Publicado em 01/08/2020, às 08h08 por Ana Cardoso e Marcos Piangers
Era mais ou menos o dia 47 (mil) da quarentena e resolvemos fazer um café da manhã especial, com ovos, pães de queijo, torradas com geleia e suco de laranja; tiramos as louças que a minha filha chama de “chiques!” de cima do armário, preparamos a mesa da cozinha e colocamos para tocar músicas dos Beatles. Ela adora Twist and Shout e quando vem a parte do ~aaaaaaaAAAAAAAHAAHAHAHA~ balançamos os braços em direção ao céu e pulamos juntos, imitando uma guitarra com as mãos. Ela imita tudo o que eu faço e quando eu olho pra minha filha me conheço um pouco mais: a cara de dor na hora que simulamos um solo de guitarra; os olho arregalados quando canto um refrão; a forma como ela (e eu) dançamos germanicamente, sem ginga alguma, mas emanando uma felicidadeboba.
Foi quando começou a tocar Blackbird e, o Paul mal tinha começado a cantar, eu comecei a chorar de um jeito incontrolável, como se meus olhos fossem algum encanamento com rachadura. “Blackbird singing in the dead of night”, ele cantava na minha cozinha, e não sei se era lembrança do dia em que vi ele ao vivo, o tempo todo que passamos fechados em casa, o barulho de passarinho da música, que inevitavelmente nos lembra uma liberdadeque talvez não volte nunca mais, não sei se era perceber o quanto éramos sortudos e abençoados por termos uma casa, uma família, ovos mexidos e café, os Beatlestocando na nossa cozinha e crianças para nos mostrar o que importa nesse mundo. Sempre que vê uma estrela cadente ou sopra velas no bolo de aniversário, minha filha menor fecha os olhos e sorri, fazendo um pedido. É uma cena especialmente bonita, pois ela realmente se concentra. Sei que é contra a lei universal dos pedidos, mas sempre pergunto o que ela desejou. E ela sempre me responde, cochichando no meu ouvido: “Que a nossa família nunca se separe”. Todas as vezes, há oito anos, o mesmo pedido. “Que a nossa família nunca se separe”.
“All your life, You were only waiting for this moment to arrive”, o Paul cantava na minha cozinha. Minha filha estava ainda com o pijama lambuzado de geleia de morango e eu me sentia um homem feliz. A quarentenatem sido longa e cansativa, mas cheia de momentos que, olhando em retrospecto, tenho certeza que sentirei saudades. Quantas vezes eu estava trabalhando demais, pedindo aos céus um tempo em casa com a família? Olho para minha filha e me vejo de novo, com oito anos, achando a vida a coisa mais divertida do mundo.
O escritor Kurt Vonnegut, costumava dizer que a única missão de uma pessoa na Terra é esta: fazer outras pessoas apreciarem estarem vivas, pelo menos por alguns segundos. “As pessoas sempre me perguntam se eu conheço alguém que foi capaz disso”, ele dizia. “Os Beatles. Os Beatles conseguiram”.
Era um dia qualquer, passava das 9 e ainda estávamos na cozinha passando manteiga em torradas e beliscando uns morangos e umas bergamotas. Fazia frio e como minha filha come muito devagar, fervi mais água para o chá para fazer companhia pra ela sem me congelar. Ela estava feliz, empolgada com os capítulos nais do livro que está lendo, o clássico Pollyana, de Eleanor H. Porter, publicado pela primeira vez em 1913. “Mãe, você não acreditaaaaaaaaa. Agora entendi tudo. A tia Polly vai namorar com o doutor Chilton, então é por isso que ela não queria que ele atendesse a Pollyana quando ela se machucou, porque ela já gostava dele!”. Ao final, arregalou os olhos e abriu os braços, satisfeita com a sua própria astúcia de compreender a trama.
Li os livros da pollyana quando tinha 12 anos. gostei tanto quanto ela, não conseguia largar. Mas, diferente da Aurora, eu ficava muito triste, com o peito apertado, chorava às vezes. Pobre Pollyana e seu ‘jogo do contente’. Tanta coisa ruim acontecia com ela, e ela sempre se esforçando para ficar feliz.
Depois de adulta, não foram poucas as vezes que me senti um pouco Pollyana. Positiva demais, resignada demais, passiva demais. Por isso, nunca insisti para que minhas filhas lessem o livro. Eu realmente não sei se acho bom na formação da personalidade das meninas, particularmente. Mas, como ela encontrou o livro em casa, eu é que não ia coibir a leitura. Intrigada com a empolgação dela com o namorico da tia Polly e o tal médico, não me aguentei e perguntei: “Aurora, a tia Polly não é malvada?” Não me lembro de querer o bem da tia Polly.
A resposta da Aurora me surpreendeu demais: “Mãe, o livro da Pollyana não é como o Extraordinário, onde cada personagem tem seu capítulo, com a sua visão da história. Tudo que eu sei da tia polly é a visão da pollyana, então eu não posso te dizer como ela realmente é.”A Aurora está certa. Não deveríamos julgar ninguém sem ouvir todos os lados, nunca. Que bela lição aprendi. Que delícia ouvir de uma criança uma definição de empatiaque muito adulto defende mas não entende com tanta clareza. A vida é mesmo extraordinária.
Moral: “A pandemia é ruim mas tem seus momentos belos. E você não precisa ser nenhuma Pollyana para encontrar”
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