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Mãe de Alinne Araújo conta que filha avisou sobre suicídio: é possível prevenir novos casos

Alinne sofria de depressão e ansiedade - Reprodução/Instagram
Reprodução/Instagram

Publicado em 17/07/2019, às 15h55 - Atualizado às 16h16 por Jennifer Detlinger, Editora-chefe | Filha de Lucila e Paulo


Alinne sofria de depressão e ansiedade (Foto: Reprodução/Instagram)

A mãe de Alinne Araújo, influenciadora digital de 24 anos que se suicidou após ser abandonada pelo noivo às vésperas do casamento, falou pela primeira vez sobre a perda da filha durante o programa Encontro com Fátima Bernardes, na manhã desta quarta (17).

Elizabete contou que a depressão e a ansiedade acompanhavam sua filha há muito tempo e que críticas nas redes sociais agravaram os sintomas da doença. “Ela queria muito ajudar as pessoas. Mesmo tendo os problemas, ela só quis ajudar. Ela dizia que era a missão dela… No dia que ela estava bem, ela falava. Quando não estava, nem visualizava”, comentou a mãe.

Ela também contou alguns momentos de como foi o término do noivado um dia antes do casamento da filha com Orlando Costa. “Ela começou a ligar para ele e ele não atendia. Ligou e falou: ‘Sogro, o Orlando sumiu’. Ela pegou o carro e foi atrás dele na casa dele no Méier. Chegou lá e disseram para ela: ‘Você pode revistar a casa para procurar ele’. Na volta ela recebeu a mensagem dele dizendo que não ia casar”, disse.
Após a desistência do ex-noivo, Alinne tentou tirar a vida se jogando na estrada. “Ela tentou se jogar na estrada, foi pesado demais. Ela era uma caixinha de surpresas. Quando ela aceitou casar com ela mesma, eu falei: ‘Esse resultado vai vir depois’”, contou a mãe.

O impacto das redes sociais

Antes do casamento, Alinne tinha 26 mil seguidores. Após o assunto viralizar nas redes sociais, o perfil atingiu mais de 400 mil usuários. A publicação sobre o casamento sozinha dividiu opiniões e a Alinne foi bombardeada com comentários negativos sobre a sua escolha. “Eram pessoas depressivas, que a seguiam por ter a mesma doença. Ela não estava pronta para a quantidade de críticas. Teve gente que a acusou dizendo que ela tinha traído o noivo. Outros dizendo que ela só queria aparecer, que o noivo devia estar escondido e que apareceria depois das filmagens. Foi muita coisa, foi uma avalanche”, comentou Saionara, a tia da influencer.

Alinne Araújo com a mãe (Foto: Reprodução / Instagram)

Ao mesmo tempo, Elizabete disse que a filha se sentiu feliz ao receber a atenção da mídia após se casar sozinha: “Ela ficou falando com a imprensa, todo mundo estava a procurando e ela falou: ‘Mãe, eu estou ficando famosa’”.

Segundo a mãe, mesmo com toda a empolgação, Alinne disse que queria se suicidar. “Ela falou comigo que ia fazer isso, mas eu não levei fé, não acreditei. Ela falou: ‘Meu mundo acabou, meu mundo acaba aqui’. Eu falei: ‘Não, filha. Você é jovem, linda, tinha duas faculdades’. Eu fiz que não entendi”, relatou.

Elizabete também falou sobre os últimos momentos com a filha antes do suicídio. “Não fui trabalhar, fiquei de olho nela depois do casamento. Eu tinha tomado um remédio e estava deitada de um lado e ela do outro. Ela esperou o momento que cochilei e se jogou da janela. A menina que trabalhava com ela viu e tentou segurar pela blusa, mas não conseguiu”, contou.

É preciso falar sobre o assunto

É quase automático: assim que uma notícia sobre suicídio ocupa as manchetes de veículos, surge o debate nas redes sociais de pessoas buscando por razões de alguém ter tirado a própria vida. E o medo e preocupação dos pais e mães em acontecer casos semelhantes com os filhos na própria casa também é comum.

Mas apesar do assunto estar cada vez mais presente nas conversas, ainda é tabu. Não se fala sobre suicídio em casa e escolas até que aconteça algum caso muito próximo. “Há uma crença de que as pessoas que querem cometer suicídio, tendem a ir em frente e fazê-lo, em vez de apenas ameaçar. Mas os pais devem conversar sobre qualquer ameaça de suicídio como se fosse real e tratá-lo como uma verdadeira emergência”, aconselha Mônica Pessanha, psicopedagoga e psicanalista de crianças e adolescentes.

Para o psiquiatra especialista em educação, Celso Lopes de Souza, conversar com as crianças e os adolescentes é indispensável. “A Organização Mundial da Saúde aponta com muita clareza que a melhor forma de abordar os jovens sobre casos próximos de suicídio é respeitando o luto e deixar claro que há abertura para um acolhimento e conversas”.

Em vez de reprimir, é preciso discutir abertamente com seu filho se perceber episódios de isolamento ou ideias de que seria melhor se tudo acabar. “A pessoa que se suicida não queria morrer, mas sim renascer daquela situação que estava vivenciando ou sentindo”, afirma Celso.

Além disso, é importante evitar a ideia de que o suicídio teve somente uma causa pontual. “É muito perigoso. Pensar no suicídio como uma forma de livramento, marco ou protesto devido a um motivo exclusivo, pode influenciar outras crianças e adolescentes em situações vulneráveis. O suicídio é multifatorial”, afirma Celso. Ou seja, as razões que podem levar um jovem a considerar tirar a própria vida vai além de apenas uma.

Enxergar seu filho como um todo

Segundo o médico e terapeuta Marcelo Katayama, os pais e a escola devem olhar para a causa raiz de um suicídio, em vez da causa evidente. “É preciso trabalhar a inteligência emocional nas crianças e adolescentes. Para resolver a causa, não adianta só olhar superficialmente, mas sim encontrar os problemas e sentimentos anteriores como medo, raiva, tristeza, frustração e insatisfação.”

Para Celso, a geração atual de crianças e adolescentes tem tolerância baixa para lidar com frustrações. “É uma geração cada vez mais imediatista. Não estão desenvolvendo paciência, nem persistência e querem resultados rápidos e altos, sem ter desenvolvidos competências técnicas para isso. Isso gera frustração, e eles não sabem ou não aprenderam a lidar com esse tipo de emoção”.

“Também é muito provável que nesses casos, os jovens tenham quadros psiquiátricos não diagnosticados como depressão, TOC, ansiedade e transtornos de personalidade”, completa Marcelo. “A geração de hoje é uma das mais inteligentes, mas também uma das mais frágeis. O suicídio é uma tentativa de pôr fim ao que falta, e a invasão da angústia, de ser livre e ao mesmo tempo de ser querido e valorizado”,  diz Mônica.

Entre 2012 e 2014, houve um aumento de 10% na taxa de suicídio de jovens entre 15 e 29 anos, segundo dados do Mapa da Violência. E de acordo com o Ministério da Saúde, os casos de suicídios no Brasil têm crescido nos últimos anos: os dados mais recentes mostram que, na faixa etária de 15 a 19 anos, foram 722 mortes em 2015, um recorde nos últimos dez anos. O suicídio é a segunda causa de morte de jovens no mundo.

O que fazer para evitar novos casos

Para Mônica, a ferramenta mais eficaz é a observação dos sinais e da predisposição, tanto dos pais quanto das escolas. “Cabe conversar sempre que possível e buscar ajuda sempre que necessário. Discuta com franqueza e abertamente o suicídio com a criança e o adolescente, especialmente se achar que ele pode estar em risco. É importante compartilhar preocupações e incentivar a expressar suas ideias e emoções.”

Também vale ficar de olho em algumas mudanças de comportamento:

– Mudanças na personalidade: tristeza, abstinência, irritabilidade, ansiedade, exaustão e indecisão

– Mudanças de comportamento: deterioração das relações sociais e desempenho escolar, redução do envolvimento em atividades positivas

– Distúrbio do sono: insônia, dormir demais, pesadelos

– Mudanças na alimentação: perda de apetite, perda de peso ou excessos

– Medo de perder o controle: comportamento errático, prejudicar a si mesmo ou aos outros

“Busque ajuda psicológica sempre que perceber mais de três sintomas e se a criança falar muito sobre morte, mesmo que ele não diga sobre o próprio desejo de morrer. É preciso dialogar muito, ouvir aquilo que nem está sendo dito em palavras. Cada pai e mãe conhece seu filho e poderá identificar aquilo que fugir ao padrão da normalidade”, explica Mônica.

Se seu filho fala sobre se matar, entre imediatamente em contato com um profissional de saúde mental. Vale também ligar para o centro de valorização da vida, serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio — basta discar 188.

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