Publicado em 13/12/2013, às 15h06 - Atualizado em 24/06/2015, às 16h37 por Redação Pais&Filhos
Eu decidi que queria dar à luz pelo parto normal muito antes de engravidar. Sou dessas que pregam pelo fim da cesárea desnecessária. Logo na primeira consulta do meu pré-natal, falei para minha médica: ‘Doutora, eu quero parto normal e já te aviso que não vou aceitar conversa de última hora pra fazer cesárea’. O tom era de brincadeira, mas já queria deixar claro que seria irredutível. Ela falou assim: ‘Para um parto normal dar certo, você tem de querer muito. E querer até o final’. Eu só fui entender o quanto essa frase era verdadeira no dia que Mabi nasceu. De parto normal, sem anestesia, em um trabalho de parto que durou nove horas.
Quando a bolsa estourou, o clima em casa era de festa. As contrações não doíam nada e lá fomos nós dando risada pro consultório da minha médica. Ela me examinou, disse que ainda tinha um bom caminho pela frente e recebi a indicação de ir pra casa e voltar dali a três horas. Tomei banho, fiz escova no cabelo, fiz a mala… Pensava comigo: ‘Nossa, dor de contração é isso? Vou tirar de letra!’, porque sentia um incômodo, mas era suportável.
Quando fui ao consultório médico pela segunda vez, meu estado de espírito já era outro. O incômodo começava a me tirar o bom humor. Principalmente quando ela disse que a dilatação ainda era pouca, que eu teria algumas boas horas pela frente.
De lá fui pro hospital e pouco tempo depois recebi ocitocina, o hormônio pra estimular as contrações. E aí, sim, o bicho começou a pegar. As dores começaram a aumentar à medida que as contrações ficaram mais frequentes, até chegar ao ponto de eu expulsar todo mundo do quarto.
Comecei a sentir uma agonia por perceber que eu nunca tinha sentido algo assim. Não daquele jeito e não com aquela intensidade. E tudo o que é novo assusta. Pensava se estaria tudo bem e se estava certo a natureza ter criado um processo biológico assim tão dolorido.
Cada vez que minha médica vinha me ver, eu clamava por uma anestesia amiga. Mas, pela posição do bebê, uma anestesia poderia retardar ainda mais a passagem pelo canal, e ela me dizia que, se eu aguentasse, o melhor seria ir até o fim sem anestesia. Quando cheguei a um ponto que queria sumir, o cabelinho da Mabi começou a despontar. E aí, quando você acha que dessa vez vai desfalecer, vem uma contração fortíssima, você faz força, força, força e puf! Sai a cabecinha. E na próxima sai o restante do corpinho. Aí acabou! Depois disso, é só festa.
Hoje, um ano e meio depois do nascimento da Mabi, consigo pensar nessas horas como uma grande e enriquecedora experiência de vida. Dolorosa, difícil, demorada… mas também muito bonita. É verdade que você tem que querer muito o parto normal. Não fosse por minha vontade e convicção, talvez tivesse desistido antes mesmo da metade. Estou grávida de oito meses do segundo filho e quero tudo outra vez. Parto normal, de preferência com anestesia. Mas se tiver de ser sem, tudo bem. Sei que vai ser duro, mas é uma dor que termina – exatamente no momento em que um bebezinho chega ao mundo.”
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