Publicado em 12/02/2021, às 16h57 por Maria Laura Saraiva, Filha de Laise e Carlos
Irmãs gêmeas que nasceram em um corpo masculino passaram por uma cirurgia de readequação de sexo em um hospital de Blumemau entre a última quarta e quinta-feira, 10 e 11 de fevereiro. O procedimento é inédito no mundo e foi concluído com sucesso por dois cirurgiões, Dr. José Carlos Martins Junior e Dr. Cláudio Eduardo, sócios da Transgender Center Brazil, a primeira clínica especializada no tema. As jovens de 19 anos, que não quiseram se identificar, passam bem e devem receber alta nos próximos dias.
A ressignificação do órgão sexualfoi uma conquista para a dupla, que sonhava com o momento. Segundo o hospital, as irmãs começaram a transição aos 15 anos, quando iniciaram o tratamento hormonalcom anticoncepcional. Vale lembrar que é necessário um ano de terapia psicológica para a aprovação do procedimento, além de um laudo técnico e da maioridade. Além disso, é necessário continuar o acompanhamento psiquiátrico mesmo depois da cirurgia.
O médico José Carlos Martins Junior, autor do livro “Transgêneros: Orientações médicas para uma transição segura” , contou em entrevista à Pais&Filhos que a terapia é uma preparação que envolve não só as pacientes, mas os pais e parentes. “Sem sombra de dúvidas é um acontecimento onde toda a família precisa ser trabalhada. Felizmente, cada vez mais vemos o apoio dos pais nisso, o cenário está mudando. Antigamente eram pacientes jogados para fora de casa, que acabavam tendo uma vida marginalizada ”, afirma.
O procedimento, feito em quatro mãos, teve duração de cinco horas. Retirado o órgão sexual, as gêmeas agora têm o que os especialistas chamam de “neovagina”, e devem usar um dilatador para modelar o canal vaginal, como explica o cirurgião. Apesar do processo estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), estima-se que só entre 3% e 5% das pessoas trans se submetem à reafirmação de gênero.
“A identidade de gênero não tem relação com a orientação sexual”, explica José Carlos. “A pessoa pode se entender como uma mulher e se relacionar afetivamente e sexualmente com outra mulher, sendo homossexual. Ou ela pode heterossexual, bissexual e até assexuada. Por isso temos poucas pacientes que vão para a sala de cirurgia, não necessariamente uma coisa guarda relação com a outra”, diz.
Para os pais que crianças transgêneros, o conselho do especialista é que a família encaminhe o paciente o quanto antes para um profissional da saúde mental, seja um psicólogo ou um psiquiatra. “Ele precisa conversar com essa criança e acompanhar o desenvolvimento para afirmar o diagnóstico de identidade de gênero e transsexualidade”, explica.
O próximo passo é a intervenção de um endocrinologista, que deve decidir o melhor momento para entrar com a terapia hormonal. Segundo as normas do Conselho Federal de Medicina (CFM), a idade mínima para para o início da transição é de 16 anos. “A cirurgia deve ser pensada só depois dos 18 anos, mesmo que muitos pais comecem a trazer os filhos desde os 15, para tomarem conhecimento do tratamento e se planejarem financeiramente”, conclui o Dr. José Carlos.
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