Publicado em 01/06/2020, às 13h47 - Atualizado às 13h50 por Helena Leite, filha de Luciana e Paulo
Flaviana Bezerra estava em mais um dos plantões na Divisão de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) em Natal quando recebeu a seguinte ocorrência: um homem havia sido assassinado a tiros na frente do neto e de cinco filhos. Eram três crianças, dois adolescentes e um bebê de 11 meses.
A policiallogo foi até a cena do crime entender melhor o que havia acontecido. “Quando estávamos na cena do crime apareceu uma mulher dizendo que seis crianças estavam chorandopor causa do pai numa casa próxima. Fui até eles com minha equipe e eles estavam com medo, diziam que a gente era do Conselho Tutelar e que iria separá-los”, relatou ela ao portal G1.
A crianças e adolescentesque viram o pai sendo assassinadotambém haviam pedido a mãe três anos antes, em 2015, durante uma cirurgia. Flaviana contou que ficou surpresa com a situação da casa onde eles moravam “Tinha muito lixo na casa e não tinha um grão de comida. Eles trabalhavam catando lixo na rua e estavam passando fome”, falou.
Comovidos com a situação, os policiais que ali estavam levaram as crianças para a casa de uma tia, que não os recebeu muito bem. A policial falou que as crianças não poderiam ficar lá porque a tia não tinha condições e “por outros motivos”.
Morar na casaonde o pai havia sido assassinado também estava fora de questão, uma vez que os criminosos poderiam voltar. As crianças, então, ficaram com a tia por algumas semanas e Flaviana começou uma campanha para arrecadar doaçõese levar alimentos a eles.
O pedido de doações foi compartilhado por diversas pessoas e o recurso arrecadado daria para pagar o aluguel de uma casa para os seis durante um ano. Flaviana, então, consultou um promotor para tratar juridicamente da possibilidade.
“Eu fiquei com medo quando vi o dinheiro porque ele estava na minha conta pessoal. Por isso consultei o promotor para abrir uma conta para eles, mas ninguém era responsável por eles. Com tudo ok, aluguei a casa para eles e fiz umas compras. Isso tudo com meus amigos da DHPP. Também pedi ajuda do Estado para matricular eles na escola. Uma parente deles veio para morar com eles na casa alugada”, contou.
Apesar das coisas começarem a funcionar como eles gostaria, a tia das crianças, que estava morando com eles nessa casa alugada, resolveu mudar de cidade. Os meninos e meninas não poderiam ficar sozinhos e nem serem levados a um orfanatoda cidade. Foi aí que, já envolvida com as crianças, Flaviana decidiu adotá-las.
“Eu nunca tive esse sonho tradicional de casar e ter filhos, mas aconteceu e acredito que não foi por acaso. No começo foi mais difícil ainda, mas hoje as crianças são muito minhas e eu sou muito delas. Eles são apaixonados pela minha famíliae minha família por eles. Foi a adoçãofamiliar completa”, disse.
Flaviana, que tem 44 anos, oficializou o pedido pela guarda dos filhos em agosto do ano passado. Em novembro saiu a confirmação. Ela conseguiu a guarda de cinco, dois meninos de 2 e 11 anos e três garotas de 8, 13 e 16 anos de idade. A mais velha do grupo, que atualmente está prestes a fazer 18 anos decidiu morar sozinha.
Atualmente, durante a pandemiade coronavírus, a policial segue trabalhando e, para garantir a segurança dos filhos, está há quase dois meses mantendo o distanciamento social deles. “Vivemos assim felizes, mesmo com todo o estresse da profissão. Não vejo a hora dessa pandemia passar para poder abraçá-los sem medo. Eles adoram o avô e estão tristes porque não podem encontrar ele nesse momento, mas a gente senta e explica. Acho que isso é ser mãe”, finalizou.
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