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Família síria reconstrói a vida no Brasil e provam que o amor não tem fronteiras

Pais&Filhos
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Publicado em 04/01/2020, às 06h21 por Marina Paschoal, filha de Selma e Antonio Jorge


Lar é onde nossa família está. É isso o que diz a frase clichê, mas muito verdadeira. Mas entender o real sentido do que isso significa, pode não ser fácil – para a famíliade Fátima Ismail pelo menos, não foi. Ela, que é da Síria, se esforçou muito para conseguir chegar onde está hoje: na zona sul de São Paulo ao lado do marido e dos cinco filhos. “Família é a prioridade número um da minha vida. Sem eles eu não seria nada”, ela justifica o esforço para manter todos por perto desde que saíram do país natal fugindo da guerra civil.

A primeira parada deles foi na Jordânia, país vizinho. Na época, Fátima e os três filhos mais velhos foram abandonados pelo primeiro marido dela e pai das crianças – Mohamad, Mussen e Lawand – hoje, com idades entre 22 e 15 anos. Lá, ela conheceu o atual marido, Abdul. No país, a vida deles não era fácil, então viram no Brasil a oportunidade de recomeçar.

Fátima tem uma página no Aibnb, onde compartilha sua cultura ensinando a fazer pão-folha curdo (Foto: Divulgação)

A família, que hoje conta com mais dois filhos, Laith, de 6 anos, e Simaf, de 4, vive em terras brasileiras desde 2014, mas se consideram estabilizados e adaptados há apenas dois anos. Eles vivem num bairro residencial, perto de escolase comércios regionais. As crianças frequentam a escola primária, vão e voltam a pé. Os dois filhos do meio finalizam o Ensino Médio, estudando no período noturno e trabalhando durante o dia. “Não foi fácil vir para cá, porque não tínhamos família aqui e ficar perto dos nossos parentes faz parte da nossa cultura, é muito importante. Nossa alma está lá com eles, mas nosso corpo está aqui”, Fátima conta.

A cada manhã, uma nova oportunidade

O dia por lá começa cedo. Às 3h30 o despertador de Abdul toca para mais um dia de trabalho em um supermercado, onde um dos filhos mais velhos também é funcionário. Na sequência, os demais filhos vão acordando, tomando café, fazendo a oraçãodiária e saindo de casa um atrás do outro para seus respectivos trabalhos. Os menores vão à aula acompanhados da mãe, que os leva e busca praticamente todos os dias. “Eu faço questão de que eles estudem, porque o conhecimento é luz na vida deles”, comenta.

Fátima trabalha de casa, vendendo comida síria sob encomenda e recebendo visitantes que procuram a experiência cultural. Ela tem uma página no Airbnb e isso tem ajudado muito a expandir suas aulas – a especialidade dela é o pão-folha curdo, mas ela serve de tudo: desde o café com cardamomo, tâmaras e castanhas, até o suco de damasco, doces típicos e charuto recheado de repolho, por exemplo.

“Como mulher, lá na Síria aprendemos a cozinhare costurar desde cedo. É algo que eu gosto de fazer e que consigo trabalhar”, ela conta. No país de origem, ela trabalhava como costureira na fábrica da família, além de dar aulas às crianças. Pela casa, é possível perceber que eles tentam manter as raízes, mesmo tendo que abrir mão de muitas coisas, peças e fotos antigas. “Precisamos deixar muita coisa lá, mas temos algumas como esse tapete [na parede da sala], heranças de avós e o mais importante: temos um ao outro”, ela conclui, emocionada.

O bule de café da família (Foto: Pais&Filhos)

Família em primeiro lugar

Não foi fácil sair da Síria e depois da Jordânia, todos juntos – tanto, que nem aconteceu de uma vez. Mas ela não sossegou enquanto não estivesse ao lado de todos os filhos. E a gratidão deles à mãe é perceptível pelos gestos de carinho – com ela e entre eles. A cada filho que entra em casa o ritual de beijo e abraço em todos os membros da família se repete.

Carinhosos, aproveitam o tempo livre para curtir a companhia uns dos outros. “Percebemos que aqui no Brasil as pessoas têm muito hábito de viver online. Nós preferimos gastar nosso tempo com algo que vai nos agregar, ou seja, com a nossa família principalmente”, conta Mohamed, um dos filhos mais velhos e que melhor fala português, enquanto segura a caçula no colo depois de um ataque de cócegas.

A importância de manter os filhos todos por perto vem tanto da cultura síria e de tudo o que significa a família para eles, como também de um esforço para que eles não tenham que passar pelo mesmo que ela. Fátima tem, ao todo, oito irmãs e cinco irmãos – mas, por conta da guerra, cada um está num lugar do mundo, entre Jordânia, Síria, Líbano, Canadá, Finlândia, Suíça e Holanda. “Viver sozinho não faz parte da nossa cultura. Nós construímos uma família grande para cuidar da gente, para ter companhia”, ela explica.

Com amigos na vizinhança, eles aproveitam para ensinar sobre a cultura muçulmana e oferecer pratos típicos para quem chega por lá. “Eu gosto muito de receber as pessoas na minha casa, sinto uma troca de cultura e confiança, e isso me emociona. Quando eu abraço as pessoas é que entendo no meu coração o sentimento de gratidão”, Fátima explica.

Lar, doce lar

Entre todos os lugares que a família passou, o Brasil, segundo eles, foi o que melhor os recebeu. As pessoas foram receptivas e mostraram curiosidade em relação à cultura deles. “Aqui é onde a gente se sente mais confortável para reconstruir a vida”, Mohamad conta.

E não pense que o contraste de culturas ou religião atrapalharam em algo, não. Logo que chegaram em terras brasileiras receberam ajuda de igrejas, e aceitaram. “Acreditamos que mesmo sendo religiões diferentes, no final é o mesmo Deus. Porque somos todos humanos. Igreja ou mesquita, não importa, é a casa de Deus, onde a gente faz a nossa oração. Temos o mesmo objetivo”, ele pontua.

No discurso deles, dizem que independente de estar escrito na bíblia ou no alcorão, os princípios do bem são os mesmos. “São valores que a gente carrega no coração”, ela completa a fala do filho, que acrescenta: “Não importa de onde você veio, mas para onde você vai”.

As lembranças e peças de família são poucas, mas preciosas, como o tapete na parede da sala (Foto: Pais&Filhos)

O verdadeiro significado de Natal

Historicamente celebrado como uma festa cristã, o Natalpropriamente dito não existe na cultura muçulmana – que comemora o Ramadã e outras datas importantes do calendário islâmico. Mas isso não impede que eles aproveitem a data para curtir (ainda mais) a companhia um do outro. Na casa, inclusive, os pisca-piscas já fazem parte da decoração interna e externa. “A gente aproveita para celebrar a família, os amigos e a vida que temos. Graças a deus sabemos aproveitar e ter uma vida bonita, com comida na mesa e a família por perto”, ela comemora.

E é esse o verdadeiro significado do Natal, independente da crença: estar junto de quem amamos. Ser grato pelo que se tem e aproveitar a união. “Meus filhos sabem que são tudo para mim. Estaremos sempre juntos, independente de onde for. Toda essa aventura que passamos foi para conseguirmos ficar juntos. E é isso que realmente importa”, Fátima finaliza.

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