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“Me julguem, pra mim, a escola é uma superaliada”, diz Ana Cardoso

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Publicado em 20/12/2017, às 15h36 - Atualizado em 21/12/2017, às 07h48 por Redação Pais&Filhos


Ana Cardoso e Marcos Piangers, pais de Anita e Aurora, são nossos colunistas na seção “Ela Diz, Ele Diz” da revista. Nela os dois compartilham como cada um tem o seu jeito de observar e praticar a paternidade.

Ela diz:

O contraturno

“Mãe, posso brincar só mais um pouquinho?”, me implora 3 vezes a Aurora enquanto mofo plantada na porta do jardim III. Criança gosta de criança, gosta de brincar. Nada como uma professora bem querida e experiente para direcionar aquela cápsula de energia cinética e potencial ambulante. Por isso, eu não fico nem triste, nem chateada, que ela não venha correndo e se jogue nos meus braços, às 18h10 (já desisti de ir às 18 em ponto). Mesmo depois de ter passado 9 horas na instituição educacional.

Falando assim, parece um presídio, mas não, é uma escola, que escolhi a dedo. Em casa, o cenário é o seguinte: eu, no computador, escrevendo, pesquisando, fazendo reunião à distância. A cada item riscado da lista de trabalho, algo me lembra que a casa não se auto-arruma. É a música da máquina de lavar roupa avisando que está na hora de pendurar, é a poeira se acumulando na minha mesa, é a falta de copo limpo no armário quando quero tomar água. Passar um aspirador na sala entre um texto e um podcast não é o que eu chamo de hobby. É o que eu chamo de vida, ou de rotina. Coloca uma criança pequena exigindo (e merecendo) atenção nesse cenário e temos um princípio entrópico de caos.

Sempre fui contra essa palavra, rotina. Principalmente na criação das meninas. A gente nunca teve muita hora pra dormir, nem pra tomar banho e faltar aula também não era problema na minha agenda de mãe educadora e de pais viajantes. Mas, eu falhei nisso. Tive que ouvir da professora, da coordenadora e finalmente da psicóloga
da Anita, minha filha mais velha, para entrar na minha cabeça: criança gosta de rotina e de saber o que vem depois. Isso constrói a segurança emocional delas.

Este ano, mudei minha vida. Mesmo trabalhando em casa e viajando esporadicamente a trabalho, me organizei para ter a minha “agendinha”. E ela envolve levar a Aurora, todos os dias de manhã. E trabalhar sem me preocupar com as filhas no meu horário “comercial”. No contraturno da escola ela tem natação, yôga, tem oficina de bonecos e até uma prática de relaxamento pós-almoço chamada Trenzinho da massagem. Não parece demais?

Ela tem acordado às 7, toma café, conversa, brinca um pouco (nada de televisão!) e caminhamos até a escola. Às nove começa a aula diária de inglês. Almoça na escola, tem aula a tarde toda e temos das 18 às 22 para comer juntas, brincar, tomar banho e contar histórias. Nada de computador. Assim, quando estou com elas, estou COM elas e não fazendo sinal para ficarem quietas porque estou num call, que é como esse povo pijamudo como eu, que trabalha em casa, chama as reuniões não-presenciais.

Me julguem, pra mim, a escola é uma super aliada. E quando meu marido fala em ‘home schooling’, ou seja, ensinar elas em casa, eu logo aviso: tô fora! Nessa empreitada eu não forneço nem o lanche.”

Ele diz: 

Creche do papai

“Temos todo nosso amontoado de assuntos mal resolvidos com relação à criação dos filhos, posso notar quando uma mulher diz que desmamou cedo ou que fez uma cesariana. Seus olhos se entristecem, sua boca faz um biquinho e o tom é sempre de: “Desculpem-me. Não consegui etcetera”, onde etcetera é ter um parto natural, dar o peito até os dois anos, ficar sem trabalhar depois da licença maternidade.

Mesmo um pai que passou anos fazendo terapia tem culpa ao falar de seus fracassos. Meu amontoado de assuntos mal resolvidos tem no seu cume mais evidente minha relação com a escola das minhas filhas. Nunca consegui deixar as meninas na creche, se choravam eu trazia de volta pra casa ou levava pro meu trabalho.

No primeiro dia de aula da mais velha enfiei um celular velho (na época não tinha iphone) pra ela poder me ligar caso algo ruim acontecesse. Trocamos nossas filhas de escola o tempo todo, trocamos até de creche, sempre por não encontrar o colégio perfeito, aquele em que elas estejam felizes e aprendam a explorar suas maiores potencialidades. Este parágrafo sou eu, olhos entristecidos e boca fazendo biquinho, pedindo desculpas para o mundo.

Não consigo achar a escola perfeita. Porque ela não existe. Escolas são o lugar onde as crianças se descobrem fora de casa. Não temos controle sobre o que ouvirão, quais palavrões irão aprender, se sofrerão bullying na aula de educação física, se começarão a falar sobre sexo sem terem ainda todos os dentes permanentes. E não
estou nem falando do método de ensino de cada escola, que muitas vezes é parecido com a forma com que a minha mãe aprendeu trigonometria: uma apostila, giz e quadro negro.

Mas o que me preocupa é o resto: minhas filhas, coitadas, estão na escola expostas a toda a maldade da construção
social infantil. Quero protegê-las de tudo. Quero fazer home schooling, onde serei o pai, o professor e o diretor, todos amorosos e atenciosos, em uma bizarra reunião e pais e professores onde tudo é elogio e amor pelas alunas. E esquizofrenia. Sei que, no fundo, a relação mal resolvida com a escola das minhas filhas é uma relação
mal resolvida com minha própria história. O gordinho que apanhava no recreio, o repetente que desrespeitava professores, o professor de quem eu discordava sobre religião.

Ouço por aí que existem escolas incríveis, atenciosas e onde as crianças se formam brilhantes, mas tenho receio que meu perfeccionismo seja também decepcionado. Não poderei proteger minhas filhas de tudo, essa é uma constatação dolorosa. Só peço ao mundo que as trate bem.”

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