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Marcos Piangers e Ana Cardoso te convidam para refletir sobre o choro

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Publicado em 16/06/2019, às 14h30 - Atualizado às 14h31 por Isabella Zacharias, Filha de Aldenisa e Carlos


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Ana Cardoso é mãe de Anita e Aurora, jornalista e socióloga. Esse mês, ela nos convida a refletir sobre o choro de adultos e de crianças.

Não respire fundo, pode chorar

No começo dessa semana entrevistei vinte jovens de 12 a 17 anos para uma pesquisa que estou fazendo sobre o futuro do trabalho. Uma das perguntas, um pouco fora do contexto, era sobre como eles lidam com a tristeza. A maioria disse que chora, que conversa com os amigos ou com os pais. Abrem o berreiro. Fiquei aliviada em saber que minha filha chorona não é exceção.

Talvez a nossa geração, de posse de tantas teorias sobre como ser mais afetuoso – como abraçar, beijar e ouvir mais os filhos – esteja promovendo uma grande revolução na forma das crianças se expressarem. Não são todos, é verdade. Certamente é muito mais gente do que antes. Não me lembro de ter chorado na escola uma vez sequer.

Minhas filhas choram bastante. A Anita, na maioria das vezes, o faz quando é contrariada. Ela sabe quando o “não” é não mesmo. Quando não rola negociação. Sem direito a tréplica, faz o que está ao seu alcance, põe pra fora o que sente. De forma bem líquida, com direto a soluços e uma cara vermelha que dura bastante tempo. A Aurora chora quando briga com a Anita, quando se machuca e chora por cansaço também. As duas choram em situação de injustiça social e nisso me puxaram. Não consigo achar normal crianças na rua pedindo dinheiro ou comida.

Até bem pouco tempo, chorar era sinal de fraqueza. “Coisa de mulherzinha”, mais uma dessas expressões machistas que felizmente estão caindo em desuso. Hoje sabemos quanto ter equilíbrio emocional é importante. Uma criança que respeita os seus próprios sentimentos tem mais chance de se tornar um adulto empático, inteligente e gregário.

Certa vez, ouvi de uma pedagoga que algumas multinacionais não conseguiram contratar diretores locais. Porque para dirigir uma filial em uma rede é preciso muita empatia. Tem-se que entender a cultura da empresa e a cultura local, entender a cabeça dos funcionários e saber inspirá-los para gerir bem o negócio. Os perfis assim, de gente que entende o outro, são tão raros que – às vezes – um mesmo superexecutivo (ou superexecutiva) é o CEO em diferentes países. Não porque é conveniente para a empresa, simplesmente porque não há diversas pessoas com este perfil.

Nesse sentido, e aí eu volto para minha pesquisa, a mudança está chegando. Nem todo jovem é durão. Nem todo adolescente é irresponsável. Nem toda criança se acha o centro do universo. Meninos choram. Meninas podem bater o pé e lutar pelo que acreditam. Chorar de raiva e não porque são moles.

Tem dias que eu acredito que uma geração melhor está vindo aí. Tem dias que não. Nesses, eu ponho a mão na consciência e penso em como posso fazer algo para mudar as coisas que não concordo. Ou, simplesmente, sento e choro. Muitas vezes é o melhor que podemos fazer.

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Marcos Piangers é pai de Anita e Aurora, jornalista e palestrante. Dessa vez, ele vem falar sobre o benefício do choro.

Chora que faz bem

Perdi a conta de vezes que vi pessoas chorando. Ao vivo, em palestras, às vezes quando me param na rua, esboçam algumas frases, citam o pai ou os filhos e começam a chorar. Sempre pedem desculpas, como se fosse algo errado se emocionar. Parece vergonha, ter tanto coração. Parece que a gente treinou tanto pra ser máquina, acordar cedo, bater ponto, pagar conta, trânsito, cobrança.

Ser duro é ser forte. Ser sensível é ser fraco. Eu acho completamente o contrário. Já aconteceu muitas vezes. Na saída de um shopping, uma mãe me abraçou e começou a soluçar. Me abraçou e deixou meu ombro todo molhado. Outro dia, em um restaurante, um pai tentava falar, mas engasgava e não conseguia dizer nada. Apenas começava as frases normalmente, mas terminava desafinando, não conseguia completar a história que queria me contar; acabou me mandando por e-mail. Uma menina que trabalhou comigo também tinha esse problema: mãe solo, não podia começar a falar do filho que caía em lágrimas ali mesmo no escritório. Só conseguia dizer: “desculpa, desculpa”. Desculpa por quê?

Faz bem chorar. Pra isso que serve aqueles lencinhos do lado do divã. É o pedágio do corpo, quando a emoção quer sair. Por vezes, são coisas que a gente tem guardado, que não consegue falar e só sai com soluço e lágrima e ranho. Por vezes, é melhor assim. Quem chora, reconhece que é humano, que sentir não é feio, que colocar pra fora é curativo. Não há vergonha.

Então, quando alguém me fala: “Choro muito assistindo aos seus vídeos”, eu digo: “Obrigado! Eu choro muito fazendo-os”. Pois virei um chorão depois que as minhas filhas nasceram. Choro quando vejo fotos antigas. Choro quando a pequena dorme no meu colo. Choro com filmes sobre mulheres fortes.

Minhas filhas estão crescendo, então eu vejo as notícias de mulheres sendo agredidas e mé dá um pavor terrível. Fico com medo de como o mundo vai tratar essas duas meninas, as coisas que eu mais amo na minha vida. Aí então, se vejo um filme bonito, um discurso emocionante falando sobre direito das mulheres, sobre a luta delas, sobre dar oportunidade para as meninas, respeitar garotas e deixá-las ser quem puderem, choro mesmo de emoção. Choro de não conseguir falar. Choro de esconder o rosto com as duas mãos. Choro de imaginar mesmo que essas meninas podem chegar longe, apesar do mundo estar indo pra não sei onde.

Pode chorar que faz bem. Fraco mesmo é quem não sente nada. Quem sente põe pra fora, e terá aqui sempre um ombro amigo.

Moral: rir é uma delícia, mas chorar também pode ser bom.

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