Família

Como lidar quando o impacto emocional em ter um parente com covid-19 é tão forte quanto a doença?

É difícil manter o equilíbrio, mas fundamental procurar apoio - Getty Images
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Publicado em 18/12/2020, às 08h44 - Atualizado às 08h57 por Yulia Serra, Editora | Filha de Suzimar e Leopoldo


“Receber a notícia de que meu filho estava com covid-19 foi como um soco no estômago! Uma sensação de impotência imensa. Pensar que alguém que você ama com todas as suas forças pode sofrer e até morrer, e eu, como mãe, não poderia fazer nada para ajudar é terrível, porque a gente só pensa no pior”. É assim que Nilza Lerose, dona de casa, mãe de Thiago, Cinthia e Fabio descreve o sentimento de ter um familiar infectado pela doença.

É difícil manter o equilíbrio, mas fundamental procurar apoio (Foto: Getty Images)

Essa sensação foi potencializada ainda mais quando os outros dois filhos dela também foram diagnosticados com o vírus. O medo do desconhecido, a ausência de contato, as dúvidas sobre o que iria acontecer, a contagem dos dias, receber atualizações do quadro através de uma ligação diária… Tudo isso somado fez com que Nilza se sentisse impotente. “A parte mais difícil foi a distância. Não poder estar perto deles num momento de enfermidade, pensar que poderiam precisar dos meus cuidados e eu não poder estar por perto foi muito estressante”, desabafa.

Daniella Freixo de Faria, psicóloga, mãe de Maria Luisa e Maria Eduarda, traduz esse turbilhão de sensações em uma frase: “O nosso emocional pode ficar bastante abalado quando percebemos que não temos todo esse controle”. Para a especialista, é uma tendência automática do ser humano querer controlar tudo e, como nessa situação não há controle, mas apenas “o melhor possível que podemos fazer hoje”, acabamos desenvolvendo ansiedade, desconforto, tristeza, medo… Nesses momentos, ela diz que uma ponto de apoio importante pode ser a crença religiosa. E foi justamente esse o suporte maior de Nilza, que se apegou a Deus: “Eu orava o tempo todo para que Ele curasse os meus filhos”.

Corrente de apoio

A psicóloga afirma que é necessário cuidar da saúde de forma geral nesse período, envolvendo física, mental e espiritual. Vinícius Cavalcanti, estudante, filho de Cláudio e Cláudia, constatou isso quando os pais foram diagnosticados com coronavírus. Para ele, o choque maior foi constatar que os sintomas da mãe batiam com os já informados pela mídia, por isso a confirmação médica não foi surpresa. O casal passou um tempo em quarentena dentro de casa em um primeiro momento. “Após os quatorze dias de isolamento e nada de melhora da minha mãe, pelo contrário, levei ao hospital novamente e, dessa vez, foi a internação”, completa.

Mesmo à distância, vale procurar a sua rede de amigos para ser colo (Foto: Getty Images)

Vinícius disse que saber que ela estava recebendo tratamento médico adequado o manteve tranquilo nesse momento. A impossibilidade de visita fez com que ele fosse responsável por receber as ligações do hospital informando a situação da mãe, o que havia sido feito e se havia previsão de alta. “Por ter esse contato, adquiri a missão de atualizar os contatos dela via WhatsApp e Facebook também”. O estudante conta que se manteve confiante o tempo todo, mas não foi assim para todos em casa. “Quem mais sofreu foi meu pai, que também estava contaminado, viu os sintomas se agravaram, e era nítido sua preocupação de perder minha mãe e a própria vida”, acrescenta. Depois de tudo, Vinícius afirma que é fundamental cuidar da saúde mental e, muito mais do que isso, cuidar da saúde física usando máscara, respeitando o distanciamento, não apenas pensando em si. “Caso você se descuide, outra pessoa pode se prejudicar. Então preste atenção nos seus atos”.

Cuidando de todos

Cuidar de si é fundamental, com ou sem pandemia, é o que defende Silvia Lobo, psicóloga, psicanalista e socióloga, mãe de Adriana, Suzana e Maurício. Mas esse carinho consigo mesma se torna ainda mais importante em períodos de instabilidade: “Em um momento onde o ambiente externo e o contato humano se apresenta tão ameaçador, a vida interior é o único abrigo no qual podemos encontrar serenidade”. Para ela, a preocupação com adoecimento de pessoas queridas exige recursos emocionais para fazer frente. “O melhor elixir para o alívio deste tipo de dor é o conhecimento. A informação do que se passa, da gravidade do quadro da doença em cada pessoa e a confiança de que recebe os cuidados necessários”, pontua.

O conhecimento técnico realmente foi um ponto positivo para Bianca Lucarevschi, médica, mãe de Fernando, que teve o pai na UTI por conta da doença. “Fiquei em uma situação muito delicada: normalmente não é recomendado que um médico assuma tratamento de um familiar, por causa da interferência do fator emocional, principalmente em casos graves. Mas sabia que se passasse para outro médico, corria o risco dele não ser adepto do tratamento que eu considero importante”. Como ela e o pai moram em diferentes cidades, a distância foi um dificultador no início, ela decidiu passar o caso para um colega de turma, mas também tirou licença para ir ao Rio de Janeiro cuidar dele.

O pensamento da médica focou nas questões práticas: o que era necessário prescrever, se precisasse de internação como seria, por isso os receios com complicações e possível falecimento foram menores: “Enquanto ele estava vivo e doente eu precisava decidir o que fazer, e essa era a preocupação principal”. E essa responsabilidade, pessoal e profissional, foi a parte mais difícil para ela. “Ele estava com uma doença grave e potencialmente fatal. Se viesse a falecer, eu queria ter o coração tranquilo por ter feito meu melhor”, conta. E essa confiança foi uma via de mão dupla entre pai e filha. Bianca garante que o principal suporte que recebeu veio dele, “que acatou cegamente minhas decisões quanto ao tratamento”.

Não deixe de cuidar da sua saúde (Foto: Getty Images)

Culpa, não

Para Silvia Lobo, ter apoio é um ponto importante no processo: “Compartilhar sentimentos dolorosos com pessoas capazes de ouvir e sentir solidariedade, nos ajuda a tornar esses momentos mais suportáveis. Cabe saber escolher a quem procurar”. A psicóloga entende que quem enfrenta essa situação crítica precisa de “ajuda solidária”, ou seja, pessoas que tragam comida, façam companhia, tenham tolerância e acreditem na recuperação. Valentina Drummond, profissional de relações públicas, filha de Graça e Fernando, que teve a mãe com coronavírus, concorda.

Primeiro, Valentina foi diagnosticada com a doença e ficou isolada dentro de casa, já que mora com a mãe. Quase finalizando o tempo em quarentena, a mãe testou positivo para a doença também. Se com a profissional os sintomas foram quase inexistentes, com a mãe a história foi outra e somado com a lotação dos hospitais, escassez de funcionários e exaustão dos plantonistas, ela não aguentou: “Eu tive crise de pânico, chorava todos os dias. Você lê os jornais, fala com as pessoas e cada um conta uma história. A maioria já perdeu pessoas da família, então você fica apavorada”.

A filha pôde acompanhar a mãe na UTI e Valentina acredita que isso deu mais forças para a mãe. Valentina tentava passar confiança, mas tinha bastante receio: “Minha cabeça ficava o dia todo achando que ela podia morrer. É horrível”. Para minimizar esse sentimento, ela agradece o apoio de amigos: “Eles te deixam para cima, isso me deu muita força”. Ela também ressalta o apoio dos profissionais da saúde: “Todo dia o Dr. Zeballos me ligava, ele respondia a qualquer momento que mandava mensagem e estava sempre sorrindo quando vinha nos ver”.

Respeite seus sentimentos e, se necessário, procure ajuda especializada (Foto: Getty Images)

Um outro ponto de vista

Para Daniella Freixo, ao constatar a vulnerabilidade há dois caminhos: entrar em uma crise enorme de buscar ter controle ou gerar um impulso a partir desse desconforto que nos faz ter mais presença no dia a dia, rever os valores e princípios. “Quando constatamos nossa vulnerabilidade e conseguimos fazer disso um sentido para a vida, o quanto isso nos bota mais vivos hoje, começamos a ter o nosso emocional e saúde psicológica alinhados com a vida”. A especialista enxerga a pandemia como uma oportunidade de entender esse espaço de desconforto e perceber que não estamos só: “A gente consegue se dar colo”.

Não é e nem será fácil. O coronavírus mudou muita coisa e as incertezas são uma barreira para manter a saúde mental, por isso Daniella finaliza: “Entrar em contato com a condição de vulnerabilidade que somos é desconfortável, mas ao mesmo tempo nos traz a informação tão preciosa de que a vida agora é a coisa mais valiosa que temos para cuidar. Quando entendemos esse sentido da vida e o quanto a vida é realmente um sopro, essas relações (familiares ou não) ganham intensidade, em gestos de amor”.


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