Família

“O maior problema das famílias hoje é a falta de confiança nos próprios valores”

Dani 2

Publicado em 29/07/2015, às 14h23 - Atualizado às 14h34 por Adriana Cury, Diretora Geral | Mãe de Alice


Dani 2

Entrevistamos a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria, mãe de Maria Luiza e Maria Eduarda. Ela começou a trabalhar com crianças por meio dos pais, desenvolveu projetos em parceria com escolas e usa a brincadeira como forma de se aproximar das famílias, principalmente das crianças. Publicou o livro Conversa com Criança – Presença – Caminho com financiamento coletivo e apoio das dezenas de mães que acompanharam seu trabalho nos últimos anos. Há três anos, ela publica em seu site toda semana vídeos que falam sobre educação.

Nessa conversa, Daniella contou para a gente como foi o início de sua carreira, como se envolveu tão de perto com crianças e garante: o que falta para muitas famílias é encontrar um encaixe que seja perfeito para a dinâmica daquela casa. Também nos falou sobre como a culpa que os pais normalmente sentem mais atrapalha do que ajuda, porque muitas vezes os imobiliza. Falamos também sobre responsabilidades, sobre a educação que recebíamos há alguns anos e a educação que tentamos dar para nossos filhos hoje, mas principalmente sobre equilíbrio que buscamos diariamente ao lado dos nossos filhos, como pessoas que ensinam e aprendem todos os dias.

Como você começou a trabalhar com família e com crianças?

Eu saí da faculdade jurando que nunca iria trabalhar com crianças. Para mim era muito difícil essa história dos psicodiagnósticos que viravam a criança do avesso. Então prometi para mim mesma trabalhar só com adultos. E, caminhando nessa direção, passei a trabalhar com um grupo aos finais de semana em que fazíamos o resgate das crianças nos adultos. Passei dois anos nesse curso e quando saí comecei a sonhar direto com crianças. Esses sonhos recorrentes começaram a me despertar. E em uma das madrugadas acordei e escrevi um projeto.

Rápido, assim?! E como era esse projeto?

A ideia era trabalhar com criança de maneira preventiva e dentro da escola em que eu teria contato com os pais e professores e que ela estivesse em um lugar em que se sentia confortável. E, através da brincadeira, eu ia reconhecendo as questões.

 Mas você sempre soube que o problema não é a criança?

A gente está sempre atrás da palavra problema e o problema tem que estar com alguém. Eu te digo que a gente tem um encaixe e ninguém faz nada com ninguém. A gente se encaixa de uma determinada maneira e isso pode ser bom ou ruim. A hora que a gente solta o encaixe, e obviamente a gente solta com os pais, porque são as pessoas mais conscientes, a gente solta a criança e muda a família.

Mas você não acha que existe uma questão de que a responsabilidade é do pai e da mãe? Uma criança não é criada sozinha…

Sim, mas o que eu penso é que o pai e a mãe também são aprendizes. De nada adianta colocá-los nesse lugar único de responsabilidade, entende? Claro que eles têm a responsabilidade e muito mais condição de alimentar esse sistema para o lado positivo ou negativo do que a criança. Só que, antigamente a psicologia colocava o problema nas crianças, depois esse problema passou a ser dos pais. Eu não acho que seja um problema de nenhum dos dois.

Mas hoje sentimos as pessoas perdidas em sua responsabilidade.

Eu acho que os pais têm de ser os responsáveis, mas não adianta colocá-los no lugar de culpados. E eles carregam essa culpa. Na verdade, eu acho que muitas vezes é só mesmo uma questão de encaixe.

A responsabilidade está em entender qual é o seu papel como pai…

Isso. Quando uma criança está se jogando no chão, está chamando a atenção. Se ela entende que para existir para o pai e para a mãe isso só acontece quando ela se joga no chão, isso é um jeito de existir como família.

 E família não é sinônimo de intimidade?

Sim. E, quando a gente pensa nessa educação que está no livro, me assusta. Porque o excesso de informação manda para longe a educação de fato. Antigamente as mães perguntavam para as mães delas. Hoje está tudo nos livros, de uma maneira quase didática. Antes isso vinha da família.

Mas você acha que isso mudou muito?

Acho. Até porque o conceito de educação está diferente, o convívio está diferente e o ritmo de vida mudou bastante, sim.

 Mas vamos voltar à sua história…

Então, depois de ter escrito o projeto de madrugada, fui para a escola de uma conhecida da minha mãe. Hoje falo que ela é minha madrinha de profissão,  a Silvana Pepe. Marquei com ela uma reunião para saber se eu tive uma ideia ótima ou se estava louca. Ela me falou: “Você começa segunda-feira”. Criamos um grupo extracurricular de brincadeiras. Eu tinha duas horas com as crianças, levava minha mala lotada de brinquedos. Fiquei quatro anos nessa escola. Eu brincava de esconde-esconde, pega-pega, teatro, jogar bola, tabuleiro.

Foi uma construção com a minha criança junto. Fiquei grávida enquanto estava lá. O consultório era só de adulto e as orientadoras iam falando: “Dani, essa criança aqui acho que é para o consultório”. E comecei a ver que conseguia ter esse olhar preventivo, sistêmico, de estar com as professoras, no consultório. E o consultório começou assim. Depois de alguns bons anos, comecei a montar as palestras para pais, porque percebi o quanto eles estavam perdidos. Eles vêm de uma educação onde o bater não faz mais sentido, mas eles apanharam. Não querem mais bater, mas quando não sabem o que fazer, recorrem a uma coisa que funcionava antes. Aí ficam mal…

Por que bater? É falta de recurso?

Total! O último vídeo que eu fiz foi sobre isso. Depois que você usa o bater, você fica péssimo. Como isso pode ser bom? Os pais se abalam quando batem nos filhos. A gente tem um processo do bater: não existe você bater sem estar com raiva, não existe você querer alguém controlado quando você está descontrolado.  Em 15 anos de trabalho, nunca vi alguém que batia e ficava ótimo depois.

E depois, na sua carreira?

Comecei a fazer palestras nas escolas e depois de alguns anos eu decidi que não ia mais atender adultos que não fossem pais. Depois, fui fazer outra formação, que se chama DEP (Dinâmica Energética do Psiquismo), que pega toda essa parte de respiração. E foi nessa época que engravidei da Malu.

E o que a maternidade mudou no seu trabalho?

Eu praticamente não trabalhei com criança sem ser mãe. Porque no processo da escola eu engravidei da Duda no segundo ano. Então eu acho que o que mais encantou no meu trabalho é que eu me coloco muito no processo. Eu estou aprendendo junto. Tenho esse olhar acolhedor e mais amoroso, de empatia. Eu nunca fui pelo caminho de dizer o que fazer. Eu leio algumas coisas de psicólogos tradicionais que eu como mãe fico angustiada. Muitas vezes eu li, entendi e fiquei me perguntando o que eu faço com isso. Por exemplo, você lê que deveria administrar melhor o seu tempo… Esse é um caminho que eu nunca segui no meu trabalho.

E você já conheceu alguém que realmente não gostava do filho?

Já. Eu não acho que os pais amem os filhos com o amor de contos de fadas. Eu parto do pressuposto de que ali existe uma relação de dois seres humanos. Você, mãe, é um ser de luz, e essa criança é um ser de luz. As duas estão em desenvolvimento. Nós chegamos aqui antes e temos mais responsabilidade. Mas a criança que chegou aqui também tem um monte de sabedoria e vai nos trazer muitas experiências.

Às vezes a gente se encaixa de um jeito ruim, e falta a habilidade dos adultos para reverter isso. Aí a gente é capaz de não se amar, não conseguir criar esse vínculo. Nesse caso, é necessário uma terapia de família. Eu já tive um caso assim no consultório, mas não acredito que essa mãe não amou o filho, acho que amou muito! Mas em algum momento esse encaixe ficou tão desgastado, tão ruim, que o convívio fica muito difícil.

Quando a gente tem que procurar ajuda?

Em dois momentos: um jeito muito gostoso é no sentido de melhorarmos como pessoas. Nos grupos de estudo, na leitura. A ajuda está em todo canto. Você vai melhorar vendo um filme, lendo livro, meditando, dançando, principalmente com coisas que façam com que a gente se conecte com a gente mesmo. Isso é maravilhoso. Mas também precisamos procurar ajuda quando a gente tem uma situação que se alonga e que já tentou resolver com as nossas ferramentas sem sucesso. Por exemplo, seu filho está com um problema de amizade na escola. Você conversou com ele, com a orientadora e com a professora durante um mês e não reverteu. Não é alguma coisa do seu filho. Uma ajuda de fora pode soltar isso mais rápido. Eu vejo que a terapia com criança é um processo muito rápido. Tem criança que eu nem chego a conhecer, só mexo nos adultos. Na verdade, eu vou intercalando. Às vezes vejo só a criança, às vezes a mãe, o pai. Em terapia familiar, a criança fica ouvindo tudo aquilo. Se a criança quer que a mãe entre, ela entra e brinca junto. Se não, a mãe fica do lado de fora. Eu jogo futebol, vôlei, saio suada. A gente brinca de tudo.

Você vem de uma família grande? Tem muitos irmãos?

Venho. Tenho uma irmã, meus pais… Mas minha mãe tinha dois irmãos, que faleceram. Meus avós eram muito presentes, com esses três filhos e seis primos. Todo mundo junto, tinha o almoço dos primos, o almoço dos adultos. Uma casa na praia… Acho muito importante esse repertório com várias pessoas.

O que você acha que é o maior problema das famílias da nossa época?

A falta de confiança nos próprios valores. Estamos muito desconectados de nós mesmos.

A reconstrução é muito mais um apoio para que as pessoas reassumam o lugar de pai ou de mãe. Resgatar a ideia da família como um time. Os pais, no fim, ficam devendo e os filhos cobrando o tempo todo, as coisas estão se invertendo. Nessa intimidade e nesse ser “de verdade” é que você constrói o relacionamento. Nós somos os primeiros “outros” das crianças, a gente precisa estar no eixo desde sempre. Quando a gente bate, grita ou castiga, o foco de atenção da criança é o adulto que fez isso, não mais a consequência do ato. Ela perde o contato com o que aconteceu antes. O foco é vencer esse adulto. Quando damos uma liberdade, ensinamos que a criança sempre vai ter escolha e ela vai ver o resultado disso. Assim, o adulto se livra desse embate, que é insuportável.

Para a Pais&Filhos, família é tudo. E para você?

Família é a alegria de crescermos juntos, mesmo que em momentos diferentes da vida. É amor, profundo amor e respeito pelo ser que se apresenta. É fazer parte desse time único, só seu, e que dia após dia vive grandes conquistas.


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