Publicado em 14/08/2020, às 13h40 - Atualizado às 13h46 por Redação Pais&Filhos
Em 2018, um casal no Reino Unido fez um anúncio curioso na internet: eles queriam contratar uma pessoa para explicar aos seus filhos de 7 e 8 anos o que é sexo e sexualidade. Os pais procuravam alguém que pudesse dar aulas sobre assuntos como gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, consentimento, masturbação e menstruação. E eles estavam dispostos a pagar bem. A proposta era de que o profissional recebesse £ 2.500 por isso.
Falar sobre esses assuntos com as crianças realmente não é fácil, mas essa é uma conversa da qual os pais não têm muito como fugir. Com o tempo, é natural que as dúvidas apareçam e que as crianças comecem a demonstrar curiosidade. Muitas vezes, elas nos pegam de surpresa com perguntas complicadas de responder. Nessas horas, é preciso ter jogo de cintura, jogar limpo e não deixar pulgas atrás da orelha.
Apesar de desconfortável, esse bate-papo é muito necessário. A Organização das Nações Unidas já se posicionou dizendo que a educação sexual ajuda a evitar casos de violência, abuso infantil e gravidez na adolescência. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também defende a informação de qualidade como um dos melhores jeitos de prevenção. E os especialistas são categóricos: essa é uma conversa que deve começar dentro de casa.
Você não precisa (e nem deve) bombardear seu filho com todas as informações de uma vez só. O ideal é que as explicações venham aos poucos, quando a criança der “brechas” para isso. Um estudo publicado no Journal of Adolescent Health mostrou que uma única conversa não resolve o problema. É preciso que esse papo aconteça de forma constante e natural, desde cedo.
“Os pais devem conversar frequentemente com seus filhos sobre muitos aspectos da sexualidade de uma forma que ajude a criança a se sentir confortável e ouvida, mas nunca envergonhada”, explica Laura Padilla-Walker, uma das autoras da pesquisa. Os resultados também mostraram que quem tem esse canal de comunicação aberto durante a infância costuma ter relações sexuais mais seguras quando adulto.
O importante é que seu filho veja em você uma fonte confiável de informação e se sinta confortável para fazer perguntas sempre que aparecer alguma dúvida. Quando isso acontecer, deixe os questionamentos da criança guiarem a situação. Você não precisa responder nada além do que foi perguntado. Dê respostas simples e adequadas para a idade, mas nunca deixe de respondê-las.
Hoje, com tantas tecnologias e fontes de informação, pode acontecer de seu filho entrar em contato com esse assunto por meio de outras pessoas. É justamente por isso que você, como pai, mãe ou responsável, deve ser o primeiro a introduzir esse tema, mostrando que está sempre aberto para responder todas as dúvidas que aparecerem. Assim, evita que a mensagem chegue errada, incompleta ou de uma forma que você não gostaria.
Ficar de olho no que as crianças assistem na televisão e nos conteúdos que elas consomem na internet e nos videogames também é uma boa. Sempre que puder, tire um tempinho para participar dessas atividades junto com o seu filho. Além de supervisionar as informações a que ele tem acesso, você ganha uma oportunidade interessante de falar sobre sexo e sexualidade. Se estão vendo um filme e aparece uma cena de casamento, por exemplo, é uma chance legal de conversar sobre como funcionam os relacionamentos.
Não existe comprovação científica de que conversas sobre sexualidade estimulem as crianças a começar a vida sexual mais cedo. Muito pelo contrário. Alguns estudos já mostraram que, em casas onde se fala abertamente sobre isso, os adolescentes tendem a ser mais conscientes sobre o assunto e a adiar por mais tempo suas primeiras experiências.
“Falar de sexo com o seu filho não significa que ele vai ter vontade de fazer. As crianças precisam ter acesso a informação de qualidade. Mas os pais devem tomar cuidado para não colocar uma carga erótica nesta conversa”, explica a psicóloga Ana Canosa, educadora em sexualidade e mãe de Theo.
Segundo a especialista, as crianças não enxergam sexo e sexualidade com o mesmo olhar malicioso dos adultos. Para elas, esses assuntos ainda não são um tabu. Por isso mesmo, na hora de dar explicações ou responder às perguntas, você pode contar com uma mãozinha da Biologia, para explicar como o corpo humano funciona e como a reprodução humana acontece.
Se ainda assim, não se sentir confortável para falar sobre isso, não tenha medo de estudar e pesquisar. Converse com pediatras, psicólogos e busque informações em livros e sites confiáveis. Pode ser difícil e incômodo num primeiro momento, mas abordar esse assunto dentro de casa não precisa ser um bicho de sete cabeças.
“Existem alguns momentos que favorecem o início dessas conversas. Os pais tem que aproveitar situações que remetem à sexualidade para explicar e tirar dúvidas. Na hora da higiene e do banho, por exemplo, você pode passar uma noção sobre prevenção de abusos”, conta Ana.
Por mais que a gente saiba a importância de falar sobre sexo e sexualidade com as crianças, a prática nem sempre é tão fácil quanto parece. Às vezes, surgem perguntas inesperadas e que exigem uma boa dose de jogo de cintura. Pensando nisso, o National Center on the Sexual Behavior of Youth (Reino Unido), lançou uma cartilha para ajudar os pais nessa missão. A seguir, veja quais são as recomendações sobre o que deve ser dito ou não, de acordo com a idade:
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