Família

“Maid”: série da Netflix sobre mãe solo que vive violência doméstica é realidade de muitas mulheres

Maid está entre as séries mais vistas da Netflix - Reprodução/ Netflix
Reprodução/ Netflix

Publicado em 15/10/2021, às 18h23 - Atualizado às 18h27 por Hanna Rahal, filha de Lydiana


“Maid” está entre as séries mais vistas da Netflix. O enredo complexo e emocionante chamou a atenção principalmente por um motivo: a trajetória de uma mãe solo, que após fugir de um relacionamento abusivo, se viu sem nenhum amparo por inúmeras vezes.

A trama de 10 episódios é uma adaptação inspirada na jornada de Stephanie Land, autora do livro de memórias “Faxineira: trabalho duro, salário baixo e a vontade de uma mãe para sobreviver”, em tradução livre. E essa realidade está longe de ser ficção para muitas outras mães.

Durante os episódios, a protagonista, Alex, vive uma rotina intensa de superar forças e até os próprios medos. Após sair de casa sem dinheiro algum, com a filha de dois anos nos braços, a mãe sente que não pode contar com mais ninguém para ajudá-la nessa jornada.

Sem spoilers! Mas logo no primeiro episódio ela consegue um emprego, é demitida, passa mal por não ter tido dinheiro para se alimentar, sofre um acidente de carro, dorme com a filha em uma estação e ainda perde a guarda da menina para o pai. Essa sequência de acontecimentos entristece e causa até certa angústia dos telespectadores. Mas o que ninguém reforça é que Alex é um retrato de muitas mulheres no Brasil.

Mais forte que o mundo

A Pais&Filhos conversou com Vanessa Abdo, doutora em psicologia e CEO do Mamis na Madrugada, mãe de Laura e Rafael e ela fez uma reflexão sobre a necessidade que as mães solos têm de serem sempre fortes. “A gente vive em um país em que a maioria das casas é chefiada por mulheres e ainda hoje, a gente se surpreende quando essa realidade é protagonizada nas séries”, começa.

“Em Maid, a gente pode ver uma menina muito nova, tentando romper um ciclo de violência em que ela se sentia exposta. Esses ciclos são muitas vezes superados por mulheres que criam uma situação onde são forçadas a apresentar muita resiliência. Elas precisam dessa força, que muitas vezes é romanceada nos filmes, nas séries e até na vida real, como sendo uma força sobrenatural – quando na verdade é uma necessidade de superação”, avalia.

Maid está entre as séries mais vistas da Netflix
Maid está entre as séries mais vistas da Netflix (Foto: Reprodução/ Netflix)

Para a psicóloga, o custo disso, muitas vezes, aparece em diversas frentes, como a sobrecarga emocional. “Muito solitária, a mãe precisa enfrentar os desafios da carreira, da solidão, do medo. Os desafios financeiros. Existe uma cultura comum em que o pai abandona as crianças, e isso não é evidenciado”, diz.

Lidar com isso sozinha e sem uma rede de apoio é ainda mais complicado para a mãe. Por isso, “Maid” deixa claro que é preciso mudar. Segundo a especialista,  quanto mais a mulher reconhece essa sobrecarga, mais ela consegue lidar, descentralizar e pedir apoio.  “As mulheres precisam entender que, elas não são heroínas apenas se cuidarem daquela situação de forma tão solitária. Elas são vítimas de uma situação de sobrecarga”, pontua Vanessa.

“Quando a gente coloca essa mulher como fortaleza ou heroína, a gente desqualifica o sofrimento e normaliza essa solidão como sendo sinônimo de garra. E na verdade, a mulher vive um efeito colateral desse abandono financeiro, emocional e social”, completa a especialista.

Falando sobre violência doméstica

Outro ponto da série que chamou a atenção e gerou identificação de muitas mulheres foi o retrato de violência doméstica. No Brasil, por exemplo, de acordo com o Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), a cada minuto do último ano, 25 mulheres foram ofendidas, agredidas física, sexualmente ou ameaçadas.

Em um primeiro momento, é importante entender que a violência doméstica e familiar contra a mulher não se restringe à violência física. A Lei Maria da Penha prevê diversas formas de violência: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.

Inclusive, no ano de 2021 foi criada uma lei que classifica crime a violência psicológica contra a mulher, com pena de reclusão de 6 meses a 2 anos, e multa. Então, de acordo com Flaíssa Serra, advogada especialista em Direito das Famílias e Sucessões, filha de Suzimar e Leopoldo, se você vive uma realidade parecida com a de Alex, é preciso pedir ajuda.

A advogada explica que a mulher vítima de violência doméstica tem à sua disposição diversos meios legais para se resguardar e ter certeza que não está sozinha. Entre eles estão:

  • O boletim de ocorrência, no qual a mãe poderá narrar os fatos e formalizá-los, o que pode ser usado como prova;
  • A ação de separação de corpos. Ou seja, uma forma de afastar o agressor da casa e da rotina da família;
  • As medidas protetivas da Lei Maria da Penha, como proibição de aproximação e contato com a vítima, restrição ou suspensão de visitas aos filhos;
  • Além disso, existem outras maneiras da mulher vítima de violência procurar ajuda, como ligações para a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 (que funciona 24 horas), o aplicativo Direitos Humanos Brasil, e o Programa Sinal Vermelho.

Mas e a guarda do meu filho?

Como já vimos, em dado momento de “Maid”, Alex perde a guarda da filha para o marido – de quem se separou por sofrer abusos psicológicos. No entanto, ela não tinha suporte financeiro para cuidar da filha e nem mesmo uma rede de apoio. Então, em uma primeira experiência, tudo o que ela teve foi o auxílio do governo. Mas e no Brasil, como a lei funciona?

Flaíssa explica que a condição financeira dos pais não define a guarda. No Brasil, a custódia é definida levando em conta o melhor interesse da criança e do adolescente. Isso é atestado por meio de um estudo com assistente social e psicólogos judiciários que entrevistam os envolvidos.

Contudo, a partir de 2014, a guarda compartilhada passou a ser a regra no Brasil. Assim, a guarda só será unilateral em casos específicos. Quando um dos pais declarar ao juiz que não deseja exercê-la ou quando não for apto para exercer o poder familiar. E, nesse contexto, a violência praticada contra a mulher é um fator que pode ser considerado nesta análise.

A protagonista de “Maid”, sofre diversos tipos de violência. Ela se vê muitas vezes acuada e sem saída, por depender financeiramente e emocionalmente do pai da criança. Em outros momentos, ela é colocada em situações de não ter como trabalhar, por não ter com quem deixar a filha, por exemplo.

Maid está entre as séries mais vistas da Netflix.
Maid está entre as séries mais vistas da Netflix (Foto: Reprodução/ Netflix)

A advogada explica que em alguns contextos, como o da violência doméstica, é possível que a mulher peça a fixação de uma pensão alimentícia em seu favor (principalmente, quando há um cenário de dependência financeira), além da pensão que o pai deve aos filhos.

Entretanto, é importante ressaltar que, caso seja fixada a guarda unilateral somente em favor da mãe, o pai ainda terá direito de visitar os filhos. “Porém, no contexto de violência doméstica, isso pode ocorrer em centros de visitação assistida ou com o intermédio de uma pessoa de confiança da mãe, para que ela não tenha contato com o agressor”, explica Flaíssa.

Para Vanessa Abdo, a primeira coisa que a mãe solo precisa entender é que legalmente, ela pode acessar o pai. “Muitas mães ainda se veem numa situação de desamparo, de entender que aquela é uma carga só dela. Quando o pai aparece nessa figura de parceiro, para cuidar da criança, ele é herói – e não é assim. Por isso, precisamos falar sobre esse tema”, conclui.

E como acaba “Maid”?

A gente prometeu que não haveria spoilers comprometedores. Então, o que podemos afirmar é que além de exemplos de resiliência, o que não falta em Maid é sororidade. As mulheres se apoiam, se ajudam, dão força umas para as outras. E o que fica claro é, não importa o jeito que você cria seu filho, afinal, não existe uma fórmula. O importante é amá-lo incondicionalmente.


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