Família

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Publicado em 15/04/2011, às 14h26 por Redação Pais&Filhos


Que a família encolheu, a gente sabe faz um tempo. Mas só saca o que significa de verdade essa diminuição assim que tem filho, olha em volta e percebe que não tem ninguém por perto para dividir as coisas difíceis, compartilhar as bacanas

Por Michaela von Schmaedel, mãe de Manuela, Lorena e Jorge

Só quem já teve um bebê que não pára de chorar de cólica sabe a dádiva que é uma avó ou uma tia chegar e dizer: “Eu cuido dela para você, vai descansar!”. Cada vez mais essa frase soa como algo do século passado.

Aquele modelo familiar, em que os parentes se revezavam nos cuidados com o recém-nascido, seja para poupar a mãe, seja porque é gostoso mesmo receber um novo membro do clã, está mais raro, principalmente, nas classes médias e altas. Lembra da música Família, dos Titãs?: “Papai, mamãe, titia, família, família. Almoça junto todo dia, nunca perde essa mania. Família, família, vovô, vovó, sobrinha. Família, família. Janta junto todo dia. Nunca perde essa mania.” É de 1986, do CD Cabeça Dinossauro. E, para muita gente, soa como uma espécie de fóssil mesmo. Almoçar junto todo dia? Quem é que consegue? Fala sério!

A família encolheu e esgarçou e estamos sentindo os efeitos disso. Se por um lado escapamos de alguns conflitos, como os palpites da sogra ou da própria mãe na criação dos filhos, também nos privamos de muita coisa boa. “O que está acontecendo não é uma destruição da família, mas uma transformação. Hoje, pais, avós e tios estão cada vez mais envolvidos com suas vidas profissionais e sociais. E as crianças ficam em escolas e com babás quase em período integral. Isso faz desaparecer costumes, reuniões entre parentes, trocas de experiências. Vemos cada vez mais surgir a família de modelo nuclear, ou seja, que é composta apenas por pais e filhos”, diz a psicóloga paulista ângela Clara Corrêa, mãe de Vinicius. Isso quando há dois pais. Muitas vezes, a família se compõe de um adulto e uma criança. E ponto.

E essa família pequena, por melhor que seja, fica carente de laços afetivos. A criança não escuta mais as histórias antigas dos avós, não recebe o carinho daquela tia que sabe exatamente do que o sobrinho gosta, não convive com primos e primas.

Enfim, fica sem outras referências importantes em sua vida. “É duro admitir, mas mesmo morando na mesma cidade, meu filho de 4 anos quase não vê os avós, tios e primos. É que todo mundo trabalha e tem horários diferentes. Só nos encontramos mesmo em datas bem familiares como Natal ou festas de aniversário”, conta a publicitária paulista Maria Tereza Gomes, 34 anos, mãe de Patrick.

Nem sempre é por falta de tentar uma aproximação. “De vez em quando, procuro deixar meu filho na casa da minha mãe, para fortalecer o vínculo entre eles e para eu descansar um pouco. Mas logo ela me telefona e diz para eu buscá-lo porque ele está impaciente, chorando, sem saber o que fazer ali”, conta.

Questão de identidade

Ainda não há estudos específicos que comprovem, mas psicólogos e psicanalistas acreditam que, quanto menos vínculos familiares a criança tem, mais difícil será para ela construir sua própria identidade. Isso porque a família nos dá a noção de origem, de pertencimento. Saber o que o avô fazia, do que a mãe gostava de comer, a história de objetos antigos, recordar histórias olhando fotos, tudo isso mostra para a criança de onde ela vem, de que grupo faz parte. Para a psicoterapeuta Maria Lúcia Paiva, mãe de Julia e Luiza, os pequenos hoje estão rodeados de vínculos temporários.

“Na escola, troca-se de classe, de professores, de amiguinhos a toda hora. Em casa, troca-se de babás, de empregadas etc. Parece que tudo é descartável. A família faz esse contraponto, mostra para a criança que existem vínculos que são para sempre, sendo eles bons ou ruins. Um neto que tem contato com o avô percebe bem a noção de geração, do que é passado para frente, de continuidade. E isso é muito importante para que a criança no futuro não sinta um vazio, uma falta de identidade”, explica.

A importância de tios e primos na vida da criança é enorme, mas o papel dos avós é ainda mais forte. “Sua maior importância reside no registro simbólico: afinal, os avós são os únicos que teriam o poder de impor silêncio e respeito aos poderosos pais das crianças, os únicos que guardam registros de atos e artes desses personagens, os únicos a lembrar que um dia eles também foram crianças”, escrevem a psicóloga Lídia Aratangy e o pediatra Leonardo Posternak, no delicioso Livro dos Avós – Na Casa dos Avós é Sempre Domingo? (ed. Artemeios).

E não importa se eles estão presentes fisicamente ou não. As histórias sempre podem ser lembradas pelos pais, que também podem mostrar as fotos antigas, contar coisas engraçadas e também fatos tristes. “Já reparei que minha filha Clara, de 5 anos, adora quando eu conto o que fazia quando era pequena, como meus pais me colocavam para dormir, etc. Ela sempre pede: “Mãe, conta como a vovó fazia você comer legumes! Passamos horas falando sobre hábitos e parentes antigos, nunca pensei que ela iria gostar disso”, diz Daniela Junqueira, 40 anos, empresária do Rio de Janeiro.

Além das conseqüências que o afastamento familiar pode provocar nas crianças, os pais também sofrem muito quando percebem que estão sozinhos com seus filhos. O psicanalista francês Bernard Golse, chefe do serviço de psiquiatria do Hospital Saint Vincent de Paul, em Paris, e autor do livro Sobre a Psicoterapia Pais-Bebê: Narratividade, Filiação e Transmissão (ed. Casa do Psicólogo), acredita que uma das principais causas da depressão pós-parto é a falta de ajuda familiar. Se a mãe não puder dividir suas aflições, seus medos, com alguém e contar com uma ajuda efetiva da família no cuidado com o recém-nascido, as chances de ela desenvolver a doença crescem assustadoramente.

Depois, quando as crianças já estão maiores, a falta da família também pesa. “Combinar uma viagem a sós com o marido sabendo que meu filho ficará sob os cuidados da avó é ótimo. Mas, quando sei que ele vai ficar em casa, só com a babá, já desanimo totalmente. Eu já adiei umas três viagens por conta disso, se minha mãe ou sogra não pode ficar com a Julia, de 3 anos, prefiro ficar em casa e não ir viajar,” diz Juliana Dias, 35 anos, economista de São Paulo.

Claro que deixar os filhos com alguém da família é o ideal, mas é importante não criar um caso quando realmente não há ninguém disponível. Às vezes, é melhor deixar as crianças com uma babá bacana do que com uma avó que, naquele momento, não está a fim de ficar com os netos, seja por que motivo for (até a gente que é pai e mãe às vezes não está a fim de brincar com as crianças, normal…).

Alguns pai acabam mesmo abusando um pouco dos familiares que estão por perto. E aí os problemas e atritos começam. Não dá para exigir, por exemplo, que os avós eduquem os netos ou que os tios dêem broncas nos sobrinhos. São outros tipos de relações. E a educação é sempre obrigação dos pais numa família em que eles estão presentes. Em algumas famílias acontece de os avós terem uma importância fundamental na educação dos netos, quer por morarem perto, por ficarem tomando conta das crianças enquanto os pais não chegam do trabalho ou saem de férias etc.

Avós são pessoas de experiência, podem e devem ajudar, orientar e participar da educação das novas gerações da família à qual deram origem, mas não têm obrigações semelhantes às dos pais. Seu papel social é outro. Hoje é comum vermos avós de idade avançada, ainda atuando na vida profissional, lúcidos, viajando, aproveitando da sua aposentadoria como bem merecem. Querem dividir experiências com os netos, deixar-lhes boas lembranças. “Não devem mesmo assumir um lugar para o qual seus filhos têm muito mais condições de adotar: a de pais”, diz Maria Irene Maluf, Pedagoga, especialista em Psicopedagogia, Presidente Nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp).

A mesma coisa vale para tios e padrinhos. Eles são parte do universo familiar e têm grande importância para a formação da criança e sua socialização. Podem ser fontes de conhecimentos, de segurança, de orientação para os sobrinhos e afilhados. Mas os pais são soberanos na educação dos filhos. Mesmo que errem muito ou pouco, podem ser alertados, orientados, mas jamais desautorizados por parentes.

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Outras pessoas especiais

Mesmo quem tem a família morando longe, em outra cidade ou país, pode construir vínculos verdadeiros e duradouros com a criança.

Amigos próximos do casal, vizinhos de longa data, padrinhos, madrinhas, todas essas pessoas podem virar uma espécie de família, que a gente escolhe e constrói ao longo da vida. A criança, assim, vai perceber que há uma troca de experiências entre os adultos, aprender a respeitar outras opiniões e vai se sentir acolhida e querida entre essas pessoas. “Françoise Dolto, psicanalista francesa, assinalava que o ser humano tem uma capacidade extraordinária de sublimar a privação de quase tudo, desde que esta privação seja possível de ser exprimida para alguém que a ouça. A falta de vínculos familiares formais, ou biológicos, costuma ser compensada pela criação de vínculos afetivos substitutivos, com outros que a aceitem. Principalmente que a escutem”, explica o psiquiatra e psicanalista Catulo Cesar Pestana de Barros Magalhães, doutor em Ciências Médicas pela Unifesp, pai de Vinicíus, Dimitrius e Filipe.

O mais importante para que se estabeleçam vínculos duradouros para pais e filhos não é quantidade de pessoas que se tem em volta, mas a qualidade desse afeto. Uma babá pode ser ótima profissional (saber dar banho, fazer a papa, colocar para dormir), mas não passar afeição nenhuma. Outra, mais desleixada, pode ser melhor por criar vínculo com a criança, por ser mais espontânea e verdadeira. Os amiguinhos também merecem atenção especial.

Quando seu filho manifesta o desejo de encontrar um amigo específico, não é qualquer outro que serve. Se o amigo não puder, deixe a criança sentir falta, não coloque imediatamente outro no lugar. São elos verdadeiros e duradouros, histórias familiares, tradições, costumes que enriquecem a vida de uma criança – e de seus pais também – e que ajudam a criar a noção de que nem tudo é substituível, rápido, descartável. Avós, tios, cozinheiras antigas, amigas, primos, enfim, grandes laços podem durar para sempre e nos ajudam a criar – e a conhecer – nossa própria identidade.

Como aproximar a família

Os especialistas apontam algumas medidas que ajudam a trazer os parentes mais para perto:

  • Usar a Internet para se comunicar com tios, primos e avós. Hoje em dia existem câmeras, som, fotos digitais e email. Tudo isso pode ser uma ótima forma de fortalecer os vínculos com quem mora longe.
  • Marcar encontros familiares fora das datas clássicas como Natal e aniversários. Escolher um parente para fazer uma visitinha sem compromisso, só para botar o papo em dia.
  • Trocar ideias e experiências sobre educação. Pedir conselhos para a mãe, para a irmã mais velha que já tem filhos grandes e não se chatear com críticas sobre educação. Elas podem servir para você mudar – para melhor!
  • Anotar e lembrar de aniversários e datas importantes. Telefonar para parabenizar os parentes, essas coisas mostram que você se importa com eles.
  • Mostrar fotos antigas para seus filhos, contar histórias do que acontecia quando você era pequena, tudo isso faz com que avós falecidos fiquem presentes na cabeça e no coração dos mais novos.
  • Não entrar em confusões familiares e fofocas. É muito triste quando parentes brigam sério e deixam de se falar. Todos perdem com isso.

Outras formas de apoio

Além dos parentes e amigos, outras atitudes ajudam a fortalecer os vínculos do seu filho:

  • Procurar estabelecer vínculos com babás e empregadas e não trocar de funcionários toda hora.
  • Deixar a criança o máximo de tempo possível na mesma escola (se for boa, claro), para que tenha vínculos afetivos com os amigos e professores.
  • Ter sempre por perto seus grandes amigos – mesmo que sejam poucos. A criança estabelecerá, automaticamente, vínculo com eles também.
  • Na falta total de parentes e amigos próximos, quando a família mora em outro país, tente fortalecer os seus vínculos com a criança. Dar atenção focando o amor entre vocês.

A importância dos padrinhos

Na Igreja Católica, os padrinhos são escolhidos para substituir os pais caso algo lhes aconteça. Mas isso em tese.

A escolha hoje se dá mais pela afinidade entre os pais, por admiração, para selar uma grande amizade do que para uma substituição de fato. De todo jeito, a criança só vai ter vínculo com seus padrinhos se conviver de alguma forma com eles. Quanto mais próximos eles estiverem dela, sabendo o que acontece em sua vida, mais os vínculos vão se firmar.

O que não dá para exigir dos pequenos é que eles demonstrem grande carinho por pessoas estranhas. Portanto, é interessante manter os padrinhos mais próximos e presentes possíveis da criança para que ela perceba, num outro casal, outros modos de vida. E não fique só esperando o presente de aniversário ou de Natal que certamente ganhará deles.

Para saber mais

Livros que tratam das novas relações familiares

Vovó Luci – No Tempo dos Nossos Avós de Claude Clemént: A avó de Pedro era muito diferente: usava computador e lutava caratê, mas contava muitas histórias e o neto achava que ela era do tempo das cavernas. Com informações sobre a infância dos nossos avós. Ed. Scipione, R$ 15,50, www.scipione.com.br

O Livro da Família, de Todd Parr: Com ilustrações supercoloridas e frases curtas, o autor mostra que existem vários tipos de família: de várias cores, crenças, grandes, pequenas. Ed. Panda Books, R$ 25,90, www.pandabooks.com.br

Álbum de Família de Lino de Albergaria: Os avós se mudam para a casa da menina, que descobre um novo mundo por meio de histórias, fotografias e músicas revividas por eles. Edições SM, R$ 21, www.edicoessm.com.br

A Filha do Rei de Telma Guimarães Castro Andrade: Raquel não conhecia o pai. Sua mãe lhe diz que ela é filha de um rei que lhe faz todas as vontades. Um dia, a menina resolve ir conhecê-lo pessoalmente e saber por que ele não aparece. Edições SM, R$ 22, www.edicoessm.com.br

Uma Família Parecida com a da Gente de Rosa Amanda Strausz: Cada bicho tem uma família diferente. Nesse ponto, eles se parecem com a gente. O livro compara formas de organização familiar dos animais com as dos seres humanos. Ed. Ática, R$ 17,90, www.atica.com.br

Molecagens do Vovô de Márcio Trigo: Avô e neto são igualmente apaixonados pela vida e pelas brincadeiras de criança. Mas o restante da família não aceita o comportamento do vovô, que é o que mais apronta. Ed. Ática, R$ 17,90, www.atica.com.br

Simon – É Sábado. O que Vamos fazer Hoje? de Juliet Pomes Leiz: Filho de pais separados, Simon vai passar um fim de semana com o pai. No primeiro livro da série, Mamãe vai sair esta noite – a mãe sai com as amigas e Simon fica com um tio e se diverte muito.  Editora Francis, R$ 15,90, www.w11.com.br

A Família em Primeiro Lugar, de William Doherty e Barbara Carlson: O subtítulo resume bem a proposta do livro: estratégias bem-sucedidas para a recuperação da vida em família, num mundo cada vez mais apressado. Ed. Cultrix, R$ 26,50, www.pensamento-cultrix.com.br

O Livro dos Avós de Lídia Aratangy e Leonardo Posternak: Os autores discutem o papel dos avós na educação dos filhos. Ao apresentar diferentes modelos e expectativas sobre a função de avós, alguns dos quais até opostos aos estereótipos idealizados do papel, os autores oferecem estratégias que visam reduzir confrontos inúteis e diminuir a dor de conflitos inevitáveis. Ed. Artemeios, R$ 37,00.

Família – Modos de Usar de Julio Groppa Aquino e Rosely Sayão: O que é família hoje? Essa é a questão que perpassa todos s capítulos, em que os autores discutem onde buscar respostas às dúvidas que atormentam os pais em meio a tantas mudanças. Ed. Papirus, R$ 26, www.papirus.com.br

Criando Filhos Homens sem a Presença do Pai de Richard Broomsield: Quase dois terços das crianças que nascem são criadas pela mãe sem o apoio de um companheiro. Esse livro ajuda essas mulheres a lidar com a ausência do pai da melhor maneira. Um recurso é tirar partido da influência dois amigos homens. Ed. MBooks, R$ 39, www.mbooks.com.br

Guia das Famílias Felizes de John Irvine: O livro dedica um capítulo aos vários tipos de família: mães sozinhas, pais gays e mães lésbicas, pais de gêmeos, avós. Ed. Fundamento, R$ 34, www.editorafundamento.com.br


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