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Neuroplasticidade: tudo sobre a capacidade incrível do cérebro de se adaptar a partir de novas experiências

A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro para reorganizar os seus circuitos neuronais quando confrontado com experiências novas - Freepik
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Publicado em 05/07/2021, às 09h58 - Atualizado em 14/12/2022, às 14h33 por Jennifer Detlinger, Editora-chefe | Filha de Lucila e Paulo


Cerca de 86 bilhões de neurônios, ligados por mais de 1000 conexões sinápticas. É esta a quantidade impressionante e a capacidade do cérebro humano que torna possível o potencial quase sem limites do nosso pensamento. Mas será que é possível treinar ou moldar esse órgão tão complexo? A resposta está na neuroplasticidade: a capacidade do cérebro para reorganizar os circuitos neuronais quando confrontado com experiências novas.

A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro para reorganizar os seus circuitos neuronais quando confrontado com experiências novas (Foto: Freepik)

Sim! Existem exercícios e diferentes estímulosque podem ser feitos desde cedo — e até durante a gestação — e que levam o cérebro, tanto o do adulto, quanto o da criança, ao seu limite máximo. “Quanto mais o seu cérebro é exercitado, mais rápido e potente ele fica. É claro que usamos todo o cérebro para nossas atividades cotidianas, mas cada área concentra uma atividade principal. Quanto mais diversificada for a sua aprendizagem, abrangendo diferentes áreas do conhecimento, mais completa ela será para o cérebro”, explica a Dra. Gisela Soutto Mayor Pellegrini Wever, psicóloga e neuropsicóloga, especialista em Neuropsicologia pela Faculdade de Medicina de São Paulo.

Na infância, as conexões neurais têm uma função fundamental que desempenham um enorme impacto no presente e futuro das crianças. É apenas nos primeiros anos de vida que as ligações são feitas e refeitas com tanta intensidade e maleabilidade. Por isso, é essencial ampliar ao máximo o repertório de experiências e atividades do seu filho desde cedo, sempre com equilíbrio. Para esclarecer tudo sobre neuroplasticidade, a Dra. Gisela respondeu às principais perguntas sobre o tema e deu dicas valiosas para aplicar as técnicas e exercícios desde a infância:

O que é neuroplasticidade?

Neuroplasticidade é a capacidade do cérebro para reorganizar os seus circuitos neuronais quando confrontado com experiências novas. É a capacidade que o sistema nervoso possui para modificar a sua organização na sequência de diversos acontecimentos, incluindo a maturação e desenvolvimento normal do organismo, a aquisição de novas capacidades (“aprendizagem”) e reorganização cognitiva após lesão do sistema nervoso central. Do ponto de vista neurobiológico, o cérebro, através dos circuitos neuronais, tem a capacidade de se reorganizar quando confrontado com experiências novas, é o conceito de aprendizagem que surge associado ao conceito de plasticidade, neste caso neuroplasticidade.

Qual a diferença entre a plasticidade sináptica e a plasticidade de circuitos/redes neuronais?

A plasticidade sináptica é a capacidade de sinapses (conexões neurais) se alterarem conforme os estímulos oferecidos, podendo se tornar mais fortes ou mais fracos dependendo dos estímulos externos e internos. A plasticidade sináptica é uma das importantes bases neuroquímicas para a formação da memória e do aprendizado. Já a plasticidade neural ou neuroplasticidade é a capacidade de organização do sistema nervoso frente ao aprendizado ou à lesão. Esta organização se relaciona com a modificação de algumas conexões sinápticas.

A neuroplasticidade também terá papel fundamental para a maturidade e o crescimento da criança, já que nessa fase há a aquisição de novos conhecimentos e comportamentos sociais (Foto: iStock)

Esses estímulos começam a acontecer na infância? Como funciona?

Os bebês já conseguem escutar dentro da barriga da mãe por volta da vigésima semana de vida quando o aparelho auditivo começa a funcionar e já ouvem o coração da sua mãe, o sistema digestivo e os sons ao seu redor como se estivessem debaixo d água. Em um estudo realizado na Finlândia, cientistas colocaram a música “Brilha, Brilha, Estrelinha” para um grupo de mães no último trimestre de gestação ouvirem de quatro a cinco vezes por semana. Logo após o nascimento, cada bebê ouviu a música  novamente enquanto sua atividade cerebral era avaliada. O mesmo experimento foi realizado outra vez quando as crianças estavam com 4 meses. Em comparação a um segundo grupo formado por mães e bebês que não receberam esse tipo de estímulo na gestação, todas as crianças que foram expostas à canção de ninar apresentaram atividade cerebral diferenciada ao escutá-la. Para os pesquisadores, é um sinal claro de que os bebês reconheciam a música, ou seja, guardavam as memórias adquiridas ainda no útero. Isso comprova a teoria de que os bebês se mexem quando escutam a voz dos pais.

Assim que o bebê nasce, abre os olhos e se depara com um mundo novo, ele vai se adaptando rapidamente a esse universo diferente que o rodeia, capta os novos estímulos e percebe o ambiente. Aquele que o segura, dá carinho, amor, afaga, troca experiências, tudo isso é aprendizado. Nesse período, está acontecendo a neuroplasticidade axônica, que ocorre entre zero e dois anos de vida e é crucial para o desenvolvimento do sistema nervoso. Mais para frente, na infância, a neuroplasticidade também terá papel fundamental para a maturidade e o crescimento da criança, pois é nessa fase que há a aquisição de novos conhecimentos e comportamentos sociais de forma constante.

Todos podem passar pelo processo de neuroplasticidade, ou é preciso “treinar” o cérebro?

Todas as pessoas passam pelo processo de neuroplasticidade, mas se por algum motivo houver necessidade, ou mesmo existir vontade, pode-se treinar o cérebro de forma mais incisiva. Há várias formas para manter um dos órgãos mais importantes exercitado: jogar uma boa partida de xadrez, jogar palavras cruzadas, assistir a um filme em outro idioma com a legenda no original (tendo comprensão do idioma, é claro!), ler um capítulo de um livro, depois fechá-lo e tentar lembrá-lo com todos os detalhes, e aprender um instrumento musical.

Como os pais podem aumentar a capacidade dos filhos de aprenderem e tirar o cérebro da zona de conforto?

Existem várias formas de tirar o cérebro da zona de conforto. Mas para isso ocorrer entre pais e filhos, é importante que exista uma boa sintonia familiar para que haja concordância e interação quando surgirem novas propostas de atividades para a realização da estimulação cognitiva. Estudos revelam que a prática regular de exercícios físicos pode aumentar a capacidade de aprendizado de crianças. Por isso, motivar crianças de todas as idades à essa atividade tão divertida e saudável cai como um recurso fantástico em dias de pandemia. Por exemplo, a família que decide ir ao parque juntas praticar um esporte como andar de bicicleta, já está promovendo além de uma interação social, o contato com a natureza e animais, está criando um hábito saudável, movimentando o corpo e consequentemente o cérebro.

Como exercitar os dois lados do cérebro nas atividades do dia a dia?

Quanto mais o seu cérebro é exercitado, mais rápido e potente ele fica. É claro que usamos todo o cérebro para nossas atividades cotidianas, mas cada área concentra uma atividade principal. Quando aprendemos um idioma novo ou jogamos xadrez, por exemplo, estimulamos os dois lados do cérebro. Enquanto o hemisfério esquerdo concentra mais o raciocínio, o direito foca na criatividade. Ou seja: quanto mais diversificada for a sua aprendizagem, abrangendo diferentes áreas do conhecimento, mais completa ela será para o cérebro.

Quanto mais diversificada for a aprendizagem, abrangendo diferentes áreas do conhecimento, mais completa ela será para o cérebro (Foto: iStock)

O uso excessivo de eletrônicos pode causar impactos na adaptabilidade das experiências? Como funciona?

Sim, o uso excessivo de eletrônicos não é um aliado para a saúde do seu filho! Um artigo recente (2020) mostra a influência dos videogames sobre a neuroplasticidade. Seus usuários foram submetidos a exames de ressonância magnética e encontraram alterações anatômicas em áreas específicas no sistema nervoso central na maioria dos indivíduos submetidos aos testes de imagem (RM), com indício de proporcionalidade ao tempo de exposição aos jogos, ou seja, quanto mais tempo de jogo, mais alterações podem ocorrer. Além disso, a última versão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 11) ficou pronta em 2016  (entrará em vigor em janeiro de 2022) e conta com uma importante novidade para os especialistas que tratam da saúde de crianças e adolescentes.

Da lista de novidades do documento, consta a inclusão do uso abusivo de jogos eletrônicos (a chamada gaming disorder) na seção de transtornos que podem causar vício. Ou seja, a dependência dos jogos de videogames online e off-line que passa a ser entendida como doença. Fica evidente a importância em orientar os pais e/ou responsáveis no momento em que a criança estará fazendo uso de um tablet, videogame ou celular, que seja determinado o inicio e o tempo de uso, e de preferência tenha supervisão, evitando-se o seu uso excessivo e prolongado. Estudos científicos revelaram que o uso de eletrônicos indiscriminadamente pode levar a um comportamento de dependência e a sintomas como ansiedade, depressão, transtorno do sono, agressividade e violência.

Quanto ao processo de aprendizagem, como se deve estimular o cérebro para que ele aconteça da melhor maneira possível?

O cérebro começa a ser estimulado desde que o bebê nasce, de várias maneiras diferentes, mas é através dos estímulos gerados pelo afeto, que a criança amplia seu entendimento de mundo e estabelece padrões de pensamentos, raciocínio lógico e linguagem que estarão presente em todas as fases de sua vida. Há uma pesquisa famosa realizada na Romênia no fim dos anos 1990 por um pediatra neurocientista chamado Charles Nelson, o Projeto de Intervenção Precoce Bucareste. Naquela época, as crianças eram tratadas com pouco ou nenhum afeto quando eram abandonadas em instituições por conta de políticas públicas daquele país. Foi verificado que as crianças obtiveram QI (coeficiente intelectual) deficitário na linguagem e na atividade neural. Portanto, além do amor e afeto, uma das melhores maneiras que a criança tem para aprender é o brincar. Através dessa atividade lúdica, elas experimentam o mundo, se desenvolvem, testam habilidades físicas e cognitivas, aprendem regras e treinam relações sociais. Com o brincar, podem também aprender a lidar com as próprias emoções e por vezes simular situações e conflitos.

É preciso deixar espaço na agenda da criança para ela brincar, ter seu tempo livre ou apenas tempo para fazer nada, pois o excesso de atividades pode levar a criança ao estresse (Foto: Shutterstock)

Há algum tipo de problema se o cérebro é estimulado demais? Qual a regra para ter um bom aproveitamento das atividades?

A maioria dos pais procuram dar ao filho sempre o melhor. Tendo isso como um norte, o que vem à mente é sempre pensar que o ideal seria que seu filho tivesse um grande número de atividades para estimular o cérebro como aulas de idioma estrangeiro, ballet, futebol, piano, violão, terapias, fonoaudióloga, robótica, além das aulas curriculares. Não que seja negativo ter essas aulas extras, mas é preciso deixar espaço na agenda da criança para ela brincar, ter seu tempo livre ou apenas tempo para fazer nada, pois o excesso de atividades  pode levar a criança ao estresse.

Um sociólogo italiano chamado Domenico de Masi criou o conceito de ócio criativo onde ele defende que para ter sucesso depende de estudo e trabalho, mas também de tempo livre para fomentar a criatividade. Esse ingrediente é tão importante quanto a pré-ocupação do tempo livre, a interação com o outro nesses momentos como o brincar por exemplo, ajuda a construir a personalidade, o caráter e o respeito.


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