Publicado em 08/12/2020, às 10h25 - Atualizado em 27/04/2021, às 16h48 por Cinthia Jardim, filha de Luzinete e Marco
*Com apuração de Ariella Medeiros
Quando uma mulher que sonha em ser mãe descobre a gravidez, ela passa a se sentir uma no momento do positivo. Então, criam-se os sonhos, expectativas, dúvidas e medos. Quando um aborto espontâneo acontece, a perda deixa marcas profundas emocionalmente, e logo se instala o sentimento de culpa.
O aborto espontâneo acontece entre 15% e 25% das grávidas, tendo uma maior chance de ocorrer no primeiro trimestre da gestação. Infelizmente, a mãe nem sempre recebe o apoio necessário para viver esse momento tão triste e delicado, conhecido como luto ou perda gestacional. “As complicações na mente e no corpo humano são extremamente individuais e únicas. Vivemos um ‘espectro de complicações’ pouco estudados e pouco dialogados”, explica o psiquiatra Daniell Lafayette.
Mesmo na barriga, o vínculocom o bebê já começa a ser construído, além de ser fortalecido pelas mais diversas expectativas envolvidas. Quando esses sonhos deixam de acontecer após uma perda, a família passa a viver o luto gestacional, que é o sentimento após a morte do bebê, independentemente da idade gestacional. “Esse trauma pode trazer sintomas ansiosos, depressivos, fóbicos, dentre outros”, conta o especialista.
A família e, principalmente, a mãe vivem um momento traumático com conflitos, sejam internos ou externos. Durante a gravidez, a sensação de que existe uma vida passa a acontecer pela alteração hormonal e também anatômica de uma gestação, mas quando isso deixa de acontecer, o sentimento de culpa, ter falhado, ou de poder ter feito algo de diferente podem acontecer.
Daniell reforça que é importante viver o lutoe procurar um especialista sempre que necessário. “Então viver o luto, mesmo que seja confuso, é necessário para se ter seu próprio tempo, criar forças, resolves conflitos e tomar qualquer decisão que seja para o seu futuro. Pensar principalmente em respeitar-se, podem não desejar mais ter filhos, adiar por algum tempo a nova gestação ou tentar rapidamente uma nova gestação. Sempre deixo o esclarecimento de buscar acompanhamento médico regular e, se precisar, um suporte psicológico e/ou psiquiátrico”.
Para passar por esse processo, ter uma rede de apoio e alguém com quem possa contar faz toda a diferença. É importante ser acolhida, ouvida, encorajada e principalmente amada. O psiquiatra lista algumas frases para não dizer durante este momento e ainda como você pode ajudar alguém que passou por isso.
“É preciso se colocar no sentido de empatia, tentar pensar no lugar do outro e tentar entender esse sofrimento. O suporte familiar nesse momento é essencial. Trazer segurança em saber que estão ao lado, de não tentar forçar uma naturalidade, compreender o momento de confusão dos pensamentos. Não trazer a ideia de “ainda bem que estava na barriga”, de “ainda bem que foi cedo e você não viu”, “não conheceu”, em “breve vocês podem fazer outro de novo”, “na próxima procure um médico”. Palpites que possam trazer sentimentos de culpa nesse momento são totalmente desnecessários”.
Apesar do momento delicado, Daniell Lafayette explica que cada mulher tem o seu tempo e jeitos diferentes para lidar com o luto. “Sinta seus sentimentos e respeite-se. Chore o que há de chorar, grite o que há de gritar. Esse tempo é sim um LUTO. Às mulheres, principalmente, tenho a dizer: não se sinta culpada, não permita alguém a fazer sentir-se culpada, você não será uma mãe ruim ou fraca e não necessariamente irá perder uma nova gestação. Tenha seu tempo para decidir. Ao casal, tenham um bom seguimento médico, cuide de sua saúde como um todo (corpo, mente, sexualidade…). Aos parceiros(as), principalmente aos homens cis, vocês ficam grávidos, não apenas a mãe, tenha responsabilidade e maturidade”, conclui.
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