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Resiliência: saiba a importância de estimular essa habilidade no seu filho desde cedo

A resiliência é uma habilidade fundamental para todos no século XXI - Shutterstock
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Publicado em 19/06/2021, às 10h25 - Atualizado em 30/08/2021, às 12h41 por Yulia Serra, Editora de conteúdo especializado | Filha de Suzimar e Leopoldo


Resiliência. Quantas vezes você já escutou essa palavra nos últimos tempos? “É preciso ser resiliente”, “Quem tem resiliência está mais capacitado para lidar com os desafios da vida”. É fato que esse termo está na moda e ganhou ainda mais força durante o período de quarentena por conta da pandemia do coronavírus. Mas afinal, você sabe o real significado dessa palavra? É importante começar explicando que ela vai muito além de um conceito, mas é um hábito, um exercício constante e diário.

A resiliência é uma habilidade fundamental para todos no século XXI (Foto: Shutterstock)

Nas definições do dicionário, é possível encontrar explicações como “propriedade dos corpos que voltam à sua forma original, depois de terem sofrido deformação ou choque”, “capacidade de rápida adaptação ou recuperação” e “capacidade de superar, de recuperar de adversidades”. Daniella Freixo de Faria, psicóloga, mãe de Maria Luisa e Maria Eduarda, resume em duas frases: “A resiliência é a capacidade da pessoa em lidar com a realidade com flexibilidade. Uma pessoa resiliente tem recursos para se ajustar à realidade que se apresenta”.

A especialista explica que essa habilidade permite interagir e viver de forma responsável por suas atitudes. E é assim que se educa para a vida, que nunca é demais lembrar, não é uma continuação dos desejos e planos pessoais. A parentalidade em si é uma área bastante idealizada, principalmente em relação à maternidade, porém é necessário quebrar esses estereótipos e encarar a vida como ela é. “Na vulnerabilidade que podemos aprender juntos e convidar as crianças a sua responsabilidade e ao aprendizado. A melhor forma de estimularmos a inteligência emocional é sermos reais com nossos filhos”, defende.

Nesse contexto, o acolhimento é uma peça chave. E ele não significa resolver a questão pela criança ou fazê-la parar de chorar, muito pelo contrário, a psicóloga pontua que isso acontece quando você escuta e valida os sentimentos dela, afirmando que está junto dela sempre. Dessa forma, seu filho não se sentirá errado por se sentir daquela maneira e estará à vontade para pedir ajuda quando necessário. “Nesse aprendizado de todo dia, o futuro que tanto gera preocupação não estará mais dependente da garantia do adulto e, sim, sendo construído pelo bom plantio de todo dia da própria criança”.

Aqui e agora

Bianca Solléro, psicóloga, arte-educadora e arteterapeuta, autora do livro “Pare de perguntar o que seu filho vai ser”, mãe de Elisa e Filipe, também entende que esse é um estilo de vida mais leve para toda a família e conta: “É mais importante falar de si do que interpretar as emoções das crianças para elas. Ou seja, é mais didático dizer ‘eu sinto ciúmes quando…’ do que nomear para a criança que ‘ela sente ciúmes quando…’”. A especialista compreende a resiliência como fundamental para viver de forma saudável e apoia que seja abordada o quanto antes.

“Ensinar esta habilidade na infância faz toda diferença, pois é neste período que temos uma maior plasticidade cerebral, ou seja, quando existe maior capacidade de apreender estímulos e experiências”, justifica. Buscar a resiliência é romper barreiras e foi justamente o rompimento de uma que trouxe esse discurso tão forte em 2020 e 2021, segundo Bianca. “No antigo contexto (ou ‘antigo-normal’), nos era possível viver num modo mais automático e, talvez por isso, a resiliência não nos cutucava tanto quanto agora. A pandemia forçou a todos uma mudança estrondosa no modo de viver, conviver e produzir. A resiliência é o que permite às pessoas se adaptarem a este novo contexto com realismo e esperança, sem negar fatos evidentes”, coloca.

Esse período escancarou a fragilidade e ao mesmo tempo prepotência frente à vida e segue sendo um convite a humildade de refletir e aprender com essa situação. Sendo assim, fica ainda mais evidente a necessidade dos pais serem os exemplos. Não, nada de perfeição, o que seu filho realmente precisa é de realidade, que envolve demonstrar que, às vezes, está triste, com raiva, cansado, assim como feliz e empolgado em outras. “Pais ou mães apáticos apresentam um ideal frustrante do que é ‘ser adulto’”, expõe a arte-educadora.

A cantora, compositora, atriz e colunista da Pais&Filhos, Negra Li, mãe de Sofia e Noah, também enxerga dessa forma e disse que o isolamento trouxe um ponto a mais: “Não temos fuga, não temos pra onde correr. Muitas vezes quando passamos por algum desafio, recorremos a uma visita na casa de amigos, bar, cinema, que são válvulas de escape. Nesta situação, estamos ‘presos’, limitados e temos que buscar artifícios dentro de nós mesmos”. Aline Barbosa, mãe solo de Laura, Vicente, Joaquim e Antônia, professora, e criadora de conteúdo digital no perfil @maecrespa, reforça esse ponto de vista ao procurar se manter positiva diante de tudo que está acontecendo, mas garante: “Pode parecer em um primeiro momento que não há solução, mas, se não há, podemos criá-la”. Segundo ela, a empatia é fundamental para se colocar no lugar do outro e regar o amor pelo próximo diariamente. As cobranças existem e, na grande maioria, vem de si mesma, porém é necessário entender que as frustrações fazem parte do caminho, e isso, desde pequenos.

Vivendo intensamente

O psicanalista, professor Titular em Psicanálise e Psicopatologia do Instituto de Psicologia da USP, Christian Dunker, pai de Nathalia e Mathias, entende que a rotina do dia a dia já traz diversas oportunidades para ensinar às crianças sobre resiliência. Vale se questionar: qual a sua reação ao ser contrariado? Grita? Fica nervoso? Ou reage de forma a transformar uma reação em ação? É essa a história que você irá transmitir para o seu filho. “É preciso tempo, em que a gente se deixa afetar e quanto mais profundamente e qualitativamente você se afeta, melhor é a qualidade da tua resposta em termos de emoção e sentimento, porque você pode se dedicar às qualidades mais complexas que estão te afetando e portanto mandar uma resposta mais específica”, assegura.

Não é uma corrida de quem chega mais rápido. É um processo, então se permita sentir o que estiver aí. E não tente esconder do seu filho esse sentimento, assim ele também irá reconhecer quando acontecer com ele. É comum que os pais tentem evitar certos afetos nas crianças, de acordo com Christian, mas todos os afetos precisam ser vividos em profundidade. Aquela grande derrota é essencial para o aprendizado. “Nesse momento, é importante que os pais ajudem ela a interpretar o que aconteceu e que seja de preferência interpretações complexas e inteligentes. Não que qualifiquem como: você é burra, ou a culpa é sua. Mas uma resposta de análise da situação que busque a excelência, que busque olhar para aquilo que não pôde ser visto ou reconhecer fatores imponderáveis, como levou azar. Tudo isso vai fortalecendo a resiliência, principalmente quando a derrota não é associada com uma dimensão moral bruta, quando a derrota não fala de quem você é, mas de como você jogou, de como você fez”, comenta.

A pandemia só deixou ainda mais evidente a necessidade de estimularmos os filhos a serem resilientes (Foto: Shutterstock)

Pessoas mais resilientes são mais capazes de resistir e aproveitar produtivamente mudanças tanto positivas quanto negativas e esse é um fator imprescindível para a inteligência emocional. “É uma condição para proteção da saúde mental”, completa. Escutar a si mesmo é o primeiro passo para escutar os outros e é preciso saber lidar com as próprias questões internamente. Tatiane de Sá Manduca, psicóloga clínica e autora do livro “Valida-te”, mãe de Mateus, declara: “Nós, adultos, temos certa dificuldade de frustrar a criança diante de impossibilidades. Isso faz com que ela não crie uma narrativa própria para lidar com perdas e falhas, que são tão comuns à vida.

Perder faz parte! Ganhar também! E sustentar a confiança que nem sempre ela triunfará faz parte para o amadurecimento psíquico”. A dor existe, mas não devemos estar presos a ela, é necessário se reinventar e a psicóloga menciona que isso só é possível vivenciando o sentimento e legitimando-o.

Hoje e para sempre

Beto Bigatti, pai de Gianluca e Stefano, colunista e embaixador da Pais&Filhos, autor do livro “PAI MALA, relatos sinceros de afeto, vínculos e imperfeições que não estão nos manuais”, entende que resiliência é a essência da pandemia: “Reconhecer nossa fragilidade ao olhar para dentro de si é o primeiro passo para entendermos este momento. E conseguirmos olhar para frente”, porém complementa que essa habilidade vai muito além desse período: “Saber se adaptar às dificuldades e ao que elas causam em nós é uma questão de sobrevivência”.

Já Nanna Pretto, mãe de Gabriel, Rafael e Luisa, jornalista, colunista e embaixadora da Pais&Filhos, viveu isso na prática ao engravidar ano passado. “Descobri em abril, nós já estávamos em isolamento e tivemos que mudar muitas regras de convivência em casa, porque não tínhamos resposta do que era uma gravidez na pandemia”. Ela também menciona a adaptação às aulas online como um exercício prático de resiliência. Apesar dos desafios, Nanna tira uma lição dessa fase: “A gente tem aprendido muito que tem coisas que fogem do nosso controle, que existem coisas que são maiores e mais fortes que a nossa vontade, e muitas vezes a gente precisa abrir mão daquilo que a gente quer por um bem maior. Talvez eu não ensinasse isso tão cedo para os meus filhos se a gente não entrasse na pandemia”.

Silvia Lobo, psicóloga e psicanalista, autora do livro “Mães que fazem mal”, mãe de Adriana, Suzana e Maurício, pontua que ensinamos as crianças a serem resilientes aguardando o ritmo que cada uma tem para realizar os desafios de crescimento pessoal. “Ser resiliente é sempre difícil, em pandemia ou não. Implica em aceitar a postergação dos desejos, dos prazeres, custa”, porém traz inúmeros ganhos: “Conquistar a capacidade de resistir às dificuldades e adiamento de prazeres aparece no sentimento de ter sido apto a resistir, vencer a pressão interior, sentir-se capaz de dominar essa força que nos habita e nos torna reféns”.

Para ela, a checagem de êxito da família no uso da resiliência pode ser feita na aferição da harmonia, sinceridade e respeito dentro de casa. Diferentemente dos termos como quarentena, distanciamento e isolamento social, a resiliência continuará sendo importante quando tudo isso acabar, porque, sim, vai acabar. Em 2020, a resiliência se tornou uma qualidade praticamente imposta e obrigatória para todos, e é ela que irá nos permitir seguir adiante neste ano e nos próximos que virão.

Na prática

Confira algumas dicas para a família propagar a resiliência na rotina a partir de hoje! Lembrando que exemplo é tudo

  • Converse sempre e muito com seu filho
  • Faça perguntas para todos, como “o que aprendemos com as falhas e erros e como podemos agir amanhã para não cairmos no mesmo lugar?”
  • Não julgue o que seu filho está sentindo
  • Acolha os sentimentos, permita que seu filho se expresse
  • Utilize livros, filmes e jogos para introduzir esse tema em casa
  • Peça ajuda quando precisar, seja de amigos, familiares ou profissionais especializados

Corrente do bem

Oito pilares vitais que estruturam a resiliência de acordo com a Sociedade Brasileira de Resiliência (SOBRARE)

  • 1. OTIMISMO: “é a capacidade que temos de enxergar a vida com esperança, alegria e sonhos. É a maturidade de controlar o destino da vida, mesmo quando o poder de decisão está fora de nossas mãos”
  • 2. AUTOCONFIANÇA: “essa é a capacidade de ter convicção de ser eficaz nas ações propostas”
  • 3. SENTIDO DE VIDA: “é ter a capacidade de entendimento de um propósito vital de vida. Promove um enriquecimento do valor da vida, fortalecendo e capacitando a pessoa a preservar sua vida ao máximo”
  • 4. ANÁLISE DO CONTEXTO: “é a capacidade que a pessoa tem de analisar quais são as pistas e identificar os sinais que estão presentes no ambiente, de fazer a análise adequada dos riscos e dos fatores de proteção”
  • 5. LEITURA CORPORAL: “é a capacidade de ler e organizar o nosso sistema nervoso/muscular. Essa capacidade de fazer uma leitura interna e se dar conta do que está acontecendo e se administrar”
  • 6. AUTOCONTROLE: “é a capacidade que uma pessoa adquire em se controlar emocionalmente e fazer a gestão de suas próprias emoções”
  • 7. CONQUISTAR E MANTER PESSOAS: “é a habilidade que a pessoa tem em trazer outra pessoa para perto de si e não só trazer, mas manter essa outra pessoa junta”
  • 8. EMPATIA: “essa área da vida organiza a capacidade de ter uma comunicação com outra pessoa, é olhar para o outro e emitir uma mensagem para ele de tal modo que o outro responda com reciprocidade”

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