Publicado em 08/06/2021, às 11h38 - Atualizado às 12h02 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco
O fungo negro, que causa uma doença chamada mucomircose, é grave e merece atenção. Na Índia, essa infecção tem se tornado cada vez mais comum nos pacientes com covid-19, mas ainda não é possível relacionar a manifestação à doença.
Para tirar as principais dúvidas sobre o assunto, conversamos com o Estevão Urbano, infectologista do Hospital Vila da Serra, Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e Diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia e com Filipe Prohaska, infectologista do Grupo Oncoclínicas. Os médicos esclareceram quais problemas o fungo pode trazer e explicaram se ele pode ou não ser mais grave para crianças.
De acordo com Estevão Urbano, o fungo negro é o nome dado para um grupo com três gêneros de fungo, causadores da mucomircose. “Como em algumas pessoas há a necrose das partes moles da pele, dos tecidos superficiais, levam ao aspecto negro”.
Apesar de nome “fungo negro”, vale lembrar ainda que isso não significa que o fungo em si seja preto! “Essa necrose é causada pela obstrução dos vasos pelo fungo. Nas regiões, não há fluxo de oxigênio e a necrose tem uma aparência negra”, completa o infectologista do Hospital Vila da Serra. Filipe Prohaska diz que esse fungo “vai consumindo a carne, estrutura e os ossos” das pessoas contaminadas.
Em unanimidade, os médicos explicaram que o fungo negro pode acometer qualquer idade, inclusive as crianças. Mas, é importante ressaltar que isso não significa que o problema se torna mais grave nesta faixa etária. “Ele só é invasivo quando o indivíduo está muito debilitado, como: diabetesdescontrolado, tratamento de tumores, uso de altas doses de corticoide, alguns tipos de câncer”, comenta Estevão.
Esse fungo já existe há centenas de anos e está distribuído no mundo inteiro. A contaminação pode acontecer por meio de vegetais e dentro de hospitais, por exemplo, e raras são as vezes em que ele pode causar doenças agressivas. “É um fungo que pode entrar pela boca ou nariz”, explica o infectologista do Grupo Oncoclínicas.
Os sintomas de fungo negro são diversos e pode depender de onde ele está localizado no corpo. Geralmente, é mais comum a presença nos seios da face, justamente por causa da contaminação pela boca ou nariz. Neste caso, pode ocorrer:
A relação do fungo negro com os casos de coronavírus pode ocorrer justamente pelo uso de altas doses de corticoides. “Ele pode imunossuprimir o individuo e causar esse adoecimento”, explica Estevão. “O tratamento inadequado em doses desnecessárias de corticoide pode ser o motivo de facilitar essa infecção fúngica em casos de coronavírus. Mas, ainda não temos uma definição casual se a covid pode favorecer o aparecimento desse fungo”, completa Filipe.
“Não há uma relação direta do fungo negro com a pandemia que possa potencializar os casos de covid. Na verdade, são complicações dos indivíduos com covid grave, que tomam altas doses de corticoide. Eles até podem se recuperar da covid, mas podem evoluir gravemente por causa dessa infecção secundária, muitas vezes fatal”, diz Estevão.
Infelizmente, sim. “Quando as infecções ocorrem, elas são muito graves e a taxa de mortalidade é alta, mesmo com o tratamento mais efetivo disponível”, explica o diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia. Muitas vezes, mesmo com a realização de cirurgias, as partes do corpo em que ocorreram a necrose podem ficar desfiguradas.
Diariamente, se tem contato com esses fungos na natureza. Mas, é importante reforçar que o agravamento só acontece quando a imunidadeestá baixa, pois ele invade o corpo causando a infecção do paciente. Nas pessoas que estão saudáveis, é muito difícil que a doença possa evoluir.
O tratamento contra a mucomircose, doença causada pelo fungo negro, se dá a partir de antifúngicos potentes pela veia, que devem ser aplicados por tempo prolongado a partir das recomendações de um médico especialista. Além disso, pode ser necessário a retirada dos focos de necrose a partir de cirurgias específicas. “É um tratamento bastante agressivo, mas muitas vezes não suficiente”, conclui Estevão Urbano.
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