Publicado em 04/06/2019, às 15h54 - Atualizado em 30/01/2020, às 19h35 por Jennifer Detlinger, Editora-chefe | Filha de Lucila e Paulo
A história do Instituto Olga Kos começou a ser escrita na UTI de um hospital em São Paulo, onde o empresário Wolf Kos se recuperava de uma cirurgia cardíaca. Foi um procedimento simples, mas que resultou em uma grave infecção hospitalar, da qual Wolf se livrou após um ano de longas internações. Durante a recuperação, ele a esposa, a pediatra Olga Kos, assistiam à novela Páginas da Vida, da Rede Globo, que narrava a história da menina Clara, com síndrome de Down, e se sensibilizaram com a causa.
Após se recuperar completamente das dificuldades, Wolf saiu do hospital decidido e motivado a aproveitar sua segunda chance de vida e ajudar outras pessoas. A vontade (e o sonho) de colocar em pé uma entidade que pudesse promover projetos de inclusão para pessoas com deficiência intelectual, através de oficinas de artes e esportes, se materializou na criação do Instituto Olga Kos, em 2007. Em doze anos de existência, o IOK já beneficiou mais de 15 mil pessoas e atualmente atende cerca de 3500 crianças, jovens e adultos com deficiência intelectual, ou que se encontram em situação de vulnerabilidade social, espalhadas por mais de setenta locais em todas as regiões da capital paulista.
É o caso da família de Richard Manuel Jorgino, de 11 anos, que descobriu uma nova vida nas atividades artísticas e esportivas. Abandonado pela mãe biológica aos 8 meses de idade, o menino nasceu com síndrome alcoólica fetal, epilepsia, hipotireoidismo e hoje está inserido no espectro autista. A psicóloga Fátima Jorgino e a nutricionista Beatriz, mãe e filha, conheceram Richard quando ele tinha 1 ano e meio, em um abrigo, e logo foram à luta para adotar o menino. “Ele sempre foi nosso, só demoramos um pouquinho para nos encontrar”, conta Beatriz. Richard já frequenta as oficinas de karatê, artes e expressão corporal do IOK há três anos e meio e teve uma grande evolução. “Ele é uma criança muito ativa. Com as atividades, a concentração dele melhorou muito, além da questão de acatar comandos e o controle de corpo”, comemora a irmã.
Oficinas de esporte
É por meio do esporte e da relação entre o individual e o coletivo que os alunos aprendem a respeitar a hierarquia, além de disciplina, respeito e cuidado com o próximo. As oficinas de karatê e taekwondo estimulam o desenvolvimento motor, melhoram a qualidade de vida das crianças, jovens e adultos com deficiências intelectuais. Aos 36 anos, Márcio Gabler Del Nero, que tem síndrome de Down, é faixa preta e sensei nas oficinas do IOK. Há 8 anos, ele entrou no Instituto como um dos primeiro alunos, se destacou e logo foi contratado como assistente e professor de karatê e taekwondo. As artes marciais também ajudam no companheirismo, organização, respeito às regras e o aumento da autoestima e autoconfiança.
E as oficinas vão além: ao final das aulas, os alunos se juntam em uma roda para um bate-papo conduzido por uma psicóloga. “Com a roda de conversas, trabalhamos o foco, a independência, a autonomia e a socialização. Colocamos em pauta assuntos que estão em alta para incentivar a noção de tempo, espaço e a memória deles”, explica a psicóloga Lúcia Dias Mendes, filha de Valdemiro. A ideia é que os alunos saiam da oficina pensando no que acabaram de vivenciar e aprender, além de trabalhar a expressão verbal e estimular a troca de experiências entre eles. “Às vezes, muitos alunos não têm a oportunidade de simplesmente conversar fora da oficina. A roda de conversas é uma forma de eles terem assunto, saberem o que está rolando lá fora, e se prepararem para o dia a dia como indivíduos de uma sociedade”, completa Lúcia. Todas as atividades têm acompanhamento de fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos, para a segurança dos alunos.
Arte para inclusão
Através das oficinas de artes plásticas, dança e música, o Instituto Olga Kos divulga a diversidade cultural do país e usa o exercício da arte como ferramenta de inclusão social. No projeto Arte para Inclusão, os participantes das oficinas criam e reproduzem imagens inspiradas na obra de um artista brasileiro, que também pode ministrar as aulas de arte. Até janeiro do ano que vem, o projeto vai promover a inclusão para 84 crianças e adolescentes com e sem deficiência intelectual e em situação de vulnerabilidade, complementando a sua formação humana e integral.
Marcela Soares dos Santos, de 17 anos, tem deficiências física, intelectual e visual, e participa das oficinas de arte do IOK há três anos. “A quarta-feira amanhece e já bate a ansiedade na Marcela para estar na oficina. Ela ama estar aqui, se o projeto acabar, vai fazer muita falta. Hoje, ela está mais independente, criativa e faz amizade mais fácil”, conta Regina, mãe da menina.
No espaço Fábrica de Cultura, no bairro Vila Nova Cachoeirinha, Zona Norte de São Paulo, a sala número 218 se tornou uma verdadeira casa para essas crianças e adolescentes. As paredes brancas ganharam cor através das pinturas dos alunos e o ambiente fica cheio da vida e risadas durante as oficinas de arte. Na fase atual do projeto, os participantes criam imagens a partir de formas geométricas inspiradas nas obras da artista brasileira Marysia Portinari. Fitas e papéis coloridos são transformados em desenhos pelas mãos das crianças e adolescentes, assim como as telas brancas que ganham pinturas.
Jaqueline do Nascimento Maciel, mãe de João Victor, de 20 anos, comemora o desenvolvimento social e a felicidade do filho com as oficinas de arte. “Eu só descobri que o João tem síndrome de Down na hora do parto. No começo foi bem difícil, já que eu não tinha conhecimento nenhum, mas aos poucos ele foi se desenvolvendo, assim como eu. Até os 13 anos, ele frequentava uma escola regular e foi um momento bem difícil, apesar das professoras ajudarem bastante. Eles falam sobre inclusão, mas na verdade é uma exclusão”, conta.
Jaqueline lembra que chegou a passar anos reclusos em casa com o filho, que não tinha nenhuma atividade, antes de conhecer o Instituto Olga Kos. “Ele foi acolhido com muito carinho, temos um suporte de amor dos profissionais, que é o mais importante de tudo. Hoje, o João faz três atividades e, se dependesse de mim, viria para as oficinas todos os dias. Meu filho, que era muito tímido, hoje está mais alegre, feliz e ágil. A oficina é maravilhosa para as mães também. Conhecemos muitas amigas e formamos uma verdadeira família”, comemora.
Uma mãe ajuda a outra
Mãe de cinco filhos, dois deles autistas, Juliana Viguini Coppola sabe bem da importância de ter essa rede de apoio. “Tenho uma rotina bem atípica. Cada hora acontece uma coisa e eu preciso sair correndo de casa, mas hoje eu já tiro de letra. Cada dia é uma surpresa nova, mas sou muito abençoada”, diz Juliana, mãe de Andrew, Giuliano, Bruna, Giovanni e Lucas, que os trata de forma igual. “Eu cuido dos meus cinco filhos da mesma forma. Muitos pais acabam criando os filhos com deficiência dentro de uma redoma e tratam um diferente do outro. Apesar de algumas dificuldades, eles são normais. Precisamos manter um olhar de igualdade entre os irmãos e os filhos”, conta.
Dá para ver de perto a relação de carinho e apoio que foi (e vem) sendo construída entre essas mães. E a ajuda também se estendeu aos espaços em que as atividades acontecem. A Fábrica de Cultura da Vila Nova Cachoeirinha, por exemplo, criou projetos para que as mães também se desenvolvam como mulheres e empreendedoras. “Fazemos essas atividades para que elas aprendam a fazer doces, salgados ou bolos e consigam ter uma renda extra no fim do mês. Como os filhos demandam cuidados, muitas delas acabam perdendo metade do dia ou não conseguem manter um emprego fixo. É uma obrigação nossa e da sociedade cuidar delas também”, explica José Carlos Brassioli, coordenador da Fábrica de Cultura, pai de Juliana, Bruno e avô de Isadora.
Como ajudar
Para ajudar o Instituto Olga Kos, é possível fazer doações a partir de 20 reais e contribuir através da Lei de Incentivo à Cultura – ao declarar o imposto de renda, você pode destinar parte dos valores para programas sociais, culturais e esportivos.
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