Família

O cérebro do homem muda com a paternidade: por que estar presente só traz benefícios para o pai

Segundo o neurologista do setor de neurologia do comportamento da Unifesp, Paulo Bertolucci, pai de Júlia e Otávio, a gravidez traz reações biológicas para o homem também - Getty Images
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Publicado em 12/08/2023, às 05h00 - Atualizado em 13/08/2023, às 07h22 por Carolina Ildefonso, mãe de Victor


Teste de gravidez positivo. Parabéns, você será pai! E imediatamente começam os preparativos, compra de enxoval, chá revelação, exames e ultrassom, a barriga da mulher começa a aparecer… Mas, em qual momento a “ficha” do homem realmente cai de que ele vai ser pai? O que acontece no cérebro masculino nesse momento? Muito se fala sobre as mudanças e o vínculo formado entre mãe e bebê desde a concepção até o nascimento. Já em relação à paternidade não há tantas pesquisas assim sobre esse momento. Nesse mês especial de Dia dos Pais, trazemos uma boa notícia! Segundo o neurologista do setor de neurologia do comportamento da Unifesp, Paulo Bertolucci, pai de Júlia e Otávio, a gravidez traz reações biológicas para o homem também. E reforça: “O cérebro do pai se transforma assim como o da mãe”.

“O sono que a Ellen sentia era meu, a fome então, nem se fala. Sem contar as crenças de que quando você vai ser pai de menina, seus dentes doem, e comigo foi exatamente assim. Outra coisa que marcou bastante, desde o início, foi o enjoo ao escovar os dentes pela manhã. E também os famosos desejos, a Ellen comia tijolo (aqueles vermelhinhos), me parecia tão bom que deu vontade também”, lembra o assistente administrativo Alex Silveira de Jesus, pai de Maria Luiza, de 5 anos.

Você já ouviu falar em “Gravidez Empática”? Também conhecida como Síndrome de Couvade, é quando o homem sente alguns sintomas comuns da gravidez. O neurocientista da USP, Gilberto Xavier, pai de Henrique e Gabriela, explica que para as mulheres, as alterações são diretas – devido às reações hormonais decorrentes da gravidez – já no caso dos homens, são alterações indiretas provocadas pela estimulação do sistema nervoso. Ele deixa claro que o que define como será a reação desse pai é a bagagem de memórias afetivas que ele leva até ali somada ao desejo da paternidade. “Qual é para ele o significado de ser pai? Quais lembranças tem com a sua família? O homem quando recebe a notícia traz uma série de reflexões, expectativas, emoções, frutos do sistema nervoso e também dos condicionantes sociais”, explica o médico.

Segundo o neurologista do setor de neurologia do comportamento da Unifesp, Paulo Bertolucci, pai de Júlia e Otávio, a gravidez traz reações biológicas para o homem também
Segundo o neurologista do setor de neurologia do comportamento da Unifesp, Paulo Bertolucci, pai de Júlia e Otávio, a gravidez traz reações biológicas para o homem também (Foto: Getty Images)

O ex-BBB, arquiteto e influencer, Breno Simões, diz que a gravidez dele e da ex-BBB e influencer Paula Amorim foi inesquecível e que só descobriu que estava com “Gravidez Empática” depois que explicou o que sentia em uma consulta médica. “Eu nem sabia que era possível, no começo até achei que era coisa da minha cabeça. Eu sentia muito sono de dia, umas vontades malucas de comer doce, e, às vezes, ficava irritado do nada”. Ele se diverte ainda contando como descobriu que não era apenas impressão. “Até que em uma das consultas iniciais, nossa obstetra Dra. Isabel Botelho me perguntou: ‘E você Breno? Está sentindo algo?’, pensei que era uma pergunta de tabela, já que eu estava ali, acompanhando a Paula, e contei pra ela aos risos, achando que estava louco e ela me deu o diagnóstico: Síndrome de Couvade”, relembra ele.

Pode até parecer brincadeira, mas não é! O pai empático passa por uma série de mudanças biológicas. “Há evidências de que homens experimentam mudanças hormonais se estiverem envolvidos na gravidez da parceira. Os níveis de testosterona diminuem e começam a sincronizar com os níveis hormonais das mães. Isso faz com que homens se tornem menos agressivos, mais envolvidos e protetivos”, explica o Dr. Bertolucci.

Presença faz diferença

“Depois de confirmado, foi um misto de sensações, a que predominava era o medo de não dar conta, financeiramente e emocionalmente falando”, conta o pai de Maria Luiza, Alex. “Eu só consegui entender que meu filho estava ali quando saímos da maternidade, ao entrar no carro fiquei aflito de algo acontecer no carro, um ser tão pequeno em meio a tantos perigos, acho que foi a primeira vez que me senti pai”, diz o empresário Victor Medina, pai de Victor, de 5 anos. O neurologista Paulo Bertolucci afirma que quanto mais cedo rolar esse envolvimento, melhor. “O papel do pai tem uma função fundamental na formação da criança”, explica.

Mas nada de pressão! É comum ouvir histórias de homens que só se dão conta de verdade que viraram pais quando pegaram o bebê no colo pela primeira vez ou ainda aqueles que  ficaram com medo de não dar conta. Se você faz parte deste time não há problema nenhum! Com o turbilhão de hormônios, sintomas e mudanças no corpo, para as mulheres esse processo de se “ver” como mãe costuma ser mais rápido. No caso dos homens, que não sentem fisiologicamente esses sintomas, isso pode ser um pouco mais demorado. Cada um no seu tempo! Exercendo uma paternidade ativa e o contato direto com mãe e bebê seus hormônios serão alterados automaticamente.

Mas não custa nada lembrar que construir essa relação é superimportante. Segundo Xavier, há estudos que relatam que o feto começa a ouvir a partir do quinto mês de vida intrauterino e desde então o cérebro dele já realiza circuitos neurais. “Eu parecia um bobo, deitava na barriga, conversava, me emocionava com os chutes, colocava música para a bebê escutar, fazia voz de bebê e por aí vai”, conta Alex, orgulhoso.

Exercendo uma paternidade ativa e o contato direto com mãe e bebê seus hormônios serão alterados automaticamente
Exercendo uma paternidade ativa e o contato direto com mãe e bebê seus hormônios serão alterados automaticamente (Foto: Getty Images)

O médico Gilberto Xavier diz que também pode servir de exemplo nesse caso. “Eu colocava um copo, com a boca para baixo, na barriga da minha esposa para ouvir os sons intrauterinos do bebê e me conectar com o que estava acontecendo”. Ele conta que dava supercerto e que recomenda a experiência. Já está comprovado por especialistas que além da voz da própria mãe, outros sons do ambiente e principalmente do pai já podem criar milhões de novas conexões que vão refletir sobre a personalidade daquela criança.

Nosso cérebro é plástico!

Nessa história toda tem um personagem principal, responsável por todas as conexões e eletricidade: o cérebro. “As regiões nervosas cerebrais são responsáveis pelos processos de interação social – a cada conexão um hormônio pode ser estimulado. Quando o homem se torna pai e é ativo nessa atividade, todas as regiões nervosas do cérebro dele, envolvidas nessas funções, serão alteradas”, explica Dr. Bertolucci. E assim, de forma biológica, os hormônios se encarregam de fazer o trabalho. Ao exercer a paternidade, a tendência é acontecer um “boom” e todos eles serem ativados. Nesse cenário a ocitocina é protagonista. Também conhecida como “hormônio do amor” é ela quem estimula e estreita todos os laços de afinidade. Ainda assim, outros três hormônios participam dessa construção: a testosterona, o cortisol, e a prolactina.

Olho no olho

O primeiro choro, o primeiro colo, o primeiro banho, a primeira fralda, o primeiro olhar. O bebê nasceu! É hora do pai passar de espectador para protagonista. São várias as formas possíveis de praticar a paternidade e estreitar o contato físico e construir um relacionamento com o bebê. Dessa forma, diminui também a sensação de exclusão, muitas vezes relatada pelos pais, além de colaborar para que a mulher tenha um tempo de descanso – o que ajuda na produção da prolactina, essencial para o aleitamento materno. “Eu quem levantava de madrugada, trocava fraldas, dava mamadeira e ninava a bebê, pois minha esposa precisava dormir para trabalhar. Graças a isso, hoje, eu e minha filha temos um elo muito forte, e mesmo depois de ter se passado cinco anos, ela ainda me acorda de madrugada para fazer suas vontades, e eu amo”, conta Alex.

Além de gerar tantos benefícios para o relacionamento parental, as experiências iniciais vão colaborar para a formação de determinadas características da personalidade da criança. “O estabelecimento das ligações afetivas é extremamente importante para o desenvolvimento e a estimulação do cérebro infantil – um sistema interativo e plástico – qualquer coisa que incida sobre ele gera transformações nas ligações nervosas”, explica o médico. O ex-BBB Breno conta que faz questão de presenciar e vivenciar todas as etapas juntos. “Vejo muitos casos das mães estando sempre sobrecarregadas e não vejo sentido nisso… Pra mim, se eu tivesse condições de amamentar, até isso eu faria”. A dica é: não economize na hora de dar carinho, fazer massagem, dar colo, sentir o cheiro de bebê. Mantenha esse contato e aumente a produção de ocitocina nesse relacionamento.

A ciência explica

“Um mapa somatópico de partes do cérebro são responsáveis pelo processamento sensorial de cada parte dos nossos corpos. Olhos, ouvido, boca, nariz e também de órgãos internos e essas conexões geram memórias de vários tipos de curta e longa duração. Essas informações são mantidas nessas regiões corticais e são ativadas, com atividades nervosas estimuladas. Por exemplo, ao tocar no pé do bebê, você cria uma conexão cerebral, que foi positiva para ele. Esse circuito ativo faz com que a memória fique arquivada e forme um estoque de longa duração”, explica Dr. Gilberto.

Além de gerar tantos benefícios para o relacionamento parental, as experiências iniciais vão colaborar para a formação de determinadas características da personalidade da criança
Além de gerar tantos benefícios para o relacionamento parental, as experiências iniciais vão colaborar para a formação de determinadas características da personalidade da criança (Foto: Getty Images)

Pesquisas feitas em todo o mundo mostram que essas reações hormonais acontecem em todos os mamíferos e não só com os homens. Um estudo publicado pelo jornal acadêmico Frontiers in Psycology, fez uma análise das alterações que o cérebro paterno sofre com a chegada do bebê, através das interações pai-bebê. E os resultados comprovaram as expectativas. Segundo os pesquisadores, nos últimos 15 anos, a existência de importantes alterações de hormônios (testosterona, ocitocina, níveis de prolactina e cortisol) e alterações neurofuncionais (atividade alterada em vários redes relacionadas à empatia e motivação de abordagem, processamento emocional e mentalização, regulação emocional, atenção dorsal e redes de modo padrão) foram constatados como resultado da paternidade, bem como evidências preliminares de variabilidade genética – ou seja alteração de características morfológicas e fisiológicas nos indivíduos – durante o período pós-parto em pais.

Depois de entender todos esses processos, podemos afirmar que está comprovado que depois de ser pai o homem não será mais o mesmo! Para Victor, ser pai é sinônimo de transformação. “Com a paternidade aprendi a ser muito mais amoroso e feliz! Me permito voltar a ser criança e mergulhar num mundo de heróis, cheio de possibilidades”. Ele já pensa como pode fazer ainda melhor na próxima gestação. Os gatilhos são vários e variam do amor incondicional até o senso de responsabilidade. Para Breno, o crescimento emocional é um aprendizado constante. “A parentalidade intensificou ainda mais a nossa união e a nossa vontade de fazer todos os nossos sonhos se concretizarem, assim como aconteceu com o  eo. Na parte emocional a mudança é diária, essa pureza do olhar, a dependência que ele tem por nós, nos dá força dia a dia para qualquer fase ou objetivo que precisarmos percorrer”, finaliza.


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