não fizermos isso antes, os alunos registram que todo o estresse do retorno é culpa da escola. Além do prejuízo com aprendizado, prejudica a relação do aluno com os estudos”. A mesma dica serve para os procedimentos de segurança, como usar máscara e passar álcool gel. É fundamental já introduzir em casa.

“O retorno trará uma nova onda de tensão, por isso, de novo, é necessário empatia e flexibilidade”, diz Taís, ao indicar que provavelmente o ano letivo não irá acabar junto ao calendário. “Até 2023 já há a premissa de que as crianças vão lidar com as defasagens da quarentena. Nesse período, ao introduzir os novos conteúdos, os professores vão resgatar a base. Depois tudo volta aos eixos”, completa Roberta. Na China, onde a volta às aulas já aconteceu, as medidas de segurança foram redobradas. Rebecca Steinho, mãe de Sarah e Valentina, que mora no país, conta que precisa medir a temperatura das filhas em casa e enviar através de um QR Code para as professoras. Chegando na escola, elas passam por um scanner corporal de temperatura. “Todos os dias elas precisam levar o ‘kit pandemia’, nome que dei aos utensílios de higiene como toalha de rosto, álcool gel, saco de lixo, máscaras, entre outros”. A princípio, ela ficou tensa com o retorno, mas ao perceber o cuidado se acalmou.

Independentemente do país, a quarentena veio para deixar clara a importância de todos no papel da educação dos filhos. O período foi cheio de desgaste e, sim, está todo mundo cansado, mas ao mesmo tempo todo mundo trabalhando para acertar. A roleta girou e mostrou que cada um precisa fazer a sua parte, sempre unidos. É assim que irá funcionar daqui para frente, seja virtual ou presencialmente. Uma parceria agora que terá efeitos positivos pelo resto da vida.


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