Família

Muita calma nessa hora

Imagem Muita calma nessa hora

Publicado em 24/12/2012, às 05h00 por Redação Pais&Filhos


24/12/12

Por Mel Mansur, filha de Leila e Sérgio
“Talvez o Natal”, o Grinch pensou, “não venha de uma loja. Talvez o Natal signifique um pouquinho mais!” O trecho é de um clássico natalino, o livro Como o Grinch Roubou o Natal, de Dr. Seuss. A gente sabe, claro, mas hoje é tão difícil separar uma coisa da outra, que até parece mentira: Natal nem sempre foi sinônimo de compras. Foi só a partir do meio do século 19 que o dia passou a ser associado a presentes. A data é a mais importante para o comércio no Brasil e na maior parte do mundo ocidental. Aqui, o 13º salário injeta quase R$ 53 bilhões na economia, dos quais uma parte nada desprezível vai virar boneca, videogame… E tudo bem. Presente é bom e todo mundo gosta, isso é básico, não tem nada demais. O chato é restringir a comemoração a isso. Porque aí as crianças perdem também. 
Sim, é difícil segurar a onda: nos Estados Unidos, a nação mais consumista do planeta, por exemplo, são entre 20 mil a 40 mil mensagens comerciais por ano dirigidas às crianças. Lá pesquisas mostram que os guris mais precoces já reconhecem logomarcas aos 3 anos, antes de ler ou saber contar até 5. Já se fala até numa geração de hiperconsumidores, que, no limite, ameaça a vida do planeta por comprar muito mais do que precisa. Pesquisas mostram que as crianças pedem de três a quatro brinquedos novos no Natal e ganham cerca de 12.  A ONG dedicada a ajudar as famílias americanas a construir uma vida menos consumista Centro por um Sonho Americano, dirigida por Betsy Taylor, realizou um concurso com crianças e adolescentes de 5 a 17 anos, pedindo que escrevessem sobre “o que as crianças realmente querem que o dinheiro não compra”.
O resultado virou o livro de mesmo nome. E o que as crianças querem de verdade, além da Barbie ou do personagem do filme Carros, porque faz parte, é tempo para aproveitar a vida, para conviver com os pais, irmãos e parentes mais distantes, com os amigos, brincar ao ar livre, cultivar a espiritualidade, viver num mundo em paz, ter aceitação e respeito… Ou seja: coisas que associaríamos ao verdadeiro espírito natalino, é ou não é? 
Carta para o Papai Noel
Nada de cancelar a cartinha para o Papai Noel. Presente faz parte da data mesmo, relaxe. O importante é que os pequenos tenham noção do significado histórico e religioso do Natal e percebam a troca de lembranças como uma troca de afetos, um ato de doação ao outro. Pode ser o último robô com controle remoto ou um presente que você inventa e que, por isso mesmo, mostra ainda mais que você pensou na criança na hora de presentear.
A engenheira de alimentos Regina Ferreira da Silva, filha de Gogó e Marcelo, ainda não tem nenhum filho, mas todo Natal tem de comprar presente para pelo menos seis crianças. A última grande surpresa que preparou foi para um priminho de 5 anos que ficava pra cima e pra baixo com um triciclo, sua “motocicleta”. Regina deu pra ele um capacete de moto cheio de todo o tipo de doce: balas, chocolates, pirulitos, chicletes… Foi um sucesso. 
Outra idéia legal que teve foi a montagem de um kit de pintura. Ela comprou maletinhas de madeira e colocou dentro bloquinhos, pincel, vários tipos de cola colorida, purpurina etc.
Foi uma festa. Moral da história: Regina mostrou o quanto estava ligada nas crianças, coisa de quem gosta e investe muito mais do que dinheiro na relação. 
Agora, cada um lida com essa época de uma maneira particular, não necessariamente certa ou errada. Tem quem aproveite o Natal para comprar tudo o que negou ao longo do ano, resistindo bravamente aos apelos do consumo, tem gente que deixa os filhos escolherem os presentes que mais querem, desde que seja um só para cada, tem gente que compra vários presentes baratinhos só pela festa de desembrulhar cada um, mesmo que seja uma cartela de adesivos, um iôiô, uma besteirinha qualquer, mas que faz aquele efeito.
Segundo o psicoterapeuta Antonio Carlos Amador Pereira, professor da PUC-SP, pai de Rodrigo, Daniel, Raquel e Deborah, é muito importante que a criança ganhe pelo menos uma coisa que ela goste. “Toda criança quer ganhar ao menos um brinquedo e mesmo assim existem pais que só dão roupa, pois pensam mais no lado prático do que no divertimento, mas se esquecem de que o presente é pra ela”, diz. Antonio chama a atenção para outro ponto curioso: muitos pais dão para os filhos algo que gostariam de ter ganhado na sua infância, mas que não faz o menor sentido para a criança.
O comerciante Henrique Pinheiro é radical na quantidade, mas não economiza na comemoração. Todo Natal cada um de seus dois filhos ganha apenas aquilo que pediu. O legal é que ele contrata um “Papai Noel” para vir a sua casa entregar os presentes na madrugada de 24 para o dia 25. Os pacotes ficam escondidos e, quando o interfone toca avisando que o “Papai Noel” chegou, ele desce para colocá-los dentro do saco vermelho do velhinho. Minutos depois, o personagem toca um sininho na porta do apartamento e entrega os embrulhos pras crianças, que ficam encantadas. 
“Enquanto meus filhos forem pequenos, quero aproveitar ao máximo essas datas. Curtimos muito”, diz Pinheiro.
Investir mais do que dinheiro
Já a massagista Iracy Batista, mãe de Dalva e Henrique, todo ano dedica pelo menos um dia de dezembro para comprar os embrulhos dos presentes que vai dar. Iracy faz questão que todos fiquem maravilhosos. “Eles enfeitam a árvore”, diz. Apesar de comprar coisas mais singelas do que os superpresentes da moda para crianças, a vovó costuma acertar nas escolhas. No ano passado, por exemplo, deu ao neto uma vaquinha que cantava, o menino adorou e não desgruda do brinquedo até hoje.
“O que vale não é o que custa, mas se tem a ver com o estilo da criança. Pode reparar, se a gente pensa direitinho no que vai dar, observando os gostos, sempre acerta. Não pode é ter preguiça.” Como, de resto, não pode ter mesmo, para manter bem apertado o laço que nos une a quem mais amamos. Agora, o consumo em si não é problema. Ele movimenta a economia, gera empregos, tudo isso que a gente sabe e, a não ser que você resolva radicalizar e ir morar numa fazenda, produzindo tudo o que usa, é inevitável. 
Comprar passa a ser preocupante quando se torna o único sentido da vida. Muitas vezes a aquisição de alguma coisa funciona como um substituto simbólico para outros desejos.
Se uma criança é estimulada a consumir indiscriminadamente, isso, sim, é grave, pois ela pode incorporar o ato como fuga. Mas também não adianta regular um brinquedo, se toda vez que você está triste resolve ir ao shopping. Eles têm a antena ligada e captam a mensagem na hora, não tem jeito. 
Consumir sem se consumir
Peter Stearns, autor do livro A Infância, é duro com relação ao excesso de consumismo. Ele acredita que parte da infância hoje se organiza em torno da expectativa por produtos, o que vira um entretenimento regular. 
Daí o crescente tédio de muitas crianças quando não estão consumindo. “Hoje em dia elas são orientadas ao consumo desde bebês, com produtos comerciais colocados em berços e uma profusão de presentes”, alerta.
A escritora e psicóloga Mary Pipher, citada no livro de Betsy Taylor, diz que esta é a geração do “eu quero!”: “Nossos filhos foram educados para se sentir no direito de possuir e foram programados para a infelicidade”. 
Cenários catastróficos à parte, a gente entende que tem mesmo de controlar o impulso e os desejos consumistas do filho, mas também não dá pra fugir completamente da realidade. 
A criança está no mundo e não podemos isolá-la numa redoma. O psicoterapeuta Antonio Carlos inclusive alerta que criar a criança de um jeito muito diferente da sociedade em que ela está inserida pode prejudicar seu desenvolvimento.
O fato é que Natal é Natal, ganhar e dar presente é uma delícia e a gente adora. Como tudo na vida, a chave é ter equilíbrio e não esquecer que a vida é muito mais do que ter coisas. Lance mão da imaginação e mostre que, mais do que uma troca material, dar um presente é um ato de amor.
Consultoria
Antonio Carlos Amador Pereira, psicoterapeuta e professor da PUC-SP. 
Elza Tsumori, presidente executiva nacional da Ampro (Associação de Marketing Promocional). 
Peter Stearns, diretor e professor de História da George Mason University, Estados Unidos e autor do livro A Infância
Susan Linn, professora de psiquiatria na Harvard Medical School, Estados Unidos, autora do livro Crianças do Consumo

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