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Colocar a criança de “castigo para pensar”, NÃO!

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Publicado em 08/07/2018, às 08h28 - Atualizado em 29/08/2018, às 09h13 por Redação Pais&Filhos


Segundo o dicionário, “castigo” significa pena ou punição que se inflige a pessoa ou animal. Já “pensar”, significa submeter (algo) ao processo de raciocínio lógico; exercer a capacidade de julgamento, dedução ou concepção; refletir sobre, ponderar, pesar. Ou seja, enquanto o castigo significa repreensão, pensar é uma coisa boa, que indica maturidade. E como exigir maturidade de uma criança de 2 anos, por exemplo?

O “cantinho do castigo” já foi muito repercutido em programas de televisão como forma de fazer a criança pensar no que fez de errado, mas pode ser mal interpretado e mal aproveitado pelas crianças por elas simplesmente não saberem o que está acontecendo. E quem reforça essa ideia é a Lívia Marques, psicóloga organizacional e clínica, com foco em Terapia Cognitiva Comportamental e mãe de Maria e Miguel. “Os adultos precisam ter a consciência sobre o que a criança vai pensar durante o castigo.”

Primeiro de tudo, vamos começar por aqui: será que aqueles minutos de isolamento pensando e refletindo no que fez vai fazer com que a criança volte mais bem-educada? Não. Pronto. As “supernannies” (superbabás), que tanto aparecem nos programas de televisão, acabam realizando um trabalho de treinamento apenas, sem desenvolver o lado cognitivo, psíquico e intelectual da criança. Do ponto de vista emocional, deixar a criança sozinha não deveria ser um castigo, mas um privilégio. Quando você a coloca em um canto sozinha, demonstra que não quer ficar com ela, que, muito provavelmente, não vai ficar pensando sobre o que fez de errado. O que vai acontecer depois? Ela vai sair do cantinho pronta para fazer tudo de novo, porque não houve uma atitude educacional.

Sentir não é fácil

O pensar, que é uma coisa tão boa, uma elaboração, um sinal de inteligência e crítica, não pode virar um castigo. Como a criança só passa a refletir realmente sobre seus atos a partir dos 6 anos, ela acaba criando mecanismos automáticos para se livrar do tal do cantinho e da punição, “já pensei, posso sair agora?”.

Se é difícil para nós, adultos, lidar com os sentimentos, imagina para as crianças. Por isso, antes de pensar em castigo, devemos aproveitar os momentos que elas não agem bem para explicar o que são esses sentimentos e como encará-los da melhor maneira possível.

Lívia explica que “com 3, 4 anos, a criança já tem capacidade de entender nossas expressões como tristeza, raiva e felicidade, mas é difícil ficar quietinha refletindo sobre algo nessa idade”, então o que o cantinho do castigo está ensinando? “Ela não sabe ao certo o que fez e como poderia ter agido.” Além disso, acaba associando um canto da própria casa a algo ruim e chato.

Do contra

A partir dos 4 anos, as crianças entendem o significado do castigo, de pensar e conseguem compreender que fez algo de errado, como explica Ellen Moraes Senra, psicóloga e mãe do Rafael. “É essencial que ela tenha um tempo para entender e pensar no que fez de errado”, e o castigo, para ela, é um método bastante eficaz nesse sentido.

No entanto, funciona desde que tenha uma correspondência direta com o erro. Deve ser educativo e não punitivo. “A partir dos 3 anos, a criança já fica mais solta e tem percepção do que agrada ou não os pais. Antes disso, o “não” é muito importante, porque é o primeiro organizador psíquico. Até os 4, 5 anos de idade, a criança é naturalmente oposicionista. Em outras palavras, é do contra. Acha que é o centro do universo e as pessoas estão ali para servi-la”, explica Betty. Quantas vezes por dia seu filho diz “Mãe, tô com fome”, “Mãe, pega isso pra mim”, “Mãe, vem aqui”?

Mas isso não significa que a criança é egoísta, mas sim egocêntrica. Mesmo que o seu filho não queira dividir o brinquedo com o amigo, cuidado para não rotulá-lo, porque é algo que fica para sempre com ele.

Com que castigo eu vou?

Tem várias coisas que você pode fazer para ajudar o seu filho a entender o que faz de errado. Se ele deixou algo cair no chão, por exemplo, deixe que ele limpe, mesmo que não fique perfeito. Se ele bateu em você, segure as mãos dele, olhe nos seus olhos e diga “Eu não quero que você faça isso, eu não faço isso, estou muito brava com você”. Sem esquecer de dar o exemplo antes, nada de castigo físico. Seja séria e firme para a criança perceber que o comportamento dela te deixa triste.

Por isso, é tão importante sinalizar imediatamente. “Você fez isso, é feio, a mamãe não gosta”. Mas atenção: mostre que não gosta do que ela fez e jamais deixe qualquer dúvida do seu amor por ela. Dizer “a mamãe não gosta de você porque você fez isso”, nunca.

Você já deve ter tirado algo do seu filho como forma de punição. É uma tática que divide a opinião de especialistas. A Ellen fala que “a partir dos 5 anos, você pode aplicar o castigo como reforço negativo, ou seja, tirar algo que seu filho goste muito, como o tablet, ou proibir que ele vá na casa do amigo”. Ela ainda reforça que esse esforço só é eficaz se a criança tem a compreensão da razão por que aquilo está acontecendo.

Já Betty fala que é um grande equívoco punir o filho privando-o de alguma atividade que lhe dá prazer e não tem absolutamente nada a ver com o erro cometido. Vocês foram ao supermercado, ele fez birra porque queria determinado chocolate que você não comprou e então você tira o videogame por dois dias. “Mas qual é a relação da birra com o jogo? Nenhuma. Então, o castigo é dizer que você não vai mais levá-lo porque ele não sabe se comportar naquele lugar”, ensina Betty.

Agora, se a criança está mal na escola por causa do videogame ou da televisão, aí sim é preciso interferir. Você pode dar a opção para o seu filho estudar e depois ver TV ou ficar sem TV. O castigo não deve ser dado sem que a criança tenha condição de reparar o erro, de se responsabilizar por ele, por isso, falou um palavrão, deve conversar com quem ofendeu. E não é isolando a criança em um cantinho que você vai fazê-la entender um erro. O pior é chegar no ponto em que ela se acostuma com aquela punição e espera por ela com a maior naturalidade.

A porta para o diálogo

Você é muito mais importante nesse processo do que qualquer canto. É aí que você e seu parceiro entram na história e fazem a diferença. Se o seu filho se comportar mal, a primeira coisa a fazer é sentar com ele e conversar sobre o que ele estava sentindo no momento, fazer com que ele entenda os próprios sentimentos para que aprenda a nomear as emoções.

Dizer a ele frases do tipo: “Você está triste porque seu brinquedo quebrou”, “Você está irritado porque quer dormir”, “Você está bravo porque eu não deixei você fazer o que queria”. Como ensina Betty, esta é a principal função dos pais até os 5 anos. Muito mais importante do que fazer a criança pensar sobre um erro, é você ajudá-la a entender o que ela está sentindo.

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